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Aramis

Música

Uma das melhores surpresas musicais de 1984 foi a edição do lp "New Weave" (Polydor/Polygram) trazendo ao Brasil a voz maravilhosa do grupo vocal Rare Silk, que formado por Gaile Gillespie, Marguerite Juenemann, Marylynn Gillespie e Todd Buffa, se coloca ao lado dos históricos Les Doubles Six, Swingle Singers e os contemporâneos LA Voices (este, também chegando ao Brasil em 1984, no álbum com o grupo Super Sax e tendo agora um segundo volume, via CBS, na praça) como mestres no uso dos vocais em jazz. Infelizmente, como a excelente etiqueta Palo Alto Records, da Califórnia, ainda não tem representação no Brasil, o novo lp do Rare Silk ("American Eyes", julho/85) permanece inédito entre nós, sendo privilégio de alguns poucos que obtiveram a edição importada. Em compensação, outro notável grupo vocal que tem feitos ótimos discos de jazz - The Manhattan Transfer, tem seu novo lp ("Vocalese", Atlantic Record /WEA), aqui lançado poucos meses após a edição americana. Criativos, inovadores e buscando uma aproximação do jazz a outras correntes musicais. The Manhattan Transfers se constitui, hoje, no grupo vocal de maior sucesso nos Estados Unidos - e no Brasil, já com cinco elepes editados, possui um público seguro - que, por certo não deixará de adquirir este novo e esplêndido disco. Todas as letras são inéditas sob temas jazzísticos clássicos (*), de autoria de Jon Hendricks, que produz um material esplêndido, ajustadíssimo as vozes de Cheryl Bentyne, Tim Hauser, Alan Paul e Janis Siegel. Além da beleza das vozes deste quarteto - que poderiam, [tranqüilamente] - realizar um álbum a capela, o produtor Tim Hauer reuniu excelentes instrumentistas, entre os quais nomes da maior expressão. Assim, em "That's Killer Joe", que abre o lado A temos a participação, entre outros do pianista McCoy Tuner. Em "Bambo", com arranjo musical de Thad Jones, a participação é de músicos da orquestra de count Basie, com nada menos que seis saxofonistas, quatro pistonistas e quatro trombonistas - mais o baixista Ray Brown. Ou seja, um acompanhamento numa faixa que por si só já justifica a aquisição imediata deste esplêndido lp. Mas o disco tem outras preciosidades: Jon Hendricks dedicou a faixa "Aeregin" (na qual participa em belo solo) ao povo negro da Africa do Sul vítima da "insanidade do Apartheid". Nesta faixa, destaque-se o solo do saxofonista Zoot Sims, um dos primeiros músicos americanos a gravar Bossa Nova. Em "To You" temos a presença do pianista Toni Flanagan e, como convidados especiais, o histórico grupo The Four Freschmen (Bob Flanagan, Autie Goodman, Mike Beisner e Rober Henley), cujos discos são preciosidades que entusiasmam apaixonados pelo jazz vocal como os curitibanos Jorge Natividade e Caetano Rodrigues. De surpresa em surpresa, "Another Night In Tunísia" traz como solista o incrível Bobby McFerrin - o cantor que foi a grande sensação do Free Jazz Festival e que apesar de já ter 3 lps na Warner, continua, inexplicavelmente, inédito no Brasil. McFerrin aqui faz um solo lembrando uma passagem do histórico Charlie Parker. "Ray's Rockhouse" é uma faixa diversa, na qual John Barnes pilota vários teclados eletrônicos, fazendo arranjos e uma concepção para o ajuste das vozes do Manhattan Transfer. Os músicos da orquestra de Count Basie retornam na faixa "Blee Blop Blues", em homenagem a memória de Count, que inclusive, pouco antes de morrer, a 26 de abril do ano passado, aos 80 anos - vinha colaborando no projeto deste disco. O baixista Ron Carter e o pianista McCoy Tyner são dois dos destaques em "Oh Yes, I Remember Clifford" - outra homenagem jazzística, desta vez ao grande pistonista Clifford Brown (1930-1956), enquanto "Sing Joy Spring" traz - vejam só - um solo de pistão de Dizzy Gillespie. Um álbum esplêndido. Seguramente - e sem favor - um dos dez melhores do ano. NOTA (*) Jon Hendricks trabalhou sobre temas originais de diferentes autores, como os jazzistas J.J.Johnson ("Rambo", 1946), Thad Jones ("To You"); Ray Charles ("Ray's Rockhouse", 1958); Quincy Jones ("Meet Benny Bailey" (1958); Dizzy Gillespie ("Another Night In Tunísica", 1944) e, especialmente, Sonny Rolins ("Airegin" 1963). A idéia de desenvolver, em letras, para um grupo vocal, material originalmente instrumental, é das mais originais e bem sucedidas experiências do Manhattan Transfer.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
37
20/10/1985

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