Login do usuário

Aramis

A melhor safra do cinema brasileiro vai a Gramado

Fernanda Torres em 1986 com "Eu Sei Que Vou Te Amar": melhor atriz em Cannes. A paraibana Marcelia Cartaxo, também em 1986, em Berlim: melhor atriz por "A Hora Da Estrela". Ana Beatriz Nogueira em Berlim, 1987, melhor atriz por "Vera". As atrizes brasileiras jovens estão em alta. Desconhecidas ontem, famosas hoje, internacionais amanhã. E não apenas por quinze minutos, como dizia há anos, com ironia, o recém-falecido Andy Warhol. Sônia Braga transforma-se definitivamente em superstar agora, ao estrelar o novo filme de Robert Redford ("The Milagro Beanfield War"), em fase de montagem e que deve ter lançamento em breve. Hector Babenco, portenho que se naturalizou brasileiro, deve estar nestas alturas dirigindo Meryl Streep e Jack Nicholson (que, no ano passado, fizeram o belo "A Difícil Arte De Amar", de Mick Nichols), em "Vernona", na transposição a tela do romance (Prêmio Pulitzer) de William Kennedy. Há que se ter otimismo com o cinema brasileiro e com os nossos talentos. Mesmo com as trapalhadas do ministro Celso Furtado em "reformar" a Embrafilmes e com isto atrapalhando várias produções em andamento. O QUE VEM POR AÍ - Enoir Zorzanello, o simpático e eficiente vice-prefeito de Gramado que preside a comissão organizadora do mais famoso e importante festival de cinema brasileiro (27 de abril a 3 de maio), este ano está até preocupado em saber da quantidade de bons filmes que podem participar da mostra. Pela sua seriedade e dimensão, o festival que movimenta o cinema brasileiro no primeiro semestre deverá ter duas dezenas de filmes de nível em competição, nas categorias de curta e longa-metragem. A produção cinematográfica brasileira passou de cem títulos em 1986, conforme levantamento que a jornalista Mary Ventura publicou, em outubro no "Jornal da Tela", o interessante house organ da Embrafilmes - que agora parece estar desativado. São filmes que, entre os já mostrados em festivais ou mostras especiais, alguns poucos já lançados em certas capitais e os que estão em fase de montagem e finalização, retratam desde a nossa história, nossos problemas sociais e os seus personagens, até os conflitos característicos das grandes metrópoles urbanas e os dramas existenciais, ficção, animação e ensaio. "Todos - salienta Mary Ventura, ex-assessora de comunicação da Embrafilmes - procurando refletir a nossa realidade cultural e o Brasil de ontem e de hoje". "Anjos De Arrabalde", de Carlos Reichenbach - que pela terceira vez esteve no Festival de Amsterdã, até agora só visto durante duas semanas em São Paulo, será um dos possíveis participantes do Festival de Gramado, onde, no ano passado, Reichenbach, com seu "Filme Demência" (agora estreando comercialmente em São Paulo), ganhou vários prêmios, inclusive saindo o de melhor coadjuvante dividido entre Emílio Di Biasi e Flávio São Thiago (este por "Fulaninha", de David Neves). Uma história sobre três professoras que trabalham em uma escola pública num bairro de São Paulo, o filme de Reichenbach traz em elogiadíssimas atuações, Betty Faria, Clarisse Abujamra e Irene Stefânia - de onde pode até sair uma premiada com o Kikito. Outro filme que, se espera, venha a concorrer em Gramado é "Besame Mucho", de Francisco Ramalho Jr. Vindo da produção de "O Beijo Da Mulher Aranha" e voltando à direção, Ramalho Jr. levou a tela a peça de Mário Prata, com um ótimo elenco: Antônio Fagundes, Christiane Torloni, Glória Pires, José Wilker, Izabel Ribeiro, Júlia Lemmertz e Paulo Betti. Os gaúchos, que se vêm esmerando em fazer cinema (há inclusive em Gramado uma premiação especial para os filmes gaúchos), esperam concorrer com um novo longa: "O Mentiroso", de Werner Schunemann, o diretor de "Aqueles Dois", longa que já foi visto em Curitiba. Schunemann pertence a geração de cinéfilos que vindo do super8 (com "Deu Pra Ti Anos 80"), vem assumindo hoje caminhos profissionais. No elenco de "O Mentiroso" estão ao menos dois nomes conhecidos. Sérgio Mamberti e José de Abreu, este gaúcho de nascimento mas há muito radicado no Rio. Produções mais ambiciosas, com condições de serem levadas a festivais internacionais, talvez não venham a ser inscritas para o Festival de Gramado. Seria o caso do último