Música
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de fevereiro de 1974
Antônio Carlos Pinto, 28 anos e José Carlos Figueiredo, 29 anos, baianos, cantores e compositores, permanecem a uma geração intermediária entre João Gilberto e Caetano-Gil, embora só tenham chegado a Guanabara depois que o irmão de Maria Bethânia já fazia sucesso. Quando vieram para a GB traziam uma sólida vivência musical em Salvador - testemunhada num lp de excelente nível, "Apolo 11", com Maria Creusa, esposa de Antônio Carlos, cantando belíssimas músicas - que infelizmente não chegaram a "acontecer". "Apolo 11" (JS Discos, série Bahia de Todos os Sons) trazia apenas músicas de Antônio Carlos, então parceiro de Ildázio Tavares - e se insistimos sempre em citar este lp, é justamente para comprovar mais uma vez que um disco pode ter grande mérito artístico e permanecer esquecido se não tiver uma distribuição nacional. Tanto é que os primeiros meses de Antônio Carlos & Jocafi no Rio foram duros e sofridos - com poucos amigos (entre eles Nonato Buzar) acreditando e ajudando. Um produtor sensível e competente como Rildo Hora, lhes deu a merecida chance e do primeiro lp que fizeram na Victor, em 71, duas músicas chegaram as paradas - "Você Abusou" e "Mudei de Idéia" justificando que fosse providenciada uma reprensagem e nova capa, "Mais comercial". Em 1972, já havia começado a chover na horta dos dois baianos e quase simultaneamente ao 2º lp ("... Cada Segundo", Victor 103.0041), eram convocados para fazer a trilha sonora de "O Primeiro Amor" na Rede Globo, o que colaborou para lhes dar grande popularidade nacionalmente. Tanto é que estreando no Teatro no Paiol, em princípios de 1972, iniciavam uma tournée que bem administrada pelo duro, antipático mas competente empresário Athayde lhe garantiria uma tranquilidade financeira, a tal ponto que hoje Antônio Carlos já pode dirigir um Camaro-73 e investir em imóveis na Barra da Tijuca, garantindo o futuro de seus 4 filhos e da esposa Maria Creusa (que continua a gravar, como o excelente lp que fez na RCA-Victor, aqui comentado há duas semanas). O terceiro lp da dupla (Victor, 103.0082), excluindo as músicas para telenovela "O Primeiro Amor", lançado no final de 1973, é o trabalho mais maduro, bastante superior a "... Cada Segundo" e demonstrando que a dupla tem realmente muita coisa boa para mostrar. Produzido por Rildo Hora, com arranjos de Leonardo Bruno, Antônio Carlos e Jocafi tiveram neste lp a participação de um grande número de instrumentistas, atuações especiais e até um coral Gregoriano na faixa "Glorioso Santo Antônio" (faixa 2, lado A). Todas as músicas deste lp são da melhor qualidade, brasileiríssimas, valorizadas ao máximo pela cuidadosa produção e que confirmam a seriedade com que Antônio Carlos e Jocafi se dedicam ao seu trabalho. A faixa de consumo mais fácil - já a caminho das paradas - é "Teimosa" - que por certo estarão bisando amanhã à noite, no show que farão no Santa Mônica Clube de Praia. Em duas novas músicas eles admitiram novos parceiros: "Deixe que é dengo dela" tem a ajuda do velho amigo Ildázio Tavares e em "Fraqueza", o parceiro é Zé do Maranhão. Em "Um abraço no Lucien extensivo ao Edu, a gostosa participação de Maria Creusa. As demais músicas são deles só: "Dona da Casa", "Gamelera" (As Moça), "Sanfona Véia", "Te Quiero"(Um bonito bolerão), "Tereza Guerreira", "Por Nossa Senhora" e "Xamego de Iná".
Tags:
Enviar novo comentário