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Aramis

Na gorda safra visual, chegou a Sociedade dos Poetas Mortos

Começa a safra das vacas gordas para os exibidores! Após algumas semanas de indigência de filmes - e em conseqüência também de público - abre-se a temporada do Oscar, trazendo filmes que com o maior marketing faz com que o acomodado espectador, cada vez mais viciado pela TV e vídeo - e também assustado com os preços dos ingressos, a falta de segurança para estacionar veículos no centro e outras razões que levam ao esvaziamento das salas de exibição - prefira cada vez mais ver os filmes na telinha do que no esplendor da tela ampla. Justamente esta decadência do cinema, que se vem sentindo cada vez mais nos últimos 20 anos, é que inspirou a dois dos mais brilhantes cineastas italianos - Ettore Scola e Giuseppe Tornatore a realizarem filmes maravilhosos que agora chegam as nossas telas: "Cinema Paradiso" (Cinema I, segunda semana) e "Splendor", prometido para estrear logo depois do dia 15. "Cinema Paradiso" é uma obra prima. Humano, emotivo, perfeito, está tendo um público crescente. Exemplo do filme que o espectador faz questão de recomendar ao amigo inteligente. Convencer o mais renitente a ir vê-lo na tela ampla, pois em vídeo não existe - e nem está previsto o seu (imediato) lançamento. Portanto, há que se gastar NCz$ 80,00 e vê-lo numa das 4 sessões do Cinema I - de preferência chegando na hora. Domingo, no "Almanaque", contaremos sobre a emotiva sessão especial promovida por "O Estado do Paraná" em homenagem aos operadores - em especial ao mais idoso de todos, Francisco (Paquito) Morilha, 87 anos, 75 dos quais dedicados ao cinema. Afinal, "Cinema Paradiso" tem como personagem principal um operador - Alfredo (Philip Noiret, atuação que já lhe valeu o Fênix de melhor ator-89). Premiado em Cannes, Globo de Ouro e o favorito do Oscar de melhor filme estrangeiro, "Cinema Paradiso" é a grande estréia da temporada e é inadmissível a quem ama o cinema deixar de assisti-lo... no cinema. Nada de esperar o vídeo. Mas a semana tem outras estréias importantes. A começar por "A Sociedade dos Poetas Mortos", do australiano Peter Weir, que foi o filme escolhido por Ney Sroulevich para abrir o VI FestRio, em novembro do ano passado, em Fortaleza. Catapultado com várias indicações ao Oscar, elogios da crítica internacional, mereceu capa da "Studio Magazine" - a mais sofisticada revista de cinema do mundo, editada em Paris, que em seu número 35, março/1990, o classifica como o primeiro filme cult dos anos 90. Mas a semana tem ainda outro filme importante - "Sonho de Valsa", de Ana Carolina, que apesar de chegar com atraso de três anos, é uma obra sem data, que fala de conflitos femininos dentro do mergulho que a bela e inteligente cineasta vem fazendo há anos no íntimo da mulher - inicialmente em "Mar de Rosas", seguido de "Das Tripas Coração" - vistos na semana passada, no mesmo Groff, onde agora está em projeção "Sonho de Valsa". Outra estréia que merece verificação é "Quem Vê Cara não vê Coração" (Uncle Buck), de John Hughes, chamado por Rubens Ewald Filho de "o Steven Spielberg das comédias sobre jovens". Hughes, americano de Chicago, é um dos poucos diretores de comédias jovens, despreocupadas e que tem merecido simpatia da crítica. Estreou há seis anos com "Gatinhas e Gatões" (Sixteen Candles), com a bela Molly Ringwald e emplacou dois êxitos - "Curtindo a Vida Adoidado" (Ferris Bueller's Day of Mattew Broderick) e "Antes Só do que Mal Acompanhado" (Planes, Trains and Automobiles). Agora, com John Candy no personagem título (original) e apenas uma atriz relativamente conhecida - Amy Madigan - conta a história de 6 a 15 anos. Uma comédia na linha familiar, capaz de surpreender - como surpresa foi a interessantíssima "O Tiro que não Saiu pela Culatra" - o estúpido título com o qual a UIP brasileira está queimando "Parenthood", lançado na semana passada no Lido I e que, agora, subiu para o Lido II. Tendo duas indicações ao Oscar - Dianne Wiest como melhor atriz coadjuvante e a belíssima "I Love to See you Smile" de Randy Newman como melhor canção - "Parenthood" é uma comédia que Ron Howard ("Splash", "Cocoon", "Willow") dirigiu com mão leve e