longa de Cacá Diegues, "Um Trem Para As Estrelas", que focaliza um jovem músico tentando o caminho do sucesso e as voltas com sua mulher desaparecida, e "Sonho De Valsa", de Ana Carolina - espécie de complemento da trilogia do sofrimento familiar-social que esta excelente cineasta vem desenvolvendo desde "Mar De Rosas". Se o paranaense Sérgio Bianchi tivesse tido condições de concluir seu "Romance" - que teve seqüências rodadas em Curitiba no ano passado - por certo este filme estaria em Gramado. Afinal, Bianchi, irreverente e talentoso, com seus curtas "Mato Eles?" e "Divina Providência" ali já obteve premiações em anos anteriores. Outro filme que muitos torcem (na hora em que esta matéria foi elaborada, não havia ainda a relação dos filmes aceitos para o Festival), para que vá a Gramado é "O País Dos Tenentes", de João Batista de Andrade, com Paulo Autran, José Wilker e Buza Ferraz. É a história de um general da reserva que participou do movimento tenentista e hoje, diretor de uma grande empresa, entra em crise no dia em que é homenageado pelos seus 80 anos. O "EU" DE KHOURI - Walter Hugo Khouri estará, seguramente, entre as presenças do Festival de Gramado. Só que como faz há anos, não leva filmes para disputar premiações. Este ano, entretanto, ali fará a pré-estréia de "Eu", seu último longa-metragem, bem recebido pela crítica paulista e em exibição nos cinemas de São Paulo. Com Tarcísio Meira e um elenco de belíssimas mulheres (marca registrada nas produções de WHK), "Eu", seu 23º longa-metragem, é, como todos os seus filmes, sofisticado, fotografia esmerada e com indagações filosófica-existenciais. O FILME DE JOFFILY - A comissão de seleção, formada pelos críticos Goida (Hiron Goidanich), Hélio Nascimento, Romeu Grimaldi e Túlio Becker, reunidos desde quinta-feira em Gramado para selecionar dez entre os quinze longa-metragens e também 9 a 12 entre os 75 curtas e média-metragens que disputarão os Kikitos - incluindo os da produção gaúcha (com premiação financeira a parte), terá uma difícil tarefa. Afinal, este ano a produção cresceu de nível e há ótimos filmes em disputa. Curioso o caso do filme "Urubus E Papagaios", de José Joffily. Rodado em 1985, foi inscrito para o XIV Festival, mas acabou não sendo aceito. A versão apresentava problemas reconhecidos pelo próprio realizador e um dos talentos em ascensão do cinema brasileiro. Adquirindo os direitos de produção de Joaquim Vaz de Carvalho, Joffily Filho - o "Zezinho", refez o filme, remontando-o de forma diferente, substituindo a trilha sonora de Tavinho Moura pela de Ugo Marota e, agora, esta nova versão deve chegar a Gramado. O título original - "O Impávido Colosso" também foi substituído por "Urubus E Papagaios". A história é inspirada em "Dona Anja", de Josué Guimarães e o seu elenco reúne gente de talento, como Dora Pellegrino e Maria Alice Vergueiro - atriz paulista, das mais competentes, Ivan Cândido, Anselmo Vasconcelos, Andréa Dantas, Karen Accioly, Stela Freitas e Fafy Siqueira, Emanuel Cavalcanti, entre outros. LEGENDA - Um júri formado por críticos e cineastas está trabalhando desde quinta-feira na seleção dos dez longas e curta-metragens que disputarão os Kikitos, no XV Festival do Cinema Brasileiro de Gramado. Realizado ininterruptamente desde 1972, hoje a mais importante mostra competitiva do cinema brasileiro, o Festival de Gramado terá em sua nova edição - a partir do dia 27 de abril - vários eventos paralelos, incluindo uma mostra de cinema infantil latino-americano, com a pré-estréia do novo filme de Maurício de Souza com a turma da Mônica, e o lançamento, no Rio Grande do Sul, de "Eu", 23º longa-metragem de Walter Hugo Khouri. Os filmes selecionados para Gramado deverão ser anunciados na próxima semana, possivelmente até quarta-feira, pelo presidente da comissão executiva, Enoir Zorzanello, vice-prefeito de Gramado. LEGENDA FOTO 1 - Tarcísio Meira entre Monique Lafond e Nicole Puzzi em "Eu". LEGENDA FOTO 2 - Raul Cortês e Ana Beatriz Nogueira (melhor atriz em Berlim), em "Vera". LEGENDA FOTO 3 - Louise Cardoso e Dora Pellegrino em "Urubus E Papagaios", primeiro longa-metragem de José Joffily Filho.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
4
05/04/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br