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Aramis

Mostra de cinema para 89 e um debate sobre a exibição

Amanhã deverá ser definida a programação final de "Cinema 89 - Mostra Internacional de Cinema de Curitiba (Cine Plaza, 1º a 7 de dezembro) com pré-estréias de 35 filmes que só dentro de 90 a 180 dias terão exibição regular nos circuitos comerciais. Idealizado e produzido por José Augusto Iwersen, curitibano, há 5 anos em São Paulo onde edita a revista "Vídeo Filme", esta amostragem não será mais aberta pelo polêmico "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorcese, por uma razão simples: a CIC - Universal, obtendo a liberação do filme, antecipou sua estréia nacional (Cine Condor, dia 12, pré-estréia para a imprensa na próxima quinta-feira, dia 3). O filme de Scorcese estava também previsto para abrir o FestRio (17 de novembro, Cine Roxy), mas até a sua liberação, a Universal não quer correr riscos: antes que os protestos da Igreja se avolumem e acabem provocando uma proibição do filme, o melhor é lança-lo no maior número possível de salas. Especialmente porque há seis meses, a hipocrisia conservadora que combate (sem conhecer) a obra de Scorcese, está ajudando-o a transformá-lo no maior sucesso de bilheteria dos últimos anos. Protestos, atentados, explosões nos cinemas, etc. - e a proibição do governo de Israel, só contribuem para fazer com que "The Last Tentation of Christo" entre na categoria de filmes-escândalos. Há 4 anos, isto acontecia com "Je Vous Salue, Marie", de Godard - que iria abrir o I FestRio. Proibido de exibição devido ao temor que o então recém empossado presidente José Sarney demonstrou frente a pressão do Conselho Nacional de Bispos do Brasil, o filme acabou sendo esquecido - já que o próprio distribuidor, o mineiro Hilton Rocha, dono da Alvorada (ex-Gaummont), atendendo apelo de sua mãe, uma beata mineira, decidiu que não iria exibir a fita no Brasil. xxx O filme de abertura da mostra "Cinema 89" não está ainda definido, mas poderá ser "Fogo e Paixão", uma produção paulista, independente - que, em sua primeira projeção durante a XIII Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, obteve os melhores elogios. A montagem desta comédia que reúne um elenco all star é do curitibano Mauro Alice. Possivelmente, a abertura da Mostra será no auditório do Clube Curitibano, já que a diretoria cultural da sociedade entendeu a importância do evento. Além de uma dezena de jornalistas e críticos de veículos nacionais, que aqui estarão, a Mostra "Cinema 89" deve também reunir os principais exibidores da Região Sul, para conhecerem os filmes que estarão sendo lançados no primeiro semestre do próximo ano. Aproveitando a presença dos homens que comandam a exibição planeja-se uma grande mesa-redonda, para discussão da grave crise do cinema, com esvaziamento cada vez maior das salas. Os dados são impressionantes e basta lembrar dois exemplos. Na sexta-feira, 14, Aleixo Zonari foi obrigado a pedir à Warner uma cópia de "Nascido para Matar" (Born do Kill, 1987, de Stanley Kubrick) para substituir a "Padre Nuestro", 1985, de Francisco Regueiro, filme que representou a Espanha em Cannes há 3 anos e foi escolhido o melhor filme do Festival de Montreal, em 1986. Com dois atores famosos pelos filmes que fizeram com Luís Bunuel - Fernando Rey e Francisco Rabal - e abordando uma temática polêmica (a corrupção de um cardeal espanhol, de volta à sua aldeia natal após ter ocupado altos cargos no Vaticano), "Padre Nuestro" não conseguiu ter uma única projeção: apenas 2 (dois) espectadores apareceram no Cinema I. "Pagu", de Norma Benguel, que inaugurou o Cine Guarani, no Centro Cultural do Portão, na terça-feira, 11, teve em uma semana apenas 80 espectadores - o que obrigou o cancelamento de várias sessões. Excluindo-se a badalada (por razões políticas, já que tudo foi feito para promover a candidatura de Maurício Fruet) sessão de inauguração - com sala lotada, a freqüência nos outros dias foi mínima. Embora no Cine Ritz a freqüência também seja reduzida (menos de mil espectadores nos primeiros sete dias), o filme de Norma Benguel sobre a feminista Patrícia Galvão (1912-1962) continuará mais uma semana em exibição. Experientes homens da cinematografia acham que vai demorar para que o Cine Guarani consiga formar público. Mesmo com toda a badalação política orquestrada pela Fucucu e o fato de ser uma nova sala, o público daquele bairro está apático. Como sempre, a Fucucu apela para reprises, para ver se melhora a bilheteria, ali relançando hoje "Blade Runner - O Caçador de Andróides", o cult movie de Riddley Scott. Não custa recordar que inaugurado em 1955, por Ismail Macedo, o antigo Cine Guarani - que ficava na Avenida Republica Argentina - começou a ter sua decadência comercial na metade dos anos 60. O exibidor Alberto Manassés foi o último que tentou manter a casa em funcionamento, mas acabou desistindo, quando cinemas de bairro inviabilizaram-se. Imagine-se hoje, com a televisão muito mais desenvolvida e o boom do vídeo (mesmo junto a faixas da classe média baixa da população) a dificuldade de lotar um cinema de bairro! xxx Levi Cordeiro, 48 anos, 33 de cinematografia, o homem da Embrafilme no Paraná, acredita que só mesmo com uma grande reestruturação em termos de marketing será possível trazer novamente público para as salas. Em sua opinião, uma fórmula seria voltar a adotar a carteira de estudante, com ingressos reduzidos em 50% (atualmente, os ingressos variam de Cz$ 400,00 a Cz$ 600,00). A Embrafilme já lançou todos os filmes disponíveis para 1988 - a não ser alguns que estão ainda em disputa em festivais, como os documentários "Abolição", de Zózimo Bullbul, "Brascuba", de Orlando Senna (e do cubano Santiago Alvarez) e "Memória Viva", de Octávio Bezerra (os três concorrendo em Brasília, nesta semana). Exceto "Xuxa Contra o Baixo Astral" e "Os Super Heróis Trapalhões" (filmes que não foram distribuídos pela Embrafilme), a renda tem sido fraquíssima. "Feliz Ano Velho", de Roberto Gervitz, vem se constituindo numa tênue exceção, pois como já fez 1.700 espectadores neste seu retorno ao Luz, ali continuará por mais uma semana. Em compensação, "A Menina do Lado", de Alberto Salvá, com toda a promoção que o jovem Dino Bronze fez em sua sessão de estréia, não passou de 3.800 espectadores no Bristol. Em Florianópolis, já em terceira semana, alcança 10 mil espectadores. - "Pelo visto, os catarinenses gostam mais do cinema brasileiro" - diz o experiente Levi.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
30/10/1988

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