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Aramis

Muito pouco Brecht em 30 anos de palco

A série de eventos que o Goethe Institut está patrocinando a propósito dos 30 anos da morte de Bertolt (Eugen Friedrich) Brecht (Augsburg, 10/2/1898 - Berlim Oriental, 10/8/1956) estimulou as jornalistas Celina Alvetti e Lúcia Camargo a fazerem uma pesquisa sobre o que foi encenado da obra do dramaturgo alemão, nos palcos de Curitiba, nos últimos 29 anos. O resultado é melancólico: das seis peças aqui apresentadas, apenas uma teve montagem profissional ("Schweyk na II Guerra Mundial", direção de Cláudio Corrêa e Castro, de 26 de outubro a 3 de dezembro de 1967) e das cinco outras, a maior parte foi realizada por alunos do Curso Permanente da FTG. xxx A montagem pelo TCP de "Schweyk", em 1967, foi uma das mais bem sucedidas produções do Guaíra, na época em que a competência do superintendente Otávio Amaral fazia com que aquela instituição realizasse um trabalho mais profícuo do que o melancólico resultado de nossos dias. Cinco anos depois, já uma montagem semiprofissional, como prova dos alunos do CPT, com direção de Clóvis Levi, houve a encenação de "A Alma Boa de Set Suan" - que, na montagem original, profissional, de Maria Della Costa, os curitibanos haviam visto na década de 50, talvez, quando pela primeira vez se trouxe um Brecht ao Paraná. Pontos altos da montagem de Clóvis Levi foram a utilização de música de Márcia Constantino, suave compositora, hoje radicada em Londrina e um criativo filme de Elimar Szaniawski, hoje próspero advogado e que congelou suas ambições cinematográficas. xxx Após inúmeras pesquisas, Celina e Lúcia concluíram que o primeiro texto de Brecht montado em Curitiba foi "Terror e Misérias no III Reich", apresentado durante a semana do calouro da Universidade Federal, em abril de 1967, com direção de Walmor Marcelino. Naturalmente houve problemas com a censura e com o DOPS, que via a produção do Teatro do Estudante Universitário, no mínimo, como "uma provocação". No final de 1968, os alunos do primeiro ano do CPT, montaram outro texto (dos menos conhecidos, aliás), de Brecht: "O Julgamento de Lúculo". "A Alma Boa de Set Suan" foi a única produção paranaense montada integralmente que cumpriu temporada regular em Curitiba, na década de setenta. As outras peças foram "Galileu Galilei" e "Mãe Coragem", das quais foram extraídas cenas para interpretação de alunos do CPT como prova pública, em 1976 e 1979, respectivamente. É dos anos 70, ainda, a leitura dramática de "Brecht Segundo Brecht", realizada durante a Semana do Calouro da UFPR em 1975 com o grupo Gil Vicente. Nos anos 80 já houve duas montagens: em 1981, "Os Horácios e os Curiácios", com o grupo Simples Mente e "Tambores da Noite", com os alunos do 3º ano do CPT. E outras produções que não foram finalizadas, como "A Exceção e a Regra", pelo Grupo Oficina I (1983) e "O Sr. Puntila e seu criado Matti", um ano antes, pelos formandos do Curso Permanente de Teatro. xxx "O Sr. Puntilla e seu criado Matti", superprodução que se constituiu numa das primeiras montagens com direção de Flávio Rangel, um elenco de nomes famosos (incluindo Ítala Nandi, Ítalo Rossi, Jardel Filho, Thelma Reston etc.), teve sua estréia nacional no Salvador de Ferrante, em agosto de 1966 - dentro das comemorações dos dez anos da morte de Brecht. Aliás, seria interessante levantar, ao lado das montagens locais de textos do dramaturgo de Augsburg, também as suas peças que, encenadas por grupos (profissionais ou amadores) de outros Estados, aqui trazidas nestes últimos 20 anos. O Oficina trouxe "Galileu, Galilei" e, mais tarde, dois de seus integrantes, Renato Borghi e Esther Góes encenaram no Paio "Terror e Misérias do III Reich". Em vários festivais de teatro amador aconteceram conferências e debates sobre a obra de Brecht e montagens amadorísticas de seus textos. Trinta anos após a sua morte, Brecht continua vivo, atual e necessário de ser conhecido e discutido, o que tornou oportunas as exposições, palestras e concertos do duo Heiner Goebbels/Alfredo Harth, com temas de Brecht, realizados nas últimas semanas. De 29 de setembro a 3 de outubro, acontecerá um seminário sobre Brecht e o Cinema, quando se espera, venham filmes importantes - incluindo a versão que o brasileiro Alberto Cavalcanti (1897-1982) fez em 1955 sobre "O Sr. Puntilla e seu Criado Matti" na Alemanha - e que nunca teve exibição comercial no Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
14/05/1986

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