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Aramis

As melhores produções alternativas de 1990

1. "Encontro das Águas" - Juca Novaes e Eduardo Santana (Cachet Records, MPM Produções, Rua Ministro Gastão Mesquita, 855, São Paulo). O grande coordenador da Feira Avarense de Música Popular - reconhecidamente o melhor festival de MPB do país, que a cada ano traz inovações e teve suas últimas edições lançadas em disco, Juca Novaes é também compositor e intérprete, veterano participante de vários festivais (inclusive o Fercapo, de Cascavel). No vigor de seus 32 anos, em parceria com um jovem (29) parceiro, Eduardo Santana, gravou um esplêndido álbum independente, valorizado com presenças de ótimos músicos, participações afetuosas de suas irmãs Lúcia e Isa Novaes, amigas queridas como Alaíde Costa (em "Luz do Arrebol"), mais William Xavier "Placa Luminosa" ("Pacto com a Paixão") e o excelente Grupo 4 x 4 ("Encontro das Quatro"). 2. Telmo de Lima Freitas - O mais completo compositor nativista, vencedor de inúmeros festivais e autor do clássico "Esquilidon" (vencedor do 9ª Califórnia da Canção em 1982) fez afinal um segundo elepê ("Alma de Galpão") patrocinado pelo Grupo Olvebra e coordenado pela HF Produção de Artes. Esplêndidas composições de um repertório imenso com destaque para "Prece ao Minuano" com a participação de uma das mais belas vozes gaúchas - Edson Oto. 3. Augusto Jatobá - pertence a chamada clã dos "filhos de Elomar" - com quem faz constantemente shows. Em "Matança" (Estúdio de Invenções, Avenida Bartolomeu de Gusmão, 325, loja 107, Leblon, Rio de Janeiro), com as participações especiais de Elomar, seu filho João Omar (violão), Geraldo Azevedo e Xangai, oferece dez canções belíssimas, voltadas a temática ecológica. 4. Hélio Contreiras - É outro baiano da escola de Elomar, que não nega fogo e junto com Xangai tem participações especiais em "Estupro de Onça" (Estúdio de Invenções), também um belíssimo manifesto ecológico musical distribuído em 10 magníficas canções que o Brasil deveria ouvir mas que ficam, infelizmente, restrita aos que conseguem este álbum. 5. Xangai - Eugênio Avelino ("Lua Nova / Lua Cheia", Estúdio de Invenções / Unimed / Salvador) não poderia também deixar de comparecer com um elepê solo, misturando canções antigas e novas, dentro deste fértil campo que continua a ter Elomar (cujo elepê saiu pela Kuarup, já com esquema normal de comercialização) como guru. Indispensável. 6. Juraildes da Cruz - É um daqueles "ratões" de festivais que a exemplo dos quase-curitibanos irmãos Garfunkel fazem o roteiro dos bons festivais de MPB espalhados pelo Brasil, distribuindo canções que, infelizmente, continuam ignoradas pelo público. Juraildes fez um elepê ("Cheiro da Terra", Outros Brasil, Avenida Presidente Vargas, 351, sala 403, Palácio do Rádio, Belém/Pará, CEP 660020) com o sabor de um Brasil autêntico e que resiste ao som multinacional. 7. Diana Pequeno - É outra guerrilheira da melhor MPB que após ter passado pela RCA preferiu o esquema independente para seu novo elepê ("Mistérios", Clarescer Produções Artísticas, Caixa Postal 8230 / CEP 01051, São Paulo). Alternando composições próprias com músicas de autores com quem se identifica, Diana - pequena só no nome, pois sua presença sonora é grandiosa - fez um dos discos mais significativos do ano. 8. Nelson Sargento - Graças a visão do Clube de Criação de São Paulo, sambistas da dimensão de Guilherme de Brito, Monarco e, agora, Nelson Sargento, tem feito elepês mostrando suas composições. No final de 90, foi lançado (e esgotando rapidamente) um álbum com 11 músicas inéditas de Nelson Mattos, 65 anos, 42 de samba, mais de 200 músicas gravadas, mas que só agora faz seu segundo elepê como intérprete. Entre muitas jóias, um momento da maior inspiração bem humorada - "Roubaram Minha Mulher" e lirismo como em "Timidez" e "A Estratégia". 9. Maria Rita - "Brasileira" (Acorde - Avenida Rio Branco, 45, conjunto 1905 / Centro, CEP 20090, Rio de Janeiro). Uma magnífica amostragem dos múltiplos caminhos que a afinada Maria Rita percorre desde o canto de raízes indianistas ("Kamaiurá") até "parcerias" com Mário Quintana ("Canção da Garoa" e "Canção de Barco e de Olvido") - tudo isto com a participação de Luisinho Eça, no único registro que o grande pianista-arranjador fez nos últimos dois anos. 10. Neide Mariarrosa - Apesar de gravado há dois anos, este álbum tem uma importância histórica, registrando uma das mais belas vozes do Sul - injustamente desconhecida - cantando vários autores catarinenses, inclusive Zininho (Cláudio Alvim Barbosa), pioneiro na área dos estúdios de som em Curitiba (onde morou por muitos anos) e autor de um clássico da canção barriga-verde, "Rancho do Amor à Ilha" (1965). Mas Neide registrou outros compositores da Ilha (Silvia Beraldo, Rafael Bastos, Aníbal Nunes Pires, Gustavo Neves Filho, Mirandinha, Osvaldo Ferreira de Mello), além de uma longa faixa destinada aos temas do folclore ("Boi de Mamão"). Um disco que merece uma reedição e um apoio sólido do governo catarinense para mostrar o valor de uma esplêndida artista. xxx A estes dez títulos poderia se acrescentar outra dezena de produções independentes, que mesmo tendo sido registradas há mais de um ano, permanecem, imerecidamente, esquecidas, e como último exemplo lembramos "Salvador", com o (já extinto) grupo de choro Nó em Pingo D'água, incluindo personalíssimos arranjos de temas de grandes mestres (Hermeto, Gismonti, Sivuca, Tom, Wagner, etc.).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
20
20/01/1991

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