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Mario Lago, muito além do simpático velhinho da TV

Mário Lago, que o Brasil todo conhece hoje como aquele velhinho simpático, sempre em personagem extremamente humano e solidário, das telenovelas da Globo, é muito mais do que um artista. Poeta, escritor, ator, radialista, ator, sua presença na vida cultural brasileira o faz uma das figuras mais admiráveis e dignas. Carioca, filho único do maestro Antônio Lago, aluno do Colégio Pedro II (1923/26), publicou seu primeiro poema em 1926 ("revelação", na revista "Fon-fon"). Concluiu o ginasial no Curso Superior de Preparatórios e bacharelou-se em direito em 1933, exercendo a advocacia apenas por três meses. Nesse mesmo ano, começou a escrever revistas para teatro - "Figa de Guiné" e "Grande estréia", ambas como Álvaro Pinto. Como letrista, estreou, em 1935, com "Menina, eu sei de uma coisa" (com Custódio Mesquita) marcha gravada por Mário Reis no ano seguinte. Com o mesmo parceiro fez o fox-canção "Nada além", sucesso nacional, em 1938 na voz de Orlando Silva e, em uma série de músicas compostas especialmente para revistas pela Companhia casa de Caboclo e pela Companhia Trololó - a mesma que, em 1º de maio de 1929, havia inaugurado o Palácio Avenida, em Curitiba. De 1938 a 1940 foi funcionário público, chegando a chefe da seção de estatísticas sociais e culturais do rio de Janeiro e nomeado para o conselho do IBGE nem chegou a tomar posse. A música o fascinava e em 1940 Carlos gralhado gravava sua valsa "devolve", ano em que apresentou, também, em gravação da dupla Joel e Gaúcho, uma das mais famosas composições, "Aurora" (com Roberto Roberti), sucesso no Carnaval de 41, na voz de Carmen Miranda. Sua estréia como ator aconteceria em 1942, na peça "O Sábio", encenado pela Companhia Joraci Camargo. Autor de dezenas de [composições], possivelmente seus sambas mais famosos foram as parcerias com Ataulfo Alves (1909-1969) - "Amélia" (1952) e "Atire a primeira pedra" (1944. No rádio, começou como radiator na Pan-Americana, de São Pulo, passando por diversos prefixos (Nacional, Mayrink Veiga, Bandeirantes de São Paulo), mas permanecendo na Nacional por mais tempo. Em 1964, por suas posições políticas de esquerda, foi demitido da rádio, denunciado - junto com outros colegas, pelo direitista Cesar de Alencar. Naquele ano, relatando sua experiência na prisão, publicou "Brasil, 1º de abril", um de seus livros. Em 75, pela mesma editora (Civilização Brasileira) publicou uma obra de pesquisa folclórica [entitulada] "Chico Nunes das Alagoas" e, mais recentemente, lançou o primeiro volume de suas memórias. Produtor de notáveis programas e novelas ("Presídio de Mulheres"), irradiado durante 5 anos), criou na Nacional o humorístico Dr. Infezulino e, mais tarde, a figura do "Jacó de uma palavra só", no programa "Lago da Harmonia". Pioneiro da televisão, tem sido um dos atores mais requisitados para as telenovelas da Globo e, eventualmente, faz cinema. Recentemente, entrevistado por Marília Gabriela, no programa "Cara a Cara" (Rede Bandeirantes), Mário Lago emocionou por sua ternura, simplicidade e dando uma lição de vida. Chegar aos 80 anos já é admirável. Mais ainda quando um homem conserva a dignidade de suas posições, uma obra belíssima, uma presença tão marcante na música, no rádio, no cinema e na televisão. Em "Nada Além", elepê que a Sigla deveria cuidar com todo carinho, por sua importância, temos uma visão panorâmica do talento de Mário Lago como letrista. Inteligentemente, o produtor Aramis Barros, buscou não apenas os standards mais conhecidos de usa obra, mas soube encontrar aquelas jóias marcantes, que poucos se lembram. E o caso de "A Onda" - na voz de D. Ivone Lara; "Salve a Preguiça, Meu Pai", com Neguinho da Beija Flor; "Fracasso", com Nelson Gonçalves e o violonista Rafael Rabello; "Faz Como Eu" (parceria com Ataulfo Alves) com Alcione e Ataulfo Jr.; "Fazer Um Céu", por ele dedicada a Álvaro Moreyra com as Gatas e o Nosso Samba "Rua Sem Sol" (parceria com Henrique Galdelman) com Tania Machado e, encerrando o disco, especialmente, o enternecedor "Faz de Conta", parceria com Chocolate, numa interpretação magistral de Paulinho da Viola. Um lado humorístico, num jogo incrível de palavras que exigem uma tradução do próprio autor, é a divertidíssima "Caluda, Tamborins!" ou "Ou de como o biltre de demo enredou na sua parlanda a trafega Natércia" (traduzindo: "Silêncio, Tamborins! OU como foi que o infame do diabo envolveu a alegria [de] Natércia no seu blá blá blá") com a interpretação perfeita de Eduardo Duzek. Os clássicos de Mário Lago, que o Brasil todo conhece, também não foram esquecidos. Assim Sandra de Sá, hoje uma cantora surpreendente - longe do funk dispersivo de seu início de carreira - faz uma belíssima releitura de "Dá-me tuas mãos" com arranjos e teclados de Guto Graça Melo e Marcia Miranda; Ney Mato Grosso e Raphael Rabello, no duo voz e violão, enriquecem "Número Um" e outro duo - Gal Costa e o violonista Marco Pereira, interpretam a canção que dá título ao elepê, a belíssima "Nada além". Um [potpourri] com "Quem chegou já tá", "A onda", "salve a preguiça, meu pai", "Atire a Primeira Pedra", "Ai Que saudades da Amélia" e "Aurora" abre a face A - com direito a repetição, já com outros arranjos, de "Atire..." com Mestre Marchal, "Amélia" com Zeca Pagodinho e "Aurora", com um coral formado por todos os amigos de Mário Lago. Elton Medeiros, cuja belíssima voz não ouvíamos há tempos, comparece com "Quem chegou já tá". Um disco nota 10 para um homem nota mil e um artista 100% brasileiro. FOTO
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
12/04/1992

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