A morte na estrada
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de novembro de 1977
Domingo, quando viajava de automóvel para Curitiba, o compositor, cantor, ator e escritor Fernando Lona morreu num violento acidente da BR-116. Há menos de 10 dias, registramos nesta coluna o show que faria no Paiol, a partir de quinta-feira, dia 10: "De Cordel e Bordel", acompanhado por Vidal França e Bando de Macambira. Fernando Lona era conhecido mais como parceiro de Geraldo Vandré em "Porta Estandarte", belíssima marcha-rancho, que defendida por Airto Guimorvan Moreira e Tuca, no Festival da MPB, da TV-Excelsior, em 1966, ficou em primeiro lugar.
Fernando Lona, baiano de nascimento, gostava de se dizer "contador de estórias, pois escritor é muito pomposo". Seu primeiro livro, "Romance Desastroso de Josiano e Mariana", luxuosa edição da McGraw Hill, escrito como literatura de cordel, podia, até ontem, ser encontrado em algumas livrarias. No programa do show que apresentaria no Paiol, a partir de quinta-feira, Lona dizia já ter feito muita coisa na vida artística, coisas bem divertidas até, mas de uma não abria mão: seu Nordeste. Na música como na vida o Nordeste era sua realização, seu ideal. Em suas muitas músicas - poucas gravadas (um lp da Copacabana, com a trilha sonora da telenovela "Céu Amarelo", outro, "Cidadão do Mundo", lançado há alguns meses pela Tapecar), Lona cantava o homem, a mulher, a terra, o cangaço, a planta, a dor, a alegria, o sol, a chuva, a desesperança, a invencionice, o amor rude, o ódio desembestado.
Fernando viajou muitos caminhos, esteve na Europa e em vários Estados. Em Curitiba, que a gente lembre, nunca se apresentou artisticamente se por aqui passou foi anonimamente. Morando ultimamente em Salvador, onde fazia jingles para a JS, única gravadora da boa terra, Lona aparecia, volta e meia, por São Paulo, onde fez trilhas sonoras para filmes e desenhos didáticos, realizados por seus amigos Rosa e Jorge Jonas, da Espiral.
Enviar novo comentário