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Aramis

A musicalidade de Francis e a nela sinceridade de Herminio

Pinheiro comecei a fazer música a apartir de 68: "A ausente", Herança", "Anunciação" e "Talvez"(...) Já Rui Guerra eu conheci depois do Vinícius, numa festinha. E ele, ao contrario, me puxava para canções mais românticas, elaboradas. A primeira música que fizemos foi "Ave Maria" (fase A faixa 5), Fizemos "Requiem", eu fiz a melodia em cima da letra, e é curioso que ela parece ter sido feita no piano mas foi feita no violão. Fizemos "Minha" que não aconteceu, logo depois de gravada. Tem época que passo sem compor, mas é que quando faço uma geralmente penso num cara: quem sabe o Vinícius ou o Tui gostariam de fazê-lo? (...) Chico Buarque: Eu o conheci em 65, antes da "Banda", através do Rui. Quando fui para os Estados Unidos mandei uma fita para ele. Atrás da Porta foi uma delas, Foi até numa festa em Petropolis, com mais de 30 pessoas na sala e na maior bagunça que eu toquei de novo a melodia para ele. Ele fez a primeira parte. Quando fez o resto eu estava de novo nos Estados Unidos. Um dia, a meia noite, ele me ligou dizendo que tinha concluído a letra". Com uma voz agradável e terna e os arranjos perfeitos para o tipo de músicas que produz, Francos Hime faz neste seu lp (Odeon, 3816, dezembro/73) um documento do que existe de mais importante na nova musica brasileira. Se Valhadas de arranjos primorosos, de sábio aproveitamento de 17 violinos, 5 violas, 6 violoncelos, 2 contra baixo, uma harpa, 4 flautas, um clarinete, um Oboé/ Corono Inglês um Clarone, um fagote,2 trampetes, 4 trompas, 4 Trombones, dois violões (Dori Caymmi/Geraldo Vespar), um contrabaixo eletrónico (Sérgio Barroso), quatro bateristas/percusionistas - Hermes Contesini, Chico Batera, Dazinho e Wilson das nexes de um goiano - Francis Hime, mais poesias de Ruy Guerra, Vinícius de Moraes, Chico Buarque de Hollanda, realmente V. não deve adquirir o disco de Francis Hime. É um disco de muita qualidade para ficar em tua discoteca! Faixas: "Atrás da Porta"(2,27, "A Meia Luz"(3,35/letra de Ruy Guerra), "Olivia" 4,16, instrumental), "Sem Mais Adeus" (2,28), "Ave Maria"(3,02), "Valsa Rancho"(3,27, letra de Chico Buarque) , "Minha (2,49), "Último Canto"(1,46, letras de Ruy Guerra) e "Requiem' 4,22 letra de Ruy. Sabemos todos, sim, Herminio Bello de Carvalho, que V., em menos de uma década de atividades junto a música popular, já realizou um trabalho que o faz digno de figurar na galeria do primeiro time de quem entendeu e valorizou a nossa cultura popular Sabemos, sim, que se não fosse V., o Brasil não conheceria uma cantora e criatura maravilhosa chamada Clementina de Jesus e que por certo, gente como Cartola, Elton Medeiros, Paulinho da Viola, Nestorzinho da Portela e tantos outros teriam demorado muito mais para chegar aos palcos e aos discos. Sabemos ainda que sem V. não existiria a "Rosa de Ouro", há 9 anos o melhor espetáculo montado na Guanabara - e que imperdoavelmente não veio a Curitiba, embora tenha ido a Belo Horizonte e São Paulo. Sabemos muito mais: que a Odeon, que em feliz hora soube contratá-lo deve a V. a realização de alguns de seus melhores discos sejam os nostálgicos álbuns homenagens a Francisco Alves (1898-1952) ou Dalva de Oliveira lps de estreias de compositores-cantores como Eduardo Marques que injustamente passou despercebido no ano passado. Carioca, 34 anos, três livros de poesias - "Chove azul em teus cabelos" (1961), "Aria e percussão (1962), "Argamassa" (1964), mais o