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Aramis

Master Classics traz o melhor do cinema em P&B

Um dos aspectos culturalmente mais fascinantes da era do vídeo está na possibilidade das novas gerações terem acesso, da forma mais cômoda e rápida, a praticamente toda a história do cinema. Se a geração de cinéfilos formada nos anos 30/40, no Brasil, teve sempre abismos negros em sua informação cine-cultural - pelo fato de muitos filmes fundamentais nunca terem chegado às nossas telas e aqueles que descobriram a importância da sétima arte nos anos 60/70 ficarem apenas com informações sobre o cinema das décadas anteriores, os jovens deste final de milênio são privilegiados. Basta saber buscar vídeos ou acompanhar a programação de algumas redes de televisão - que, na disputa de audiência, tem investido na compra de grandes títulos para conhecer obras fundamentais realizadas, especialmente pelo cinema americano, nas décadas de 40/60. Vez por outra, surgem mesmo produções anteriores - especialmente nas "sessões coruja" e aquilo que antes só era visto, no máximo, em cópias péssimas, com muitos cortes, escurecidas, em 16mm, exibidos em cinematecas e cineclubes, existe hoje em cópias perfeitas, legendadas. Pode-se dizer que há uma "Cinemateca" à disposição de quem se interessar pelo melhor cinema já produzido e ser possível conhecer o melhor da obra de cineastas como John Huston, George Steves, Hawks, Visconti e tantos outros mestres. No Brasil, considerando a ignorância de sua população e o fato do vídeo ser ainda novidade (e privilégio) para a maioria, até que já há ao menos uma centena de títulos que merecem a classificação de "cinema de arte". Infelizmente, como os freqüentadores de locadoras buscam em 90% filmes atuais, motivados não culturalmente, mas pelo que lêem em revistas de atualidades, as propostas feitas por algumas locadoras em lançar, em edições seladas, com boa qualidade, clássicos do cinema - americano e um pouco do italiano e francês - tem esbarrado em limitações de consumo. Há mais de um ano, um idealista distribuidor tentou criar uma coleção de "Clássicos de Hollywood", fazendo uma dezena de boas edições. Poucas foram as locadoras que adquiriram cópias e em Curitiba é praticamente impossível - a não ser a Disc Tape e Master - encontrar aquelas produções. Apesar deste fracasso, uma nova distribuidora surge com disposição de mostrar que nem só de produções up to date, fitecas comerciais ou produções catapultadas pelo Oscar vive o cinema. Silvio Wolf, da Master Vision (Rua Itacolomi, 445, Higienópolis, São Paulo, CEP 02239), numa surpresa agradável, está lançando um pacote denominado "Master Classics", com cinco títulos, numa linha diversificada que vai do desenho animado ao drama de guerra, "indo de encontro a carência existente entre os clientes mais cultos das locadoras do Brasil", como diz Wolf. Cada um destes lançamentos mereceria um comentário a parte, ficando hoje apenas o registro - e a esperança de que entre os donos das duzentas e tantas locadoras de Curitiba, exista ao menos meia dúzia com suficiente formação cultural para adquirir cópias destes clássicos e oferecê-las ao público - que, também deve ser motivado em torno da importância destas obras, aparentemente desprezadas por não serem coloridas e nem terem spilbergueanos e lucaneanos efeitos especiais. "Quando as Nuvens Passam" (Till the Clouds Roll By"), EUA, 1946, de Richard Whorf. Um delicioso musical, 137 minutos, que há muito não é reprisado nem na televisão. A história começa quando após a estréia de um musical de sua autoria, o compositor Jerome Kern (Nova Iorque, 27/01/1885-11/11/1945) recorda como se deu o início de sua ascensão para o sucesso, autor de "I'm Old Fleming", "Can't Help Singing", "I'm Old Fashioned", entre tantos clássicos. Biografia parcial de Kern (interpretado por Robert Walker), acompanha sua carreira entre 1885/1945, época em que escreveu músicas para clássicos, como "Roberta", "Show Boar", "Swing Time", "Cover Girl" e, com o produtor Arthur Freed, desenvolveu uma intensa colaboração em musicais da MGM - inclusive na transposição de seus musicais estreados na Broadway. Embora dirigido por Whorf, consta que Vicent Minelli, na época marido de Judy Garland (como Sinatra, Angela Lansbury, Lena Horne, Cyd Charisse, June Alison, Dina Shore, etc., em participações especiais) dirigiu algumas seqüências. Um musical imperdível. "Servidão Humana" (Of Human Bondage), EUA, 1934, de John Cronwell (1888-1979), com Leslie Howard, Bette Davis, Frances Dee, Allan Hale, Reginald Owen. 83 minutos. Como já existe a disposição em vídeo da terceira refilmagem deste romance do Somerset Maughan - nada como assistir o original. A história de um estudante de medicina (Howard) que aspira ser pintor, apaixona-se por Mildread (Bette), uma garçonete instável e cruel, que o humilha constantemente - mas ele, apesar de merecer o amor de uma jovem (Frances) não se livra desta trágica atração. Escrito em 1915, este romance já teve três versões no cinema - mas a definitiva é esta, com Bette Davis no auge de sua carreira - e a imagem da mulher fatal. "Adeus às Aramas" (Farewell to Arms), EUA, 1932, de Frank Borzage (1893-1962). Outro clássico que permite a comparação com a segunda versão realizada por Rock Hudson e Jennifer Jones. Aqui, o romance que Ernest Hemingway (1899-1961) escreveu em 1929, com toques autobiográficos (para muitos, uma de suas melhores obras) foi interpretada por Helen Hayes, Gary Cooper, Adolph Menjou, Mary Phillips e Jacques LeRue. A ação se passa na I Guerra Mundial, na Itália, onde um jovem (Cooper) se engaja, é ferido e, no hospital, apaixona-se pela enfermeira. Um filme com o toque dos grandes mestres que não mais estão entre nós. "Ases da Pistola" (The Gunman from Bode), 1941, de Spender Bennett, é ao menos expressivo do pacote. Mas vale por trazer um dos cowboys favoritos da turma do Cineclube Aníbal Requião (Cine Morgenau, reuniões aos domingos pela manhã), Buck Jones, ao lado de artistas que só especialistas em bang-bang classe "B" lembram-se. Vale como curiosidade. "Betty Boop", 1954, de Dave Fleischer. Pacote reunindo 13 desenhos animados de curta-metragem com Betty Boop, personagem criado por Max Fleischer (1889-1972), pai de Richard, 64 anos, e que em sua homenagem cuidou desta reedição (está saindo agora o volume um). Betty Boop foi uma "pioneira" na liberação feminina e sua figura, sensual e irreverente, chegou a ser censurada em alguns estados americanos. LEGENDA FOTO 1 - Gary Cooper e Helene Hayes no esplendor de suas carreiras: a primeira versão de "Adeus às Armas" agora em vídeo. LEGENDA FOTO 2 - Bette Davis em seus tempos de femme fatale, linda e loura: "Servidão Humana", onde faz gato e sapato do pobre Leslie Howard, em lançamento para quem deseja conhecer a melhor versão cinematográfica do famoso romance de Somerset Maughan.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
12
19/08/1990

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