Login do usuário

Aramis

Marylou e Caldas, os saldos carvanavalescos

Se a produção caracterizadamente carnavaleca - sambas e marchinhas ao estilo tradicional - praticamente desapareceu e os sambas-de-enredos das grandes escolas do Rio de Janeiro (eventualmente de São Paulo), apesar de toda superpromoção via televisão, não emplacam autonomamente, resta ainda uma outra faixa de música ligada ao Carnaval. São os intérpretes (e compositores) que astutamente sentem a possibilidade de terem suas músicas absorvidas por essa festa, justamente pela falta de uma criação específica. Dois exemplos: o grupo Ultraje A Rigor e o baiano Luiz Caldas. Consagrado hoje como o mais irônico e debochado grupo de rock do Brasil, emplacando milhares de cópias com seu primeiro lp ("Nós Vamos Invadir Sua Praia"), o Ultraje a Rigor aproveitou o período pré-carnavalesco para lançar um mix 45 rpm, com a satírica "Marylou" - criação coletiva, com uma letra audaciosa, de duplo sentido - e que obviamente caiu no gosto popular - inclusive pela própria versão carnavalesca feita para este disco - antecipada de "Hino dos Cafajestes" e de uma regravação de "Nós Vamos Invadir Sua Praia". A irreverência maliciosa de "Marylou" é bem uma prova dos novos tempos da criação musical, pois ninguém imaginaria uma letra como essa ("Marylou Marylou/ Tinha cara de babaca/ Botava ovo pela cloaca/ Sara Lee Sara Lee/ Botava leite pela teta/ Transava até com urubu/ MArylou Marylou/ Botava ovo pelo Sul"). Já o baiano Luiz Caldas, 23 anos, só está chegando agora ao Sul - mas só na Bahia já vendeu 120 mil cópias de seu primeiro lp ("Magia", Polygram), produção do astuto Roberto Sant'Ana (a quem a MPB deve inúmeras revelações) associado a Zé Vicente Brizola. Criador de um novo ritmo - o "deboche", definido por Pedro Rubio, da "Isto É", como uma salada de funk, reggae jamaicano, salsa, merengue caribenho e MPB - o "deboche" ou "fricote", como também é chamado - não só foi o maior responsável pela alegria dos foliões baianos, mas também consagrou Luiz Caldas, que até agora sem sair de Salvador já se tornou um nome nacional - merecendo o Disco e Ouro. Agora, com a distribuição de "Magia" em termos nacionais - o disco foi produzido inicialmente pelo selo Nova República, com patrocínio de uma empresa comercial (Nitrocarbono S/A), Caldas é autor de 6 das 10 faixas, no carro-chefe ("Fricote") em parceria com o conhecido Paulinho Camafeu. Na interessante "Contra/Mão", participação especial de Silvinha Torres, co-autora com Alfredo Moura. Outra participação especial é Paulinho Caldas, um dos autores de "Sonho Bom". No encerramento, uma canção meio romântica, "Nara", do próprio Luiz Caldas. Irreverente, comunicativo, Luiz Caldas é mais um novo baiano bem sucedido e que viu seu disco cair no agrado dos baianos e seu "Fricote" conquistar o Carnaval de Salvador neste ano.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
27
23/02/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br