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Aramis

"Ma Che Bambina", uma anarquia inteligente

Gramado - Um anárquico, ativo mas inteligente curta-metragem inspirado livremente em Adoniran Barbosa - "Ma Che Bambina" de Antônio Santos Cecílio Neto, 33 anos - foi, para muitos dos jornalistas e críticos aqui presentes, o momento mais interessante da noite de abertura do XIV Festival do Cinema Brasileiro de Gramado. Engenheiro civil que há 3 anos associou-se a Guilherme de Almeida Prado na produção executiva de "A Flor do Desejo", filme que disputou o Festival de Gramado há 2 anos, A.S. Cecílio confessa que pretendeu em seu curta-metragem realizar uma homenagem livre e descompromissada à figura do autor de "Saudosa Maloca". Não é um curta biográfico ou linear sobre este compositor tipicamente paulista. Ao contrário, é debochado, irônico - mas extremamente bem humorado - ao misturar em imagens coloridas uma visão fragmentada de Adoniran e sua música, além de uma seqüência (vista na televisão) em que Adoniran aparecia como ator no clássico "O Cangaceiro" (1953), de Lima Barreto, um dos filmes que o compositor paulista fez nos anos 50. Falando sobre "Ma Che Bambina", Cecílio diz: - Nunca vi Adoniran ao vivo. Em compensação, guardei, de minha infância, sua presença na "Praça da Alegria", em programas de rádio, das músicas - enfim de todo um estilo muito particular. Se A.S. Cecílio homenageou Adoniran Barbosa em seu curta-metragem, o cineasta Ivan Cardoso continua a curtir o cinema de terror, os "film noir" dos anos 40 e principalmente as chanchadas da Atlântida da década de 50. Uma geléia geral e tudo isto está em "As Sete Vampiras", comédia debochada, cujo elenco reúne desde veteranos dos anos 50 - como Zezé Macedo (aplaudida de pé, ao ser chamada ao palco na noite de segunda-feira), Ivon Curi (que voltou a fazer um filme após 27 anos), Wilson Grey (em seu 203º filme, um recorde internacional), Cole e John Herbert - até Leo Jaime, o roqueiro dos miquinhos amestrados, surpreendentemente numa razoável interpretação. Mas a grande presença desta comédia da Ilha Terrir (terror mais rir) é do curitibano Ariel Coelho, como um botânico amalucado que é devorado por uma planta carnívora logo no início da fita. Ator que vem se destacando cada vez mais por seu tipo marcante, vampiresco (começou em 1980, em "Drácula", dirigido pelo falecido Antônio Carlos Kraide), Ariel Coelho não veio a Gramado. Embora o diretor Ivan Cardoso tenha conseguido várias passagens para trazer tanto as novas atrizes que apresenta em seu filme como os veteranos Zezé, Cole e Wilson Grey, Ariel não foi incluído na delegação. Repleto de citações e homenagens - a abertura traz inclusive uma imagem de Alfred Hitchcock (há um detetive particular chamado Raimundo Marlou, clara referência a Philip Marlowe Private Eyes dos romances de Raymond Chandler) - as mortes são recriações debochadas de vários clássicos de terror - todo o clima de chanchada de "As Sete Vampiras" foi assumido por Ivan Cardoso, que já em seu filme anterior - "O Segredo da Múmia" (premiado no festival de 1982), havia mostrado sua curtição pelo cinema de terror, em preto e branco, dos anos 40 e 50. Entretanto, apesar do elenco divertido e alguns bons momentos, "As Sete Vampiras" acaba cansando após algum tempo e dificilmente chegará entre os premiados neste festival. Paralelamente aos curtas e longas nacionais, estão também em competição os curtas gaúchos - que merecem uma premiação especial. O primeiro curta gaúcho, mostrado na segunda-feira, foi decepcionante. "Apenas Mais Um", de Márcia Lara, jovem de Caxias do Sul, parece um super 8 dos anos 60, tal seu nível amadorístico.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
10/04/1986

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