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"Max", um romance da Hollywood sem glamour

No quarto capítulo de "O Refúgio dos Deuses", Garson Kanin fala de seu encontro com Casrl Laemmle (Laupheim, Alemanha - 1867 - Hollywood, USA, 1939). Emigrante que chegou aos Estados Unidos há um século, Laemmle foi aos Estados unidos há um século, Laemmle foi o pioneiro da exbição cinematográfica. Por um acaso, um dia foi procurado por um jovem interessado em alugar um grande depósito que possuía na Milwaukee Avenue, em Chigaco e ali instalar um primitivo cinema. Era o ano de 1906 e o improvisado cinema - com a novidade das figuras animadas nas telas - conquistaria o público. Em pouco tempo os chamados Nickeladeons - (cinemas-poeira), que se improvisavam em barracões, antigos armazéns e até sinagogas - multiplicavam-se. Logo depois os exibidores, preocupados com a falta de filmes atraentes, começaram a realizá-los. Laemmle em 1909 fundava a Motion Pictures, cujo primeiro filme foi "Hiawatha", de Willian Reinouss. Em 1912, associado a 4 outros exibidores - Cochrane, Horsley, Powers e Swanson - fundaria a Universal, em cuja direção permaneceria até 1930, quando produziu o grande sucesso "Sem Novidades no Front", que Lewis Milestone (1895-1980) dirigiu com base no romance de Rich Marie Remarque. Com Laemmle, algumas dezenas de outros poderosos tycoons da indústria cinematográfica americana tiveram suas origens humildes, explorando os Nickelodeones que, na primeira década do século XX começavam a fascinar o público americano. Garson Kanin (Rochester, Nova York, 1912), autor de várias peças e roteirista marcante (além de eventualmente também diretor), e autor de dois fascinantes livros sobre Holywwood - "O Refúgio dos Deuses" (1967, traduzido para o português por Roberto Muggiati e editado pela Novo Tempo Editora) e "Moviola" (1979, tradução de luzia Machado da Costa, Editora Record). Nestes dois livros, Kanin fala dos pioneiros da produção cinematográfica, de nomes lendários - mas se concentrando especialmente na personalidade do poderoso chefão dos estúdios das grandes companhias que até a década de 60 dominavam, com mão-de-ferro, a chamada Usina de Sonhos. Homens como Samuel B. Goldwyn, Howard Hughes, Sol Lesser; Joe Pasternak, Sol C. Siegel, Jerry Wald, Hal B. Wallis, Walter Wanger, Darry F. Zanuch e especialmente, Adolph Zukor (que faleceu a 10 de junho de 1977, aos 103 anos de idade) tinham a sensibilidade para determinar o que o público iria gostar ou não. Geralmente homens de pouca cultura - mas extremamente inteligentes - os grandes produtores americanos foram os que possibilitaram a indústria cinematográfica se desenvolver. Se os artistas ganhavam as imagens mitológicas e os roteiristas e diretores, fazendo um trabalho profissionalmente bem pago, se tornariam temas para milhares de ensaios e estudo do ponto de vista artístico - os produtores foram fundamentais. Sem eles - com seus erros e acertos - não teriam se formado os grandes estúdios, que até a transformação ocorrida na década de 60, capitalizavam todas as produções. James Stewart, 75 anos, na entrevista coletiva com jornalistas brasileiros, no último dia 19 de novembro, no Rio de Janeiro, lamentava que no boom das biografias, que tem sido publicadas sobre nomes lendários de Hollywood, os produtores sejam "maltratados em suas interpretações". Stewart, um ator que passou mais de 40 anos de sua vida ligado aos grandes estúdios (especialmente a Universal) reconhece a importância que os tycoons tiveram para que a MGM, Fox, Warner, RKO, Columbia, Republic, Paramount, Universal e tantas outras companhias formassem o maravilhoso mito do cinema. Howard Fast, autor de obra vasta e politicamente respeitado pelos romances que fez sobre os anarquistas Nicola Sacco (1891-1927) e Bartolomeo Vanzetti (1888-1927) e, especialmente, das sagas do gladiador Spartacus (-?- Lucânia, Itália, 71 a .C.) (que foi filmado em 1960, por Stanley Kubrick) decidiu escrever um romance sobre Hollywood. E o resultado é "Max" (tradução de Pinheiro de Lemos, 350 páginas, Editora Record), um dos mais fascinantes livros publicados em 1984. Através de seu personagem fictício, Max Britsky, órfão aos 12 anos, e que subitamente se viu obrigado a garantir a sobrevivência de sua família, vivendo na Henry Street, na zona mais pobre de Nova Iorque do final do século XIX - Howard Fast conta a estória de um clássico exemplo de self made man. Junto com a estória de Max Britsky, que aos 16 anos já percebeu as possibilidades comerciais do cinema como indústria de lazer, Howard Fast narra também a própria história do cinema. Embora com nomes fictícios, toda a trama desenvolvida em "Max" é formada da argamassa das mitológicas figuras que povoaram a imaginação de todos que se fascinam pela sétima arte. Para um autor que no passado foi tido como esquerdista, "Max" pode parecer um ufanismo ao regime capitalista. Da miséria em que vive na sua infância - sendo obrigado a roubar para garantir comida a sua mãe, Frida e aos irmãos - agindo como um trombadinha na Nova Iorque da virada do século - até chegar a ter um dos maiores estúdios de cinema dos EUA e dominar uma imensa rede de exibição, a trajetória de Max Brisky parece um canto à livre iniciativa, a liberdade que permite aos mais inteligentes e trabalhadores se tornarem poderosos - independentes de origens humildes. Entretanto, observando-se melhor a narrativa de Fast, vemos também uma sutil crítica ao american way of life, a luta pelo sucesso - e o descanso final do homem que tanto lutou para fazer seu império e que morre, sozinho e frustrado, aos 58 anos, "sentado na última fila do cinema Bijou, na West Broadway, na cidade de Nova York" - por coincidência, no mesmo endereço onde havia iniciado sua empresa. A coleção de datas e descrições de personagens faz com que "Max" pareça, a exemplo de "O Refúgio dos Deuses" de Garson Kanin, que é um romance-reportagem. E, considerando que os personagens, por certo foram calcados naqueles que realmente fizeram a Hollywood mágica dos anos 30, "Max" tem esta empatia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Leitura
26
30/12/1984

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