libero de "João. Amor e Maria" (1966), uma solida formação cultural, valorizando as coisas do povo Herminio Bello de Carvalho tem musicas com os nossos melhores compositores: desde a poesia de "senhora, rainha" num tema de Villa Lobos, até Paulinho da Violada Viola-Elton Medeiros ("Rosa de Ouro", "Sei Lá Mangueira", "Folhas no Ar" , "Pressentimento") e Pixinguinha ("Isto Não se Faz"). Para quem tem dado tanta contribuição a música brasileira não se poderia deixar de esperar um documento/depoimento muito pessoal. E isto Herminio Bello de Cravalho oferece agora, num álbum em que assumindo todos os riscos, grava algumas das muitas musicas que criou nestes 10 anos. E é claro que Herminio não e cantor: sua voz é passada (sem ser definida). Baixa, sem qualquer possibilidade de um rendimento maior. Mas ele acreditou na validade de fazer um registro - como um documento, um depoimento não restrito ao MIS mas sim para todos que se interessam pela nossa musica popular. E o lp "Sei Lá" (Odeon, EMCB 7004, fevereiro-74) deve assim ser encerrado. Visto com o respeito e admiração que Herminio merece. Talvez, o que faltou nesta produção fosse um sêlo uma palavra: "Documento". Não é necessário jogar pedras em Herminio por ele ter tido a coragem de assumir uma coisa que não é: cantor. Ele é poeta, é produtor é um homem que valoriza a nossa melhor musica, os nossos mais esquecidos talentos. E, sinceramente, oferece muito de si neste disco: no lado 2, em quatro faixas de declamação, ao som do violão de João de Aquino - "A Pessoa n.o 2", "A Pessoa n.o 1", e "A Pessoa n.o 4", faz um exorcionismo de seus demônios de suas dúvidas, de sua angustia. Uma auto-análise que evidentemente não é agradável a quem espera apenas o poeta inspirado capaz de dizer coisas bonitas a nós. Mas que tem o direito de se despir e se confessar, ao final de seu longo exorcismo: Eu não tenho perguntas. Eu não tenho nem procuro respostas. Nem procuro respostas. Já na contracapa, também num personalíssimo texto, ele lembra: "O Rosa de Ouro, Clementina, o bandolim de Jacob, a Mangueira. Pixinguinha; Dalva; a arqu duquesa Aracy de Almeida - tudo-todos são fragmentos de uma pessoa que vive se desabafando nos palcos e suburbios da vida grudado desesperadamente a palavra amor - que nunca desonrei mesmo sob penas as mais profundas. Uma poeta, enfim, que já tem seu epitáfio: "sempre nunca se calou ou esteve quieto: e que jamais brincou em serviço". "Sei Lá" , Herminio Bello de Carvalho, sabemos bem: V. demostra toda tua grandeza de pessoa e artista, neste documento feito com amor/cérebro/coração. Aliás, como bem diz V. Mesmo: _ "Meu coração está ai posto a mesa. Como se dizia antigamente. (e eu sou, aliás uma pessoa meio antiga): não o levem a ml, que ele é assim mesmo". Faixas: "Não Dá Pra Entender"(2,10, com Maurício Tapajós) "Sei Lá Mangueira" (2,38/Paulinho da viola/Herminio), "Mudando de Conversa" (2,05/Maurício Tapajós) "O Coração Não Errou" (2,04, o/Maurício Tapajós), "Isso Não Se Faz" (2,12 c/Pixinguinha), "Folhas no Ar" (1,23 c/Elton Medeiros), "A Pessoa" n.o 3; 5; 2; 1 e 4), "Fora de Hora" (2,41, c/Eduardo Marques Lisboa Luz, participação especial em vocal Simone); "Malengolentemente" 2,30 c/30, c/Eduardo Marques); "Salamargo" (3,33, c/Eduardo Marques participação vocal: Simone) e "Presentimento" (2,31, c/Elton Medeiros). Acho que isso não quer dizer absolutamente nada, diz "compositor seminaristo". E explica: "Porque no meu caso estou coseguindo - ou melhor, entrelaçando - na música brasileira. Já tenho seis ou mais músicas