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Aramis

Memórias da Oposição (VIII - Final)

A vitória de até então desconhecido advogado Francisco Leite Chaves ao Senado, na campanha de 1974, teve aspectos tão curiosos que merece que voltemos ao assunto - abordado ontem com base nas memórias de Sylvio Sebastiani em "Por Dentro do MDB". A escolha para vice não foi tranqüila. O vereador Adhail Sprenger Passos - que sempre foi um político disponível para pleitear cargos, em sua condição de o vereador do MDB mais votado em Curitiba em 1968 e reeleito em 1972, foi o primeiro nome cogitado. Só que Passos, desta vez, preferiu disputar uma cadeira a deputado estadual. Foi então lembrado o nome de Espiridião Ferez, coronel-médico do Exército, reformado, presidente do Clube de Xadrez de Curitiba, e filiado ao MDB (chegou a disputar uma cadeira de vereador), presença habitual da Boca Maldita. Bastou convidá-lo para ele aceitar. Veio a convenção do MDB no plenário da Assembléia Legislativa. Foi quando o deputado estadual (e candidato a federal) Sebastião Rodrigues apresentou a reividicação de que o suplente deveria ser do Sudoeste e indicou o cirurgião-dentista Euclides Scalco, gaúcho radicado em Francisco Beltrão, onde havia sido vereador e fundador do MDB, ex-petebista. Em Curitiba, era um ilustre desconhecido mas Sebastião insistiu em seu nome. Sebastiani, para evitar uma racha, procurou então Espiridião Ferez para que ele desistisse de sua candidatura. Homem mal humorado, Ferez ficou furioso e chegou a esbravejar com Sebastiani. Afinal, acabou convencido da "unidade partidária" e acabou retirando seu nome e colaborando na campanha. xxx A campanha de Leite Chaves foi feita modestamente mas com muito entusiasmo. NA maioria das cidades, com predomínio da Arena, era na base da cara e a coragem de um pequeno grupo. Em municípios nos quais o MDB estava melhor estruturado as coisas ficaram mais [fácil]. Em Londrina, o apresentador dos comícios era o jovem Emílio Mauro Barbosa - que mais tarde viria a morar em Curitiba, aqui elegendo-se vereador na legislatura passada e hoje assessor na Assembléia Legislativa. Conta Sebastiani: "Emílio foi quem pediu para que seu primo, Nestor Baptista, fosse o apresentador dos comícios de Leite Chaves. Assim o contratamos, com uma remuneração de Cr$ 10 mil paga pelo tesoureiro da comissão, Clóvis Stadler de Souza". xxx Duas folclóricas histórias da campanha de Leite Chaves relatadas por Sebastiani: "Quando chegamos à cidade de Joaquim Távora, Leite Chaves, empolgado com a participação popular, disse: "Esse povo querido de Juarez Távora". Formou-se um comentário sobre o fato de que ele não conhecia o Paraná, não podendo por isso vir a ser senador. Falei com Leite Chaves e pedi para que, no próximo comício, mostrasse a conhecer o Paraná, dizendo "eu, que fui de Foz do Iguaçu a Paranaguá e de Paranavaí à União da Vitória..." Assim traçaria o Paraná com um xis, mostrando conhecê-lo. No primeiro comício, Leite Chaves foi claro e disse: - Eu que fui de Foz do Iguaçu a Paranaguá e de Paranavaí a Vitória, Vitória... - quando disse-lhe ao ouvido, "União da Vitória" e ele continuou: - A Vitória da União!... xxx Em 15 de novembro de 1974 aconteciam as eleições. Leite Chaves obtinha 1.090.831 votos, enquanto João Mansur (que tinha como suplente Francisco Borsari Neto) ficava com apenas 703.354 votos. 200.719 votos em branco e os votos nulos foram [134.2215] - totalizando 2.129.125. Para a Câmara Federal, o MDB elegia 15 deputados, com Álvaro Dias (175.434), Antônio Belinatti (140.698), Alencar Furtado (86.413), Sebastião Rodrigues (73.443), Paulo Marques (50.078) como os mais votados. Nelson Maculan, que havia sido candidato ao governo em 1960 - e que voltou a política por insistência de Sebastiani (homem pobre, teve sua campanha financiada por Leite Chaves) fez 49.279 votos, mais do que Fernando Gama (48.337) e Antônio Martins Anibelli (45.555). No rolo-compressor que fez o MDB o grande-vitorioso em 14 estados do Brasil, no Paraná houve outras vitórias surpreendentes: Pedro Lauro Domareski, dono de uma banca de jornais e revistas que tinha sido prejudicada pelas modificações urbanísticas de Jaime Lerner na Prefeitura - e que aproveitou da forma mais brega para criticá-lo nos programas de televisão - foi o grande azarão com 6.119 votos chegou a Brasília, assim como Osvaldo Buskei (4.058), Gamaliel Bueno Galvão (3.060) e Expedido Zanotti (2.673). Foram eleitos ainda - só que com melhor votação - Walber Souza Guimarães (35.281), José Gomes do Amaral (26.395) e João Olivir Gabardo (24.632). xxx Para a Assembléia, o MDB fez 25 deputados. Os três mais votados foram Enéas Faria (86.595), Oswaldo de Macedo (agora candidato a candidato do PMDB a Prefeitura de Londrina) com 59.912 e Maurício Fruet (candidato forte a disputar pelo PMDB a Prefeitura de Curitiba) com 51.603 votos. A votação de Enéas e Fruet foi basicamente de Curitiba, confirmando a liderança que possuem no município.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
24/04/1992

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