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A MPB ameaçada de perder seu espaço na Secretaria

Deve-se a sensibilidade do professor Renê Dotti, quando secretário da Cultura, a criação de uma Divisão de Música Popular, que ligada à Coordenadoria de Ação Cultural, desenvolveu entre 1989/90, um bom trabalho de estímulo e difusão de nossos artistas. Coordenada inicialmente pelo compositor Cláudio Ribeiro (hoje na subchefia da Casa Civil do Palácio Iguaçu) e, posteriormente, com o entusiasmo de Lucimar de Castro, a divisão fez de uma pequena unidade a Sala Janguito do Rosário, integrada fisicamente à Sala bento Mossurunga e à Biblioteca Renee Devrainne Frank, um núcleo destinado a priorizar o setor musical do Paraná. Mesmo com limitações de orçamento - e ainda sofrendo problemas burocráticos, estas unidades desenvolveram um bom trabalho na administração do secretário Renê Dotti. Idealizado por Lucimar de Castro, o Programa Músicos do Paraná, promoveu entre abril a dezembro de 1990, 56 apresentações de compositores, intérpretes e músicos paranaenses no auditório Antonio Milillo. Paralelamente foram feitas gravações em áudio dos participantes e providenciada documentação informativa, numa primeira etapa para um futuro levantamento mais amplo da música paranaense - inclusive com um inventário sobre nossa discografia, idéia que à anos espera execução. Outro válido programa desenvolvido no mesmo período foi a série "Concertos para Juventude", com 5 apresentações nas manhãs de domingo, no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, valorizando nossos talentos - dando a músicos e cantores populares uma oportunidade que antes nunca tiveram: a de chegar, como intérpretes centrais, em nosso teatro oficial. xxx Infelizmente, na atual administração da secretária Gilda Poli, a divisão de música Popular teve suas atividades praticamente congeladas. Interromperam-se os programas que existiam e não criaram novos canais de realizações, motivos de queixas constantes de nossos artistas. Agora, tem-se a notícia de que modificações físicas a serem feitas dentro dos espaços da Secretaria da Cultura colocam em risco a existência da Biblioteca Renee Deravainne Frank - que tem por finalidade reunir bibliografia e documentação musical, e a própria Sala Janguito do Rosário. Dispondo de uma das melhores sedes físicas entre todas as secretarias e fundações culturais do país, a pasta que ocupa há 12 anos as instalações da antiga Secretaria da Educação e Cultura, historicamente o Gimnásio Paranaense, é bastante estranho que unidades instaladas em bons espaços - após custosas reformas - venham novamente a serem modificadas. Muito mais importante do que fazer mudanças físicas, com gastos discutíveis de recursos para "reformas", será estabelecer uma programação ativa, capaz de dar condições a que nossos artistas possam desenvolver projetos. É triste saber que nos últimos dois anos nenhum disco de compositor paranaense teve condições de ser viabilizado, embora a [idealista] Mara Fontoura, do Estúdio Gramophone, tenha bancado a gravação de um elepê com intérpretes e autores locais e um álbum em homenagem aos 70 anos de Carmem Costa. Só que faltam recursos para a execução das capas e a prensagem destes discos. O único álbum com valorização de nossos autores-intérpretes foi o que outro idealista, Sérgio Bittencourt, nos bons tempos do Habeas Coppus produziu no segundo semestre de 1990, com direção de Arcy Neves (ex-Metralhas, agora dirigindo uma casa de shows em Florianópolis). xxx Enquanto no Paraná, as poucas iniciativas em favor de nossos talentos musicais deve-se a idealistas como Mara Fontoura ou Serginho Bittencourt - mas que, naturalmente, não dispõem de recursos para fazerem o mero mecenato - no Rio Grande do Sul, a produção fonográfica é invejável: mensalmente mais de 20 novos títulos, em elepês em vinil, CDs e mesmo vídeos, mostram a pujança da criação regional, que hoje já passa de 10 mil produções. Em Santa Catarina, também tem acontecido algumas produções artísticas - mas que apesar da vizinhança geográfica, aqui são desconhecidos. Em São Paulo, o jornalista Wlademir Araújo, que entre 1962/63 dirigiu a sucursal do Paraná da "Última Hora" e hoje é o editor do excelente "Leitura" publicação cultural da Imprensa Oficial do Estado, dedicou sua edição de fevereiro a "Música Popular Paulista". Excelentes textos de José Ramos Tinhorão (com um provocativo artigo de 2 páginas intitulado "Salvador deu capoeira, recife deu frevo, Rio deu samba. E São Paulo: não deu nada?"), Alberto Ikeda ("A música popular dos tempos da modernidade paulistana"), Régis Duprat ("A nova onda da música sertaneja"), Antonio Pereira da Silva ("A solidariedade em Adoniran Barbosa"), Maria Madalena Bernadeli ("Breve histórico da música caipira"), Maria Helena Pires ("A Nova Música Popular"), Assis Angelo ("São Paulo e o "samba mais pesado"), Wladimir Araújo ("Trova popular paulistana musicada em 1818") e um perfil de Assis Angelo sobre o injustamente esquecido compositor e intérprete Germano Mathias, "D.O leitura" pode ser solicitado à Rua Mooca, 1921, CEP 03103,SP. xxx A Secretaria da Cultura do Paraná e a Imprensa Oficial do Estado mantém também um jornal cultural: "Nicolau". Seria interessante que o seu editor - sempre tão preocupado em abrigar textos de colaboradores de outros estados - se lembrasse de criar edições temáticas, como tão inteligentemente Wladimir Araújo vem fazendo em São Paulo. FOTO LEGENDA: Fundadora e líder do hoje desativado grupo vocal As Nymphas, a compositora-cantora Mara Fontoura produziu através de seu estúdio um disco em homenagem aos 70 anos de Carmen Costa que ainda não pode ser concluído devido a falta de patrocínio. Também organizou um álbum com compositores e intérpretes paranaenses igualmente inédito.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
11/03/1992

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