Mário, o violão com som social
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de novembro de 1985
No ano retrasado, Francisco Mário mereceu todas as premiações com seu maravilhoso "Conversa de Cordas, Couros, Palhetas e Metais". Passaram-se quase dois anos para Francisco fazer um novo disco: "Pijama de Seda", a exemplo de seus três outros lps ("Terra", 1979; "Revolta dos Palhaços", 81), também uma produção independente, através de sua etiqueta Libertas (pedidos para Rua Araucária, 90/202, Rio de Janeiro - CEP - 22461).
Não é preciso falar muito de Francisco Mário. Desde seu primeiro lp, mostra não apenas inovação em suas composições, um acabamento perfeito - seja nos temas em solo, seja, como aconteceu e "Revolta dos Palhaços", onde trazia parcerias com Fernando Brandt, Aldir Blanc, Guarnieri, Paulo Emílio e outros.
Mineiro, irmão caçula do humorista Henfil, administrador de empresas e técnico em informática, Francisco Mário desprezou imensos salários em multinacionais para se dedicar a música. Fez mais: é um dos diretores da Associação dos Produtores de Discos e Fitas Independentes do Rio de Janeiro, batalha em todos os movimentos da classe, faz recitais e estimula outros compositores, e instrumentistas para também partirem para seus próprios discos.
Inspirado na bela fotografia que Walter Firmo fez de Pixinguinha numa cadeira de balanço - e que em 1977 foi escolhida por Herminio Bello de Carvalho para o cartaz no lançamento do Projeto Pixinguinha, Francisco compôs um terno choro que dá título a este lp: "Pijama de Seda".
Tocando violão e viola (em algumas músicas usa flauta de pã, e toca oito violões diferentes), Francisco Mário fez um álbum absolutamente pessoal, profundo e que, dificilmente deixará de estar entre os dez melhores do ano. As músicas refletem temas sociais como "Terra Queima" - da trilha criada para o documentário sobre a seca do Nordeste; realizado por Geraldo Sarno e premiado na Jornada de Salvador; o dobrado "Souza", a "Violada" sertaneja; os chorinhos "Coceirinha" e "Saudade de Mim", uma modinha mineira. "IIIª Guerra", "Venceremos" e "Las Locas" (um tango para as mães dos desaparecidos políticos na Argentina), mostram que a música instrumental pode ser também social.
Um disco maravilhoso em termos de Brasil-85. Indispensável.
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