Na companhia de Schwartz há sempre as boas letras
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de março de 1991
Exemplo de editor que soma uma erudição ao senso de marketing, Luiz Schwartz repete na sua Companhia das Letras, o marketing que desenvolveu na Brasiliense, ali ajudando a editora de Caio Graco Prado a tomar um grande impulso no início dos anos 80. Edições ágeis, de assuntos que, diversificados, atingem um grande público - somadas a uma forma agressiva de promoção. Neste mês de março, a Companhia das Letras está fazendo cinco lançamentos.
Ítalo Calvino (1923-1985) já conhecido por "Seis Propostas para o Próximo Milênio" e "As Cidades Invisíveis", chega com "O Castelo dos Destinos Cruzados", no qual tem um ponto de partida dos mais originais: vários personagens que, por algum motivo, ficaram mudos, narram histórias de vida utilizando-se das cartas de um baralho de tarô. Tal como no próprio jogo de tarô (usado para advinhar o futuro das pessoas), Calvino procura interpretar o que significam as figuras e números que vão surgindo, assim como a seqüência das cartas. Como misticismo sempre vende, este novo romance do autor italiano deve alcançar o público específico.
Denise Bottmann, intelectual bastante conhecida em Curitiba, é a tradutora de "Ao Longo do Ricorrente", de Richard Ellmann (1918-1987), famoso por suas biografias definitivas de Oscar Wilde e James Joyce. Americano de nascimento, mas fascinado pela literatura irlandesa, passou os últimos 17 anos lecionando em Oxford. "Ao Longo do Ricorrente" - título que evoca as primeiras e últimas palavras do "Finnegans Wake" de Joyce (na tradução de Augusto e Haroldo de Campos) reúne alguns dos melhores ensaios de Ellmann. Uma obra para iniciados, em alta literatura. Leminski, se vivo estivesse, adoraria...
Alexis de Tocqueville (1805-1879), considerado um dos mais profundos analistas políticos de seu tempo, viveu nove meses na América (1831/1832) donde resultou uma de suas obras primas: "A Democracia na América". Posteriormente fez outros marcantes trabalhos, que nos últimos anos estão merecendo tradução no Brasil. Agora, em "Lembranças de 1848", escrito entre 1850/1851 (mas só editada em 1893), Tocqueville analisa o período compreendido entre janeiro e fevereiro de 1948, às vésperas da revolução que destronou Luís Felipe, até outubro de 1849. Leitura para historiadores - professores, profissionais e amantes da ciência.
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Na área da ficção, dois candidatos a best-seller: "Sexta-feira, o Rabino Acordou Tarde", de Harry Kemelman (238 páginas) e "Bem Perto da Costa", de John Updike (216 páginas). Publicado pela primeira vez em 1964, o livro de Kemelman (que vive na Nova Inglaterra) é uma mistura de história policial com crítico panorama da comunidade judaica em cidades suburbanas norte-americanas. Já Updike, 59 anos, autor de livros famosos como "Casais Trocados" e que teve sua autobiografia ("Consciência à Flor da Pele") lançada pela Companhia das Letras, em 1990, mostra o seu lado de resenhista de livros. Reunindo ensaios e críticas literárias, uma seleção de textos irônicos e breves ensaios destacando-se os estudos que dedica a três mestres da literatura americana - Hawthorne, Melville e Whitman.
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