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Aramis

Musical sertanejo

Entre uma espécie de musical sertanejo a um divertido vaudeville na melhor tradição do triângulo amoroso criado excesso de ciúme, "A Árvore dos mamulengos"(Guairão, até domingo, 21 horas, posterior temporadas em cidades do Interior e São Paulo) é um dos espetáculos mais estimulantes já montados em Curitiba. Brasileirissimo em sua linguagem nordestina, o autor-diretor Vital Santos soube empregar, com muita felicidade, os recuros do musical, ele mesmo fazendo as letras para as músicas criadas por Onildo Almeida, seu conterrâneo de Caruaru, autor de mais de uma dezena de canções já gravadas por nomes de expressão nacional. Projeto há muito acalentado pelo ator-produtor Luthero Renato, bravo e indealista diretor da Cia. Ribalda, a concretização desta montagem foi possível graças a uma série de coincidências, entre as quais a vinda para Curitiba, já 3 anos de um ex-integrante do grupo de Vital Santos, o correto ator Ailton Silva e, recentemente, o afastamento de Vital das atividades administrativas, como secretário de Cultura e turismo da Prefeitura de Caruaru, onde, durante 8 anos, desenvolveu trabalho voltado a cultura popular, de ressonância nacional. Aproveitando, com rara felicidade o imenso espaço do palco do grande auditório do Guaira, Vital Santos, deu a sua peça uma dimensão fascinante, experiente que, infelizmente, dificilmente poderá repetir em outro teatro - pois afinal casas como o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto são rara. Mas de nada adiantaria um bom aproveitamento do espaço cênico, se Vital não tivesse encontrado um elenco capaz de render o que o espetáculo exige. E nisto ele foi também muito feliz, pois trabalhando com sete jovens e entusiastas intérpretes, mais três músicos, conseguiu o timing exato e a garra de cada um. O que não aconteceu, evidentemente, da noite para o dia, pois foram mais de dois meses de suado ensaio. Afinal fazer um musical é muito mais difícil do que uma convencional - ainda mais quando a preocupação do encenador é oferecer um teatro popular, pois, o próprio vital acentua no programa que "num momento em que a maioria dos palcos brasileiros, estão cheios de espetáculos água com açúcar, com um amargo sabor de comodismo, recheados de luz e som, como um imenso pudim Hollywoodiano para iludir os olhos do público, sentimos cada vez mais a necessidade de lutar, lutar no sentido de realizar um teatro mais coerênte com a nossa realidade, um teatro popular, desponjado desses falsos valores que nada tem a ver com o nosso e com a nossa cultura". Embora todo o elenco renda harmoniosamente, Denise Assunção, crioula de imensa brasilidade, belíssima voz (que Oracy Gemba, hoje em Jacarezinho, soube utilizar em algumas de suas montagens), no papel de "Rosita Rabo Quente" tem momentos magnificos. Luthero Almeida, também produtor do espetáculo, compõe um multiplo Cabo Fincão - caricatural a partir dos trajes e Regina Bastos, também segura a peteca na desejada "Marquesinha". Ailton Silva, lamentavelmente, aparece pouquíssimo - ele a quem se deve, praticamente, esta montagem. Nos demais papeis três novos atores, todos promissores: Beto Rafael, Iran Barreto e Daniel Leviski. A música de Onildo Almeida, encontrou em Helinho Santana um arranjador sensível, trabalhando com o violinista Nilo Dorr e Milton Ribeiro no acordeon. Guarda-roupa idealizado por Vital e Ailton Silva, executado sob supervisão de Luís Afonso Burigo, colorido e bem acabado, assim como os endereços, destacando-se as máscaras criadas por Pedro Delon e Miriam Galera. Em suma, "A Árvore dos Mamulengos" é um espetáculo brasileiro, realizado com força e vigor por este pernambucano admirável chamado Vital Santos e que merece ser prestigiado pelo público UM PRESENTE EXCELENTE Além de tudo, porque oferece um presente excelente nesta temporada curitibana: o show inicial da maravilhosa Bandinha de Pifanos de Caruaru, sobre a qual falaremos amanhã.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
13/05/1977

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