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Aramis

Morozowicz, o brasileiro de ponta para exportação

Apenas três letras do final do sobrenome, mas quanta confusão! Inúmeras vezes a família Morozowski, de origem ucraína (embora com algum cruzamento polonês), tem sido confundida com os artísticos Morozowicz, cujo ramo curitibano tem raízes mais recentes - a partir da chegada do velho Thadeo (1900-1082) em Curitiba, há 65 anos passados e aqui instalando a primeira academia de danças. No sábado, graças a um grande amigo comum, o arquiteto Alexandre Kracinski (filho de poloneses), 47 anos, dono da fábrica de móveis Dimenzo e, sobretudo, conhecido como gastrônomo ("Charles de Gula"), dois dos mais conhecidos descendentes das duas famílias afinal se conheceram melhor. Norton, 44, flautista e maestro, Morozowicz - com "cz" no final do sobrenome e Edson Morozowiski, 47 anos, arquiteto e professor da cadeira de planejamento do curso de arquitetura da Universidade Federal do Paraná. xxx Deixando a teoria - a crônica de onde comer bem em Curitiba, que caracterizou sua lida página dominical no "Almanaque" editado por mais de três anos (mas a qual promete voltar a fazer), Alexandre Kracinski decidiu partir para a prática: ao lado de sua musa inspiradora, a suave Laura, associou-se a uma outra musa, das panelas, a encantadora Eliana Amaral, para reciclar um restaurante que até há pouco funcionava anonimamente ("DeMassa", Rua 7 de Abril, 324, fone 264-3016). Redecorando o ambiente e, principalmente, colocando seu internacional know-how na cozinha - ainda com o forte nas massas, mas que deve ser diversificada (inclusive com a fértil culinária eslava), Kracinski, pessoalmente, mostrou sua habilidade preparando uma feijoada light testada por alguns poucos amigos. Assim, entre garfadas de um prato com tempero especial e bebericando muita cerveja, Norton e Edson - mais a esposa deste, a artista plástica Berenice - trocaram receitas e confidências sobre confusões que constantemente acontecem em conseqüência dos sobrenomes tão próximos - sem serem parentes. Uma idéia já nasceu: promover um maior encontro dos descendentes das duas famílias para verificar se não há mesmo algumas relações interfamiliares no passado - "que se não der samba, dará ao menos bons momentos de confraternização", diz o sempre espirituoso Alexandre. Norton, em sua recente viagem a Europa, como regente da Orquestra de Câmara de Blumenau teve uma grande alegria: em um dos concertos na Alemanha, foi procurado por uma encantadora velhinha de cabelos brancos, que se identificou como Frida von Morozowicz, viúva de Klaus von Morozowicz (1902-1989), que, embora com o sobrenome polonês, pertencia a uma família da nobreza da Baixa Baviera. Tendo recebido - não se sabe como - um dos nove discos que a Orquestra de Câmara de Blumenau já gravou (todos de alta qualidade), o velho Klaus chegou a escrever para Norton e seu irmão Henrique. "Infelizmente ele morreu antes de poder conhecê-lo, mas sua viúva, quando soube que eu iria reger um concerto em sua cidade, ali compareceu e procurou-me ao final. Foi emocionante!". xxx Curitibano da Alameda Cabral, mas hoje internacional, Norton acaba de merecer uma espontânea consagração. No sábado, 24/01/91, o suplemento "Idéias & Ensaios", do "Jornal do Brasil", dedicou duas páginas a um belíssimo artigo do jornalista Tarik de Souza mostrando que Antônio Carlos Jobim é hoje um competidor de nível mundial - segundo mais executado nos Estados Unidos (abaixo apenas de Lennon e McCartney), e que com seu perfil, talhado a Villa-Lobos, Debussy e Stravinsky, ergue-se como um projeto de clássico popular (como Kurt Weill e Gershwin). Ao lado de Tom Jobim, Tarik selecionou 9 exemplos de brasileiros e duas instituições que podem ser considerados "Brasileiros de Primeiro Mundo". Assim, ao lado de João Cabral de Melo Neto (poeta), Gerald Thomas (dramaturgo), Iberê Camargo (pintor), Marília Pera (atriz), João Gilberto (cantor), Nelson Freire (pianista), Burle Marx (paisagista), Cecília Kerche (bailarina) e Milton Montenegro (fotógrafo de publicidade), democraticamente, o crítico do "Jornal do Brasil" indicou uma banda de rock - Sepultura - e a Orquestra de Câmara de Blumenau, à qual dedicou oito linhas: "Considerada há alguns anos a melhor orquestra do Brasil. Regida por Norton Morozowicz, fez ano passado uma bem sucedida turnê pela Europa. Destaca-se por trabalhar com grandes solistas, como a pianista Ingrid Haebler, uma das maiores mozartianas da atualidade".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
05/03/1991

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