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Aramis

Martinho realizado e Benito em progresso

MARTINHO DA VILA (Martinho José Ferreira) atinge aos 45 anos completados no início do ano (12/2) uma condição de respeito dentro da MPB. Longe do samba de fácil rima e muito embalo e que provocou uma legião de imitadores Martinho é hoje um interprete, compositor e produtor dos mais conscientes. Uma salutar e assumida busca de identidades africanas especialmente a partir de suas viagens a Angola (da qual resultou, inclusive, um belo elepe, com compositores e intérpretes daquela jovem nação) somado a um trabalho honesto e esmerado o faz merecedor de toda admiração. Em "Novas Palavras" (RCA, novembro/83) sente-se claramente esta presença vigorosa de Martinho da Vila, buscando na parceria com Cabana e ironia para o atualíssimo "Balaio de Gato e Rato", homenageando Aniceto do Império, ao gravar duas das composições do velho partideiro "Partideiro Famoso" e a divertida "Sua Filha" momentos de especial significado. O excelente trio vocal, de origens afro, Os Tincoãs, participam de "Vieram Me Contar" e o baiano Tim Motorista, está em uma roda de samba de roda, que inclui parcerias de martinho e Tião: "Xodó de Mãe". "Paquete A Sobara", "Micareta" e "Pega na Galha". Rildo Hora, parceiro antigo, não poderia ser esquecido: "Negros Odores" é um canto bem continental-afro, enquanto "Festa do Candomblé", tema folclórico, foi adaptado por Martinho. Com emoção, o final é mais um samba (desta vez de aluízio Machado/Ovídio Bessa) a Clara Nunes ("Vai fazer falta na avenida/Quem viveu cantando a vida/Não morreu, desencantou"). Se Martinho da Vila foi incompreendido durante anos, o que dizer de Benito Di Paula, estrela maior do samba-jóia, comercialíssimo, estilo "Meu amigo Charles Brown"? Mas, nunca se deve desprezar os bons podutores. Deixamos a Copacabana, Benito encontrou na WEA profissionais competentes, que orientaram sua carreira em uma direção mais seria. Primeiro foi Sergio Cabral, hoje vereador no Rio de Janeiro mas há 3 anos um dos mais seguros produtores de discos daquela multinacional. Não será de um disco para outro que Benito deixará de ser o sambista-jóia para se transformar num novo Paulinho da Viola, mas que melhorou, melhorou. A prova está em "Bom Mesmo é o Brasil" (WEA, novembro/83), que apesar do título ufanista (lembrando a pior fase de Dom & Ravel) traz um respeitoso Benito interpretando músicas antológicas como "Já Te Digo" (Pixinguinha/João de Barros), "Velho Realejo"(Custódio Mesquita/Sady Cabral esta valorizadíssima) pelo belo arranjo de base de Maurício Carrilho e arranjo de orquestra de radamés Gnatalli, também responsáveis pelo emolduramento sonoro de "O Xerife e o Bandido", do próprio Benito mas que, infelizmente, não atinge em sua letra o nível do arranjo. Lincoln Olivetti, com seus teclados comerciais, compromete outras faixas - "No Ar" (J. e Ney Velloso), "Branca", de Dalto/Claudio Rabello) mas há homenagens respeitosas como "Vovó Clementina" (Mateus e Dadinho) e uma bela música de Djavan: "Mera Fantasia". Enfim, controlando seus excessos de compositor, buscando gente competente, Benito realizou um disco apreciável longe ainda do que se espera, mas ao menos não comprometedor. O moço ainda vai dar certo...,. LEGENDA FOTO 1 - Martinho da Vila. LEGENDA FOTO 2 - Benito de Paula.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música
21
20/11/1983

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