de câmara, eu fiz nos Estados Unidos. Mas podia não estar fazendo esse tipo de música e as pessoas achariam que componho música sempre dita. E quando dizem que falando de minha música popular. Queremos dizer que não é elaborada, sofisticada as vezes. Mas não há nada disso nenhum semi-erutismo. É como pegar minha simples e sofisticar o arranjo. E realmente, tanto Egberto como Francisco são músicos de formação clássica, muitos anos de piano, que mostraram pela musica popular com uma proposta racional e honesta. Para elas só interessa fazer concessões e nem pretendem diminuir o nível de sua cria da para alcançar a comunicação com o público de menor(s) (inf)formação. Do contrário, é o público da assênção cultural - em especial os jovens, de formação universitária (outra), a faixa de consumidores de música clássica e jass, aberta a musica (popular) contemporâneo, que caberá aceitar (entender) e aplaudir o trabalho do nível que apresentam em seus lps - ou seus espetáculos-restritos evidentemente a teatro, e nem sempre com grande afluência do público. Entre "Minha" (lado B, para 2) que Francis Hime fez há 10 anos com Ruy guerra a "Arte da Porta" lado A, faixa 1), lançada em 1972, a chance de Hime mostrar toda sua extraordinária musicalidade e felicidade no encontro de parceiros ideais: o cineasta de "Os Fuzis" ou Chico Buarque de Hollanda, completaram nestes dois temas toda a extraordinária beleza criada por Hime em suas notas de total harmomia. Falando sobre seus parceiros - sempre do melhor nível - Hime diz: Sempre estudei piano clássico e tocava música de ouvido. Mas nunca tinha pensado em viver disso, intemível. Fiz Engenharia e terminei o curso teimosamente. Na verdade era uma falta de confiança em mim mesmo, e nos últimos anos já sabia que não tinha nada a fazer ali. Em se a bossa já tinha uns quatro anos mas poucos valores. E Vinícius sempre dando apoio aos que começavam. Ai ele me falou que eu devia compor pra valer. Assim sem ele , de 30 pessoas na sala e na maior bagunça que eu toquei de novo a mélodia para ele. Ele fez a primeira parte. Quando fez o restante, estava de novo nos Estados Unidos. Um dia, a meia noite, ele me ligou dizendo que tinha concluído a letra". "Com uma voz agradável eterna e os arranjos perfeitos para o tipo de músicas que produz, Francis Hime faz neste seu lp (Odeon, 3816, dezembro/73) um documento do que existe de mais importante na nova musica brasileira. Se V. não gosta de músicas trabalhadas, mais poesia de Ruy Guerra, Vinícius de Morães, Chico Buarque de Hollanda, realmente V. não deve adquirir o disco de Francis Hime. É um disco de muita qualidade para ficar em tua discoteca! Faixas: "Atrás da Porta"(2,27), "A Meia Luz" (3,35/letra de Ruy Guerra), "Olivia" 4,16, instrumental), "Sem Mais Adeus" (2,28), "Ave Maria" (3,02), "Valse Rancho" (3,27, letra de Chico Buarque), "Minha" (2,49), "'Ultimo Canto" (1,46, letra de Ruy Guerra) e "Requiem" 4,22, letra de Ruy Guerra). Paulinho da Viola, Nestorzinho da Portela e tantos outros teriam demorado muito mais para chegar aos palcos e aos discos. Sabemos ainda que sem V. não existiria a "Rosa de Ouro", há 9 anos o melhor espetáculo montado na Guanabara - e que imperdoavelmente não veio a Curitiba, embora tenha ido a Belo Horizonte e São Paulo. Sabemos muito mais: que a Odeon, que em feliz hora soube contratá-lo deve a V. a realização de alguns de seus melhores discos dos últimos dois anos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
1
17/03/1974

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