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Aramis

Muita música instrumental de qualidade à disposição

Edgard Duvivier é um exemplo da nova geração de instrumentistas com formação internacional. Filho de família das mais tradicionais do Rio de Janeiro, estudou saxofone em Berkeley e vem desenvolvendo uma carreira segura, extremamente sofisticada. O casamento com a cantora Olívia Byghton - uma das vozes mais perfeitas surgidas nos últimos anos - aproximou dois seres de extrema sensibilidade. Em seu primeiro álbum-solo ("Música-Imagem", Continental), que passou despercebido, Duvivier, autor de todas as faixas, construiu um disco que se aproxima de linguagem new age, com requintes extremos nos arranjos, participação de músicos de maior competência e a presença vocal de Olívia em duas faixas ("La Femme D'En Face" e "O Pequeno Príncipe"). A exemplo de Egberto Gismonti, Duvivier também voltou-se como temática do seu mundo dedicando temas a Olívia, ao filho Gregório e à segunda filha, Bárbara, que ainda não havia nascido na época da gravação. Entre os discos instrumentais lançados este ano, "Música-Imagem" é o mais requintado e que além de revelar Duvivier como instrumentista seguríssimo, sensível compositor, mostra-o também como bom escritor, nos textos do encarte explicando o clima de criação de cada um dos seis "movimentos" desta sinfonia instrumental-familiar realizada com tanto amor. Rildo Hora, pernambucano de Recife, 51 anos completados dia 20 de abril, é, ao lado de Maurício Einhorn, o grande executante de harmônica-de-boca no Brasil. Mas é também violonista, compositor, a quem artistas como Beth Carvalho e Martinho da Vila devem seus melhores discos. Dedicando-se durante anos à produção fonográfica (foi o executivo na realização dos primeiros discos de João Bosco e dos cinco do grupo Fundo de Quintal), Rildo estava meio afastado como artista mas, felizmente, retornou com intensidade, e depois de ter feito dois primeiros em que cantava, autoproduziu-se nos quatro últimos - mesmo esquema que adotou em "Autonomia", seu novo elepê, co-produzido com a Vison e que divide com um extraordinário violonista, Romero Lubambo, desconhecido fora do Rio de Janeiro, onde, no início dos anos 80, era atração do musical do musical bar "Viro do Ipiranga". Há 5 anos nos EUA - onde tem trabalhado com jazzistas como Gillespie, Herbie Mann e Paquito Riviera - Lubambo veio ao Rio especialmente para a gravação de "Autonomia" - que em 1991 será lançado em CD em 25 países da Europa e Ásia. Das dez faixas deste excelente disco instrumental, pelo menos oito não poderiam deixar de constar em qualquer antologia da música popular brasileira que se preze. Revisitando sucessos antigos ("Da Cor do Pecado", 1939; "De Conversa em Conversa", 1947) ou relativamente recentes ("Sampa", 1978; "Beijo Partido", 1980), Hora e Lubambo esbanjavam competência e brasilidade, sem precisar recorrer a nenhum tipo de rebuscamento formal. Nonato do Cavaquinho não chega ao requinte de Cazés neste instrumento que Waldir Azevedo consagrou. Mas tem sua grande comunicabilidade e charme, o que o faz um instrumentista de muita popularidade especialmente no Nordeste. Em "Soy Loco Por Ti América", Nonato embarca na onda da lambada mas misturada a homenagens a Ary Barroso ("No Tabuleiro da Baiana", "Aquarela do Brasil", "André de Sapato Novo"), Gilberto Gil ("Soy Loco..."), Zuzuca ("Festa para um Rei Negro"), com várias composições próprias e encerrando com uma versão muito especial de "América" (Bernstein/Sondheim), do musical "West Side Story" e a faixa que dá título ao disco, de autoria de Ulisses Hermosa Gonzales. Robertinho do Recife foi um dos muitos nordestinos que sob as asas protetoras de Fagner, quando estrela maior da CBS, trouxe uma legião de amigos para gravar. Guitarrista de grande força, Robertinho fez carreira brilhante e acabou indo para os EUA. Só que lá, ao invés de estudar e desenvolver sua técnica, acabou caindo no inferno das drogas. Foi ao fundo do poço e quando voltou ao Brasil, viciado em heroína, pirado, teve que passar longo tempo em hospitais e até num convento, onde conseguiu reerguer-se. Hoje, recuperado, Robertinho retorna com um elepê da maior voltagem (EMI-Odeon), catapultuado [catapultado] pela sua belíssima interpretação de "No Mundo dos Sonhos" (Pepperland), de George Martin, que foi escolhida para abertura da telenovela "Pantanal". Ao estilo Waldo de Los Rios, na guitarra pop, com peruca e trajes da época de Mozart na capa do elepê, Robertinho dedica "Vôo de Ícaro" a Mozart e ataca no lado A com seus arranjos incrementados de quatro temas clássicos: "Bolero de Ravel", "Noturno nº 10" (Chopin), a número cinco das "Bachianas Brasileiras" (Villa-Lobos) e "Concerto para Uma Voz" (Saint-Preux). No lado B estão "Batman Rock" de Lincoln Olivetti (tecladista em participação especial) e mais quatro composições próprias: "A Dança da Sedução", "Fim da Guerra da Montanha", "Transcendental" e "Pole Position" - com o subtítulo de "A Sinfonia dos Motores" é dedicada a Ayrton Senna. Sérgio e Odair Assad estão hoje no ranking dos melhores violonistas clássicos do mundo. Vivendo e trabalhando mais no Exterior do que no Brasil, contratados da Nonesuch - a mais sofisticada etiqueta do grupo Warner, têm feito excelentes discos, lançados em CDs nos Estados Unidos e Europa, mas raramente chegando ao Brasil. Por isto merece destaque a iniciativa de André Midani, da WEA, em ter lançado, já há tempos, o belíssimo "Alma Brasileira". Como registrou Cláudio Júlio Tognolli, da "Folha de São Paulo", trata-se de um dos melhores duos da atualidade - tecendo obras de Gismonti, Marlos Nobre, Heitor Villa-Lobos, Hermeto Paschoal, Wagner Tiso e Radamés Gnatalli. Assim, salta das faixas uma sonoridade límpida, obtida através de oito horas diárias de estudo. Para consegui-la, os irmãos Assad adotaram a técnica consagrada de Segovia, de "ferir" as cordas do instrumento com uma parte das unhas e outra da carne da ponta dos dedos. Uma música com o toque da carne da dor com resultado primoroso. Com isto, os Assad são personalidades na Europa, cultuados também por guitarristas pop como Steve Hackett, Steve Howe e Steve Morse - mas, inexplicavelmente, ainda pouco conhecidos e divulgados em nosso país.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
5
23/09/1990

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