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Aramis

Mais duas grandes estréias: "Wall Street" e "Esperança e Glória"

Publicitário premiado, homem de grandes idéias e um animador cultural nato, Sérgio Mercer, 48 anos, ex-presidente da Fundação Cultural (Ah! Bons tempos em que a instituição funcionava sem ódios e perseguições...), tem uma boa sugestão para Aleixo Zonari, o big-boss da Fama: por que não criar sessões a partir do meio dia para alguns cinemas que exibem filmes de grande atração? Mercer, homem que sabe das coisas de marketing e promoção (e que fez da Parceria, uma das mais bem sucedidas agências da cidade) tem planos para desenvolver uma campanha capaz de lotar as sessões do meio dia com um público ocioso, que, estaria disposto a aproveitar a hora do almoço para ver filmes que, por razões, não pode assistir nas sessões tradicionais. Mercer acredita tanto nesta faixa de público que se propõe a, graciosamente, desenvolver uma campanha promocional. E realmente, é necessário criar horários alternativos, pois há semanas em que as programações se multiplicam e falta tempo para ver os bons filmes em exibição. Por exemplo, com espetáculos no auditório da Reitoria (como a comédia "Delícias de um Descasado" neste fim de semana), Guaíra (a temporada de "Dança da Meia Lua" e, na próxima semana, as duas imperdíveis apresentações do ballet de Antônio Gades, astro da trilogia de filmes-ballet de Carlos Saura), é preciso se programar para ver os bons filmes em cartaz - sejam os que já se vem mantendo em exibição há semanas ("Império do Sol", agora só no Cinema I; "O Último Imperador", no Bristol; o canalha "Atração Fatal", no Lido I), sejam os que chegam. Nesta semana, mais dois Oscarizáveis aterrissaram na cidade: o emotivo, belíssimo, "Amarcodiano" "Esperança e Glória" de John Boorman, (Astor, desde ontem) e "Wall Street - Poder e Cobiça", de Oliver Stone (Plaza). Entre as reprises, temos "Patriamada", de Tizuka Yamasaki (Luz), "Primeiras Carícias" (que continua no Groff) e, especialmente, o retorno de "Veludo Azul", cult-movie, direção de David Lynch ("O Homem Elefante", "Dunne"), e que foi dos mais valorizados do ano passado. Um filme-noir que se transformou em cult-movie, promovendo inclusive a belíssima trilha sonora de Angelo Badalamenti (editada no Brasil pela SBK Songs), entre as mais conhecidas. AMARCORD INGLÊS Desde a primeira visão de "Esperança e Glória" (Hope and Glory), do inglês John Boorman ("A Sangue Frio", "Zardoz", "A Floresta das Esmeraldas", "Excalibur"), durante o IV FestRio (novembro/87), o encanto por este filme belíssimo só aumenta. Indicado a seis categorias do Oscar - inclusive direção e melhor filme - sofreu a injustiça de não ter sido premiado em nenhuma delas. Emotiva e particularmente, é o nosso filme favorito entre filmes oscarizáveis da safra 87/88 e, por certo, deverá chegar ao grande público que sabe apreciar obras que falam ao coração. Trazendo as memórias de infância do próprio Boorman - através de seu alter-ego Bill (Sebastian Rice Edwards, uma grata revelação), "Hope and Glory" tem sido comparado a "Amarcord", de Fellini. Bendita influência, motivo para aplausos e não de críticas negativas! Com uma linguagem poética, bem humorada, Boorman consegue reconstituir os problemas de uma família inglesa, com o pai, Clive (David Hayman) tem que servir na guerra, e com a mãe, Grace (Sarah Miles) segurando a barra da família, mas sem cair no dramalhão. Ao contrário, assiste-se a este filme com um sorriso nos lábios, muita emoção e lágrimas que chegam ao final - tudo embalado pela trilha perfeita de Peter Martin, para nós, até agora, a melhor do ano (e já editada no Brasil pela SBK Songs, num elepê indispensável para quem coleciona sound tracks). CANALHAS DA BOLSA Depois de fazer uma visceral análise de guerra do Vietnã em "Platoon", o grande premiado no ano passado, Oliver Stone voltou seu olhar crítico e corajoso (ele que, anteriormente, já havia realizado o excelente "El Salvador") sobre outra guerra suja, esta a dos canalhas yuppies da Bolsa de Valores de Nova Iorque. A estréia do "Wall Street - Poder e Cobiça" nos EUA coincidiu com a grande queda ocorrida na Bolsa, no final do ano passado - quase que como uma homenagem ao seu pai (vítima das jogadas da Bolsa) ganhou extraordinária atualidade e também algumas indicações ao Oscar. Saiu apenas com o Oscar de melhor ator para Michael Douglas - merecidamente, ao que consta, por sua interpretação de Gordon Gekko, em cujas tramóias inspira-se um candidato a yuppie, Bud Fox (Charlis Sheen). No elenco, a bela Daryl Hannah, Martin Stampo, mais Hal Holbrook, Sean Young (vista já em "Blade Runner" (reprisado há 2 semanas, no Luz) e "Sem Saída" (um filme que mereceria ser relançado em alguma das salas da Fucucu). Em algumas entrevistas, Stone lembrou dois filmes que o inspiraram em fazer "Wall Street": "Um Homem de Dez Destinos" (Executive Suite) e "A Embriaguez do Sucesso" (Sweet Smell of Sucess), especialmente este segundo, dirigido por Alexandre MacKendrick, há 31 anos, denunciando a sujeira profissional de um poderoso colunista social (Burt Lancaster) e seu assistente (Tony Curtis, no melhor trabalho de sua carreira) foi demolidor (revisto recentemente na televisão, pode-se sentir toda a força deste filme corajoso e único em sua temática). Stone, disse em relação a "Wall Street". - "Não há violência física mas a tensão e a violência mental são uma forma de vida ali. As vidas desses homens e mulheres dependem das emocionantes altas e baixas da bolsa - apoderando-se de empresas, estruturando o capital do país e moldando a economia global". OUTRAS OPÇÕES O terror, cada vez mais explícito e cruel, continua a ter um público fiel: "A Hora do Pesadelo" (A Nightmare On Elm Street: Part III), de Chuck Russel, continua com excelente público no Itália e no São João estreou agora "Possuídos pelo Mal" (From Beyond), de Stuart Gondon. Um elenco de desconhecidos - Jeffrey Combs, Barbara Grampton, Ken Force, Tede Sorel - num filme de muitos efeitos especiais e apelativo ao máximo em seu horror. Nada que justifique maior atenção. "Seduzida ao Extremo" (Extremities), do desconhecido Robert M. Young, e no qual o distribuidor Alex Adamiu, da Paris Filmes, deposita esperanças de ótimo faturamento (pela sensualidade e presença da "pantera" Farrah Fawcett) continua em exibição no Palace Itália. No Lido II, dentro da necessidade de cumprir a lei de reserva de datas ao cinema nacional, é relançado um porno medíocre, sem qualquer interesse. Para as próximas semanas, a UIP promete duas produções nacionais bem mais interessantes: "Luzia Homem" de Fabio Barreto e "Tanga - Deu no New York Times", escrito, dirigido e interpretado por Henfil. "O Pequeno Príncipe", numa visão francesa, no qual o academicismo da narração não prejudica a poesia do texto de Saint Exupery, após uma magra semana no Luz, terá no domingo, às 10 horas, uma sessão extra. Se tivesse havido um trabalho melhor de promoção do filme, inclusive junto a Aliança Francesa, sua carreira comercial não teria sido tão desastrosa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
2
29/04/1988

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