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Aramis

Memórias de um grande jornalista, o Freitas

Jornalista não é notícia. Ele faz a notícia. Mas quando um jornalista desenvolve um trabalho profissional há mais de meio século e, memória privilegiada, passa a se constituir em uma das poucas fontes de nossa (ainda inexistente) história da imprensa paranaense (ver texto abaixo), tem que gravar o seu depoimento. Esta foi a razão que convenceu a João de Deus Freitas Neto, 68 anos a serem completados no dia 18 de dezembro, curitibano da Rua Paula Gomes, e que a partir dos 16 anos no campo de batalha jornalístico, a registrar um dos mais importantes depoimentos para a "Memória Histórica do Paraná", do qual, justamente, é o coordenador. Ao longo dos três anos em que este projeto vem sendo desenvolvido - hoje já aproximando-se de uma centena de depoimentos com pessoas das mais diferentes áreas - Freitas Neto sempre demonstrou não só o entrevistador seguro mas, por inúmeras vezes, fazendo observações de detalhes que, embora vividos pelos entrevistados, passariam desapercebidos - e mesmo esquecidos - se não fosse a sua participação no programa que vem preenchendo um espaço para a preservação da memória paranaense. xxx Filho de um notável jornalista, Rodrigo de Freitas (Morretes, 1888 - Curitiba, 1945), irmão de dois jornalistas igualmente brilhantes - Waldemar (1911-1944) e Wandick (1912-1968), João de Deus praticamente cresceu dentro da redação de "O Dia", na Praça Carlos Gomes, 24. É que após seu pai, redator chefe daquele matutino ter sofrido um atentado devido as corajosas campanhas oposicionistas que o jornal fazia, em 1928, Caio Machado, um dos donos, achou melhor que viesse residir no sobrado sobre a redação e oficinas. Ali, Freitas acostumou-se com o cheiro do chumbo nas oficinas, o dia a dia do jornal, de forma que aos 16 anos já decidia entrar na carreira. Não o fez, entretanto, em "O Dia", mas sim como repórter esportivo do "Diário da Tarde". Mais tarde passaria a repórter policial, quando a convite de Jorge Ribeiro (e seu pai que já havia deixado o "O Dia", dedicando-se apenas a produção de crônicas para a Rádio Clube Paranaense) ali permaneceria até 1942, chegando a redator chefe. Aprovado no vestibular de medicina em 1943, não chegou a freqüentar o segundo ano: convocado, ingressaria no 4º Escalão da FEB e entre janeiro a setembro de 1945, serviu na Itália. Como era estudante de medicina ficou junto ao Hospital do Banco de Sangue, em Montesse. Deste período guarda histórias excelentes, que seus muitos amigos insistem para que passe para um livro. Seria uma forma bem humorada, diversa dos relatos tradicionais dos "pracinhas" em torno na participação do Brasil na guerra - que Freitas, em sua modéstia, não se animou ainda a fazer. xxx "O jornalismo foi um incidente em minha vida. E que acabou ficando". Com esta frase, explica: de volta ao Brasil decidiu concluir o curso de medicina - mas trabalhando no Departamento de Turismo e Divulgação (antigo DEIP, da era getuliana, no qual já havia ingressado antes de ser convocado) e no "O Dia". Em 1951, recém formado, pensava em dedicar-se apenas a medicina quando o advogado Fernando Alves de Camargo, que associado a Aristides Mehry e José Luiz Guerra Rego haviam fundado "O Estado do Paraná", o convidou para assumir a secretaria de redação do novo jornal que tinha começado a circular no dia 17 de julho. Freitas surpreendeu-se, pois seu colega Samuel Guimarães da Costa ocupava o cargo, enquanto Nestor Ericksem era o diretor. A resposta de Fernando foi objetiva: - "O Samuel ficou apenas três semanas e já saiu. Diga quanto você está ganhando e pagarei 8 vezes mais". Proposta irrecusável para quem começava a vida. E entre agosto de 1951 a novembro de 1967 - 18 anos ininterruptos - Freitas foi o secretário de redação de "O Estado", consolidando este matutino. Só na direção da Imprensa Oficial do Estado teria uma permanência maior: entre março de 1962 a 23 de março de 1983, foi seu diretor geral. Quando assumiu, encontrou-a pessimamente instalada num velho imóvel na Rua Conselheiro Laurindo, com sérios problemas internos. Quando a deixou, 21 anos depois, era a primeira Imprensa Oficial de um Estado a possuir uma modelar sede - projeto do arquiteto Gustavo Gama Monteiro, totalmente custeada com recursos próprios da unidade, que subordinada a Secretaria da Justiça, foi, em sua administração, das mais rentáveis. Segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (1956-60) - sucedendo a Alceu Chichorro Jr., Freitas esteve sempre nas lutas sindicais, participando até hoje do sindicato do qual foi um dos fundadores. Uma coincidência: seu irmão, Wandick, que em 1938, a convite de Edmundo Monteiro, diretor dos "Associados" transferiu-se para São Paulo - dirigindo o "Diário de Santos", "Diário de São Paulo" e "TV Record" - também seria diretor da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, assumindo a convite de Jânio Quadros (que havia sido seu colega nos bancos do Grupo Zacarias), ali permaneceria por 23 anos, morrendo, aliás, no cargo. Wandick também foi presidente do Sindicato dos Jornalistas, em São Paulo, por três vezes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
31/08/1990

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