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Memórias de dona Irene nos 50 anos de Serviço Social

Durante muitos anos a professora Irene Augusta Teixeira de Freitas, fundadora da Escola de Serviço Social do Paraná tinha um segredo: pouquíssimas pessoas sabiam que ela era religiosa, pertencente a Sociedade das Filhas do Coração de Jesus de Maria. Organização religiosa de origens da época da Revolução Francesa, uma das características desta congregação é a de dispensar suas integrantes do uso de hábitos religiosos. Assim, na maioria dos casos, suas integrantes não revelam o fato de serem religiosas - o que, pelas próprias finalidades as quais se voltam, faz com que o trabalho no campo da assistência social adquira melhor rendimento. Esta revelação foi feita pela religiosa e professora Irene Augusta Teixeira de Freitas, 85 anos completados dia 25 de janeiro último, num importante depoimento para o projeto Memória História do Paraná, realizado há algumas semanas. Apesar de alquebrada pela idade e por problemas de saúde, mas com a assistência de uma de suas maiores amigas, a professora e assistente social Raquel Maeder Gonçalves, dona Irene de Freitas recordou importantes aspectos dos primeiros movimentos organizados em termos de assistência social no Paraná, e, especialmente, a criação da Faculdade de Serviço Social, integrante da Pontifícia Universidade Católica. Coincidentemente, a gravação do depoimento da professora Irene adquiriu um registro de efeméride, pois foi há exatamente 50 anos - em setembro de 1940, que a diretora da Escola de Serviço Social do Rio de Janeiro, Germaine Marsaud, acompanhada de Stela de Faro, veio a Curitiba, buscando apoio junto à Juventude Feminina Católica. - "Lembro-me - disse dona Irene - da reunião realizada na antiga sede do Clube Curitibano, com um numeroso grupo de jovens, expondo os motivos da necessidade do Serviço Social ser encarado sob o ponto de vista científico, dos fins e da técnica indispensável para sua execução". A diretora da Escola de Serviço Social do Rio, a religiosa francesa Germaine Marsaud, em [...?], pela primeira vez que o tema era apresentado em Curitiba, falava do Serviço Social como um trabalho "que visava a cooperar para a capacitação dos indivíduos, dos grupos, das comunidades, a um consciente posicionamento no contexto social", lembra dona Irene, acrescentando que suas palavras impressionaram às jovens curitibanas ali reunidas, especialmente quando salientou: - "Só será justa uma sociedade que, em todos os seus níveis de organização, assegure à pessoa a realização dos direitos individuais e sociais". Na época, existiam duas escolas de Serviço Social no Brasil - a de São Paulo, fundada em 1936 e a do Rio, criada no ano seguinte. De prático, daquela primeira reunião, ficou estabelecida a criação de um modesto "Curso por Correspondência", anexo à Escola do Rio. Dona Irene foi indicada como coordenadora e o primeiro período do curso iniciou em setembro de 1940 estendendo-se até janeiro do ano seguinte. Além de coordenadora do curso, foi também aluna e, assim, após fazer exames de várias matérias, dona Irene iria fazer o curso efetivo na própria Escola do Rio, ali matriculando-se em abril de 1942. Em Curitiba, o curso funcionava na sede da própria Juventude Feminina Católica, no subsolo da casa de dona Maria Joana Braga Maristas. Na parte prática, havia visitas a obras sociais. Embora nem todas as alunas matriculadas continuassem o curso, em 1944, com apoio do então arcebispo Dom Ático Eusébio da Rocha, dona Irene achou que havia condições de fundar a Escola de Serviço Social que teve como primeira sede o Círculo de Estudos Bandeirantes. Em maio de 1945, começava a funcionar o primeiro ano, mas os programas, inicialmente, tiveram que serem adaptados, e só no ano seguinte houve normalização das disciplinas e carga horária. Dirigida por dona Irene Freitas, a Escola tinha nomes ilustres como professores: Bento Munhoz da Rocha, Padre Boleslau Falarz, Clotário Portugal, Ruy Leal, Homero Batista de Barros, José Negrini e Pedro Balaz. As primeiras alunas matriculadas foram: Maria Irene Piá de Andrade, Alice Souza Neto (que, anos depois, desenvolveria excelente trabalho na antiga Secretaria do Trabalho e Assistência Social), Maria Rulanski, Rachel Maeder Gonçalves, Maria de Lourdes Leão, Rosa Maria Mader, Dalva Borges Macedo, Yeda Rocha Loures e quatro jovens da família Teixeira de Freitas: Maria de Lourdes, Margarida Maria, Aida e Giselda. Em 1948, a Escola ganharia sua sede na Rua Jaime Reis, ali se instalando a Comunidade das Filhas do Coração de Maria, e no mesmo ano, graças a sensibilidade do então governador Moyses Lupion e, especialmente de sua esposa, dona Hermínia, para os problemas sociais, novas unidades (abrigo de menores, Asilo São Vicente, Centro de Formação Profissional para menores em Campo Comprido), abriram-se para treinamento das alunas, facilitando a prática de outras modalidades do Serviço Social. Mais tarde, em 1954, Bento Munhoz, firmou um convênio para treinamento de profissionais para desenvolver o programa da Fundação de Assistência ao Trabalhador Rural. Um programa pioneiro de formação de "auxiliares rurais", que valeu a Escola merecido destaque nacional. O reconhecimento oficial da Escola pela diretoria do Ensino Superior do MEC só viria em maio de 1956, e, no ano seguinte, ganharia sua sede própria - (e definitiva) na Rua Bento Viana, 795. Em 14 de março a Escola seria a primeira incluída na então recém criada Universidade Católica do Paraná. Em 1962, a assistente social Alice Souza Neto, da primeira turma, era nomeada diretora do Departamento de Assistência Social da Secretaria do Trabalho - o que não só favoreceu a organização dos estágios das alunas da Escola, mas representou uma ampla valorização das idealistas jovens que, desde 1945, vinham se dedicando a esta nobre profissão. Em 1963, dona Irene Augusta Teixeira de Freitas afastava-se definitivamente da Escola, substituída pela assistente social Rosa Sicuro, formada pela PUC-Rio de Janeiro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
01/08/1990
Após afastar-se da Escola do ´Rio de Janeiro, a Prfa. Irene Augusta Teixeira de Freitas, de quem tenho a honra de ser prima por ser filha do também educador Rosalvo Teixeira de Frei- tas veio para a Bahia e aqui em Salvador deu início à uma grande obra sócio-educativa, o Instituto Social da Bahia hoje um grande complexo educacional com ensino do fundamental à Universidade, e um Teatro, Capela. e salão de Recepções. A ùltima vez que estive com Tia Irene foi no Instituto social de Buenos Aires há mais de 30 anos porém jamais nos esquecemos da sua pessoa delicada e forte e do seu dinamismo. Maria José Pereira de Freitas Salvador - Bahia

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