Login do usuário

Aramis

Lyra, a bossa que fica

Quatro anos após ter feito sua primeira temporada em Curitiba (Teatro do Paiol, 17 a 19 de março de 1973), Carlos Lyra, 41 anos, um dos principais nomes da Bossa Nova, retorna no mesmo teatro, para um espetáculo da maior importância a quem se interessa em conhecer a nossa musica popular (hoje, 21 horas, última apresentação). Os longos anos que passou no Exterior - de 1963 a 1967, viajando com Stan Getz a morando em Los Angeles, não retiraram de Lyra, a extrema brasilidade e consciência - o que o faz um dos mais rigorosa compositores, incapaz de apresentar uma música que não considere absolutamente a altura. Graça a isso, seu imenso repertório é constituído de músicas de ótima qualidade e as obras-primas de um poeta como Vinícius de Moraes - como "Primavera", "Minha Namorada" e "Marcha da Quarta de Cinzas", pertencem a fase em que o poeta desenvolveu com ele um dos mais produtivos trabalhos musicais (1961/63). Com o violão, que domina como virtuoso (afinal, foi professor de muitos nomes que surgiram na fase da Bossa Nova), uma envolvente simpátia e raciocinio que lhe permite substituir o intervalo por um produtivo diálogo com o público Carlos Lyra oferece um espetáculo dinâmico embalado em momentos perfeitos de sua obra musical, que vai sendo apresentada informalmente, sem um roteiro pré-estabelecido. Nesta sua primeira temporada regular, desde o seu retorno ao Brasil (novembro/76) - anteriormente só fez uma única noite no Teatro Opinião - Carlos Lyra demonstra a perfeita lucidez musical, que faz, acrescentar a cada uma de suas canções, uma aproximação ao momento em que a mesma nasceu - dando, assim, ao seu espetáculo, um extraordinário sentido diatico. Ouvir Carlos Lyra, não é nostalgia para a geração que aprendeu a amar a MPB através da Bossa Nova. É, isso sim, entender um dos mais importantes artistas brasileiros - que sem preocupações mercantilistas, sem pressa, sem consessões, como um operário em construção faz uma obra cuja importância o tempo confirmará. Pena, que no momento, poucos saibam admirá-lo como merece- neste nossos dias em que os jovens preferem as ensurdecedoras guitarras elétricas das multinacionais alienantes com mais supérfluo som pop.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
15/05/1977

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br