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Aramis

E as músicas de Carnaval? (II)

A decadência da música carnavalesca está provada não só na ausência de novas composições feitas especialmente para a festa mas, também, pelo desinteresse das gravadoras em investirem no gênero. As grandes fábricas restringiram as edições em elepês específicos, buscando mais os sambas-enredos das grandes escolas que, as partir da metade dos anos 60, passaram a ser consumidos nos maiores centros. A Tapecar, que, astutamente, já vinha há anos lançando álbuns luxuosos, capas duplas, textos bilingües, com os sambas de enredo das escolas dos blocos A e B do rio de Janeiro, este ano deu um passo à frente, em "O Brasil Canta", incluindo sambas de enredo de escolas de samba de vários Estados. O Paraná está representado com "Caboclo, Glória e orgulho de um país realizado "que Nelson Balthazar compôs para a Escola de Samba Mocidade Azul. A Sigla/Som Livre, continua investindo naquilo que chama de "Convocação Geral", com sambas e marchas selecionadas através de um concurso que não tem, entretanto, merecido a divulgação merecida. Os sambas-de-enredo das escolas paulistas, a exemplo do ano passado, saíram pela Continental, a Phonogram reuniu os sucessos avulsos de Caetano Veloso ("Atrás do trio Elétrico", "Música Suor e Cerveja", etc.) num elepê que vai, é claro, agradar aos fãs do trêfego baiano. As etiquetas fantasmas, que são usadas apenas para justificarem edições em compactos simples de sambas e marchas de compositores menores, este ano nem apareceram - ou se apareceram, regionalmente não tiveram a menor divulgação. Nas emissoras, com raríssimas exceções, ouve-se música americana (é claro!), francesa, italiana e até brasileira - mas menos a de Carnaval. Muita coisa mudou e também o Carnaval. Musicalmente, fica-se nos sucessos do passado - que são muitos e belos ou em sambas que, apareceram há meses, sem intenções carnavalescas, mas que acabaram caindo no agrado dos foliões, como "Oi Compadre" de Martinho da Vila. Em São Paulo, talvez a música mais cantada venha a ser um jingle que Archimedes Messina, 45 anos, fez para vender o café Seleto. Não se trata de criticar o baixo nível das músicas que apareceram para o Carnaval. Mais importante é entender a transformação, os novos veículos de comunicação, com outra filosofia de promoção. Assim marchinhas como "Foi Lindo o Nosso Amor"(Aroldo Santos/Murilo/Jorge Garcia) ou "Garota Perigosa" (Marques Filho/Sebastião Silva), gravados por bons sambistas como Aroldo Santos e Noite Ilustrada, em discos RCA Victor, não se destacam, embora pudessem, em outras circunstâncias, aparecerem. O veterano Nelson Gonçalves também ataca de Carnaval, com o samba "Jamais, Jamais, Jamais"(de sua autoria, parceria com Celso Castro), mas que poucos conhecem. O mesmo Nelson, cantor de tanto público, gravou "Swat" (Adelino Moreira/Celso Castro), que tem o mérito da fazer alusão a um fato de destaque do ano que passou na TV - a série policial - dentro de uma das características da música carnavalesca, ou seja, o registro contemporâneo. A vedete Marli Marley, da qual só se ouve a voz no Carnaval, gravou a marchinha "Todo Mundo Quer Moleza" (José Hoy Oswaldo Guilherme), com a letra bem irreverente. Wilson Simonal, cantor que já teve sua época e vez - e que hoje tenta um reaparecimento, ataca com tema unindo samba e futebol "Vamos Vencer", onde, otimistica e ufanisticamente, diz: "Na camisa levam nossa bandeira/Nós estaremos presentes/São artistas de calção e chuteira/-Defendendo nossa gente/Diplomatas sem fraque ou cartola/Representam a garra brasileira/Eles fazem com a bola/Alegria da nação inteira/Vamos vencer nos verdes campos da Argentina/Salve o Brasil e viva a América Latina." Um letrista curitibano, Heitor Valente, com sua "Marcha da pechincha" (parceria com Cesar Costa Filho) e "O Brasileiro é Tão Bonzinho" (com Carlos Lyra), [está] no Rio de Janeiro, catituando suas composições. No raquítico panorama carnavalesco, musicalmente até que conseguiram em certo destaque. O resto é nostalgia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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03/02/1978

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