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Mesmo ausente, Sérgio Bianchi provoca polêmicas em Gramado

Gramado - Mesmo tendo seu "Romance" cortado pela comissão de seleção dos longas que disputam o XVI Festival de Gramado, o paranaense Sérgio Bianchi - que se encontra em Munique, onde seu filme representará o Brasil - acabou sendo motivo de polêmicas. A idéia levantada por alguns críticos paulistas - e que encontrou apoio de profissionais de outros Estados - de considerar o seu filme (que foi parcialmente rodado em Curitiba) como concorrente ao prêmio da crítica fez com que a sessão paralela, no entardecer de quinta-feira, no Cine Embaixador, no qual foi apresentado, tivesse mais de 100 espectadores entre nomes conhecidos do jornalismo e do meio cinematográfico. Com isto, ficou esvaziada a última sessão dos curtas e médias em 16mm no auditório do Centro de Convenções Serrano, quando justamente, era apresentado "Bruxas", do também paranaense Mauro Faccioni Filho, de Apucarana, mas radicado em Florianópolis - que no palco fez seu protesto - pela "maldita coincidência" - aliás, título do primeiro longa de Serjão e que foi o filme que inaugurou o Cine Groff. Na tarde deste sábado, quando os críticos se reunirem para decidir qual o filme que merece a independente premiação jornalística, "Romance" - mesmo não competindo oficialmente - estará sendo discutido e votado. Com algumas chances de ser o escolhido - o que representaria um "desagravo" à sua não inclusão na competição oficial. Em compensação, devido a esta rebeldia da crítica - em considerar como premiável um filme não concorrente oficial - significa que este ano não haverá Kikito - o troféu em madeira, criado pela artesã gramadense Elisabeth Rosenfeld (1929-1980) que hoje é símbolo do festival - para o filme premiado pela crítica. A decisão foi oficializada pela comissão organizadora junto ao jornalista Nelson Holfeldt, da Manchete, correspondente no Brasil da "Variety" é que, a exemplo dos anos anteriores, coordena o prêmio da crítica. Um Homem e Uma Mulher - Após a sessão da noite de quinta-feira, em que foram exibidos além de três curtas - "532", de Aníbal Damasceno Ferreira e Ênio Staub, "Barbosa", de Ana Luíza Azevedo e Jorge Furtado, ambas produções gaúchas (hoje - 3o. pólo cinematográfico do país, com excelente produção) e o emocionante "Meninos de rua", de Marlene França - os longas "A menina do lado" de Alberto Salvá e "Sonhos de menina moça", de Teresa Trautman, cresceu o favoristismo entre "Feliz ano velho", do paulista Roberto Gervitz, do best-seller de Marcelo Rubens Paiva (aqui presente, como uma das personalidades mais requisitadas) e "Dedé Mamata", do carioca Rodolfo Brandão, do romance de Vinícius Viana - também aqui presente. Teresa Trautman, que em 1973 realizou "Os homens que eu tive", proibido pela censura por 10 anos, exigiu que seu filme fosse exibido na quinta-feira - e não na terça (quando faria dobradinha com "Luzia Homem", de Fábio Barreto), para tanto fazendo pressões junto à direção do festival. Ironia: assim, seu filme - decepcionante, arrastado que se pode chamar de "o declínio do império carioca" pelas influências (mal absorvidas) do excelente "O declínio do império americano" (em sua estrutura de discussão de problemas de sexo e relacionamentos humanos, entre muitos personagens) acabou formando dupla com o igualmente decepcionante "A menina do lado", de Alberto Salvá. Teresa e Salvá (cujo melhor filme é o pouco conhecido "Um homem sem importância") foram casados por cinco anos e a imprensa ironizou a "reconciliação" visual do casal na tela do cine Embaixador. Apesar de um elenco surpresa feminino (Tonia Carrero, Louise Cardoso, Marieta Severo, Selma Egrei, Monique Lafond, Xuxa Lopes, Zezé Motta etc.), "Sonhos de menina moça" peca por um roteiro confuso, tornando difícil o entendimento das relações dos personagens e, de uma maneira geral, decepcionou o público que esperava mais deste filme de produção sofisticada, uma idéia interessante (que a diretora diz ter acalentado por 10 anos) - a reunião de uma família burguesa numa festa num aristocrático palacete no Rio de Janeiro, que a matriarca (Tonia Carrero) acaba de vender - e durante a qual afloram conflitos sexuais e pessoais entre a família. As citações intencionais - como uma seqüência inspirada em "Daunbailó" (Down by law, 87, de Jim Jamurschi) - na qual a trilha sonora (competente) de Guto Graça Mello, inclui inclusive a música original de Tom Waits daquele filme. Pelo clima de discussão de problemas sexuais, entre pessoas de um alto estilo de vida, as lembranças do ótimo "O declínio do império americano" afloram, pena que sem a categoria do filme do canadense Denis Arcand. Também "A menina do lado", de Alberto Salvá - que, em novembro de 1987, já havia tido uma pré-estréia no IV FestRio - não resiste a uma visão mais rigorosa: a paixão de um jornalista de 45 anos (Reginaldo Farias), que numa cidade do litoral carioca procura escrever um livro, por uma ninfeta de 14 anos (Flávia Monteiro, também no elenco de "Sonhos de menina moça") não consegue passar a carga emotiva e o lado da fantasia sexual de um quarentão por uma ninfeta - que há 30 anos, o russo Vladimir Nabokov tão bem desenvolveu no clássico "Lolita", transposto à tela por Stanley Kubrick. Com exceção de "A dama do cine Shangai", do paulista Guilherme de Almeida Prado, último filme em competição, exibido sexta-feira - definiram-se de certa maneira os favoritos: melhor filme e direção entre "Feliz ano velho" e "Dedé Mamata", embora "Eternamente Pagu", de Norma Bengell possa levar alguns troféus. Eva Wilma, por menos de 12 minutos de atuação em "Feliz ano velho" pode sair de Gramado com o prêmio de melhor atriz coadjuvante - embora sua companheira de elenco Isabel Ribeiro, também tenha condições para isto. Mas Isabel concorre também pela sua magnífica atuação em "A voz da felicidade", do gaúcho Nelson Nadotti - um dos mais emocionantes curtas aqui apresentados. Mas, ao longo de suas 15 edições, os júris de Gramado têm apresentado surpresas de última hora, que só na noite de sábado, com transmissão pela televisão - é que se saberá os resultados após a exibição hors concours de "Romance de empregada", de Bruno Barreto, com Betty Faria e Daniel Filho - mais dois nomes globais, que, se somando a pelos 100 outros artistas e cineastas fazem de Gramado, neste final do festival, compensar nas ruas, com frio e chuva, a falta de estrelas no céu - escuro e ameaçador de trazer até nevadas neste fim-de-semana. LEGENDA FOTO: "Romance", de Sérgio Bianchi, causando polêmica.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/06/1988

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