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Aramis

Madonna na cama com a lua na sargeta estão na cidade

Cinco estréias - das quais apenas duas de maior significado - nesta semana. Para o público jovem, a atração maior é o documentário "Na Cama com Madonna" de Alek Keshishian (Lido II), que foi levado ao último festival de Cannes, com exibição hors-concours - com a presença da própria superstar, Já "A Lua na Sarjeta" (La Lune Dans Le Caniveau), chega com atraso de oito anos (sua estréia, em Paris, foi a 18 de maio de 1983), embalada no sucesso dos filmes que o diretor Jean-Jacques Beineix fez posteriormente - especialmente "Betty Blue" e "Rosalye e os Leões". No cine Guarani, retorna "Ata-me", de Pedro Almodovar. Para a garotada, além dos "Trapalhões e a "Árvore da Juventude" (Plaza), "Robin Hood, o Príncipe dos Ladrões", de Kevin Costner) (São João), a reprise de "Esqueceram de Mim" (Itália), chega "Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus" (Astor, à tarde), novo desenho animado dos estúdios Disney. Já para quem se disponha a fazer verificações de filmes que pouco prometem, no Plaza - somente nas 20 e 22h - "Um homem a prova de balas" (Bulleproof), do Steve Carver e que tem apenas um nome conhecido no elenco: o coadjuvante Henry Silva, desde o início dos anos 50 especialista em fazer "bad guy" em westerns e policiais. Madonna - Estreando em 31 cinemas do Brasil, o documentário "Na Cama com Madonna" não deve ser visto preconceituosamente por quem não se liga à superstar pop, famosa pelo erotismo e escândalos que cercam sua fulgurante carreira. Como muitos outros cineastas que se voltaram a registrar o cotidiano das estrelas, Alek Keshishian filmou dezenas de horas para, no final, extrair a metragem normal capaz de mostrar Madonna com um, anunciado, "realismo". Afinal, entre números musicais, rodados em cor, há o documental, em preto-e-branco, flagrado durante a penúltima excursão mundial da cantora e seu séquito - e, em longas declarações, ela fala de lesbianismo, elogia os homossexuais, simula sexo oral com uma garrafa de água mineral Vichy e até tem o lado familiar - telefonando ao seu pai e cantando parabéns, além de visitar o túmulo da mãe. Para a realização de um documentário íntimo como este, só mesmo existindo uma profunda amizade do realizador e do artista enfocado. É o caso de Alex Keshishian, 26 anos, que teve sua formação dirigindo videoclips de artistas como Elton John e outros pouco conhecidos entre nós Bobby Brown, Vanessa Willians, Eddie Brickell etc.). Na filmografia documental de ídolos da música pop - surgidos a partir dos anos 60 (e os referenciais filmes-registros de Elvis Presley, este precursor do gênero na década de 50) já existem trabalhos que merecem atenção, inclusive o recente "Imagine", que constituiu, com extrema dignidade, a trajetória dos Beatles. Keshishian, com amplos recursos, pôde acompanhar sua amiga Madonna por vários países, flagrá-la em instantes íntimos e produzir um material merecedor de atenção. No Brasil, com exceção de Tom Azulay ("Os Doces Bárbaros", 76; "Corações a Mil", 82), poucas tentativas foram feitas. Por exemplo, como teria sido importante se as muitas excursões de Vinícius de Moraes e Toquinho no chamado circuito Universitário tivessem sido documentadas! A Lua na sarjeta foi rodado por Jean-Jacques Beineix em 1982, logo após da estréia de "Diva" (já visto no mesmo Cine Groff), que lhe abriu as portas do sucesso (seu primeiro filme, o episódio "le Chien de Monsieur Michael", 76, nunca chegou a ser exibido fora da Europa). Baseado num romance de David Goodis e contando com um bom elenco - Gerard Depardieu (na época, ainda sem a fama que hoje desfruta), a belíssima Nastassia Kinski e Victoria Abril, Beineix colocou neste filme os [personagens] marginalizados - uma preocupação que vem marcando sua obra - numa história noir, envolvendo suicídios, vinganças e assassinatos. Segundo a crítica francesa, Beineix conseguiu transpor à tela "o ambiente de sordidez, da especulação e dos mitos do bas fond que [caracteriza] a obra de Goodis" - um escritor ainda pouco conhecido no Brasil. A fotografia de Philippe Rousselot e especialmente, a excelente trilha sonora de Gabriel Yared, valorizam este filme que sem alcançar a categoria de cult - como viria a ocorrer com sua obra seguinte ("Betty Blue", com Béatrice Dalle), alcança uma faixa especial de público. Espera-se que permaneça ao menos duas semanas no Groff, onde o excelente "As Aventuras de Tom Jones" de Tony Richardson foi criminosamente ceifado em sua primeira semana. Afinal, a comédia que recebeu oscars em 1963 e esteve entre as grandes bilheterias há 27 anos, mereceria ter ficado mais alguns dias em exibição. Nota No Astor, nas sessões das 20 e 22h, está sendo lançado outro filme sem referências: "Noites Violentas no Brooklin" (Last Exit to Brooklyn), de Uli Edel (?) com Stephen Lang, Jennifer Jason Leight e Burt Young.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
17
19/07/1991

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