inspiração, reunindo um bom elenco - Steve Martin, a deliciosa Mary Steenburgen, o veterano Jason Robards, os jovens Rick Moranis, Tom Nulce, Martha Plimpton, Leaf Phoenix (irmão de River Phoenix, o "Indiana Jones" jovem que inspirou a Milton Nascimento uma das músicas de seu último elepê), Eileen Ryan, entre outros. "A Sociedade dos Poetas Mortos" - Este título também pode(ria) assustar o espectador. Mas no caso, justifica-se a razão pela qual Peter Weir escolheu este nome marcante. O roteiro de Tom Schulman tem todo um embasamento literário: no outono de 1959, numa das mais tradicionais escolas americanas - a Welton Academy - chega um professor, John Keating (Robin Williams, de "Popeye", "Bom Dia, Vietnã", etc., indicado ao Oscar de melhor ator) de idéias avançadas. Tendo estudado na mesma escola e ali participado da "Dead Poets Society", um círculo acadêmico de altíssima voltagem, Keating busca despertar nos jovens alunos o que cada um possui de melhor dentro de si - rompendo estruturas acadêmicas. Muitos filmes já foram realizados sobre questões de ensino, mas Peter Weir, 46 anos, australiano que ficou conhecido pelos excelentes "Calipoli" (1981), "O Ano em que Vivemos em Perigo" (1982) e, especialmente, "A Testemunha" (Mosquito Coast, 1986, inexplicavelmente até hoje não lançado no Brasil), estruturou um filme dinâmico, profundo e que desde seu lançamento nos EUA, no primeiro semestre do ano passado, tem arrancado aplausos. As várias indicações ao Oscar e o respeito que está tendo agora na França, mostram como um filme de idéias, até provocativo em certos aspectos, pode atingir o espectador sensível. "A Sociedade dos Poetas Mortos" vale também por trazer um novo grupo de atores que deverão se destacar nestes anos 90, pois são jovens talentosos, que valorizam seus personagens. Robert Sean Leonard (Neil), vindo do teatro, estreou em "The Manhattan Project" (o penúltimo filme de Paul Newman ainda inédito no Brasil) e já fez outro filme importante: "Mr. and Mrs. Bridge", de James Ivory ("Maurice", "Uma Janela para o Amor"). Marcelo Marchioro, que está chegando da Europa e Nova Iorque, deslumbrou-se com o seu trabalho numa peça em cartaz na Broadway - "When She Dances". Gale Hansen, que interpreta o rebelde Charlie Dalton, também vem do teatro e até agora havia feito apenas um curto personagem em "Zelig", de Woody Allen. Josh Charles (Knox Ovestreet) estreou em "Hairspray", a amalucada comédia de John Water que deve ser exibida dentro de duas semanas no Palace Itália. Já Ethan Hawke (Todd) também poderá ser visto, dentro de algumas semanas, em outro papel em "Papai" (Dad), o novo filme com Jack Lemon - que o Condor está anunciando. Outros atores estreiam mesmo neste filme, como Dylan Kussman e Allelon Ruggiero. Enfim, Weir fez um filme que pode se tornar tão importante quanto foi "O Rebelde da Motocicleta" (Rumble Fish), que há 7 anos lançou uma geração de atores que hoje brilham intensamente num filme que se tornou cult. Belíssima fotografia de John Seale, uma trilha sonora magnífica de Maurice Jarre - com várias canções marcantes, cenografia impecável, tudo enfim para fazer de "A Sociedade dos Poetas Mortos" um filme imperdível. Em exibição no Bristol, em 4 sessões. Outras Opções - Há muitas razões para se assistir "Sonho de Valsa", de Ana Carolina. Trata-se de uma obra intimista, inteligente, repleta de símbolos e que despertam a imaginação do espectador. Mas, em absoluto, trata-se de um filme para consumo rápido, simples entretenimento. É um biscoito para finos paladares, com um elenco reduzido mas marcante: Xuxa Lopes, Daniel Dantas, Arduíno Colassanti e, surpreendendo, Ney Matogrosso. Participam ainda Paulo Reis, Ricardo Petraglia, Cristina Pereira e Stela Freitas. Já "Bagdá Café", o belo filme de Percy Adlon, tucano de Ouro no FestRio-87, e que revelou no Brasil a mais gorda e simpática atriz européia, Marianne Sagebrecht é uma comédia sentimental de grande profundidade. Outro biscoito para finos paladares, com excelentes interpretações de Marianne, da americana CCH Pounder, do veterano Jack Palance e mais alguns artistas desconhecidos mas notáveis: Christine Kaufman, Mônica Calhoun, Darron Flag e G. Smokey Campebell. A história é simples, suave, quase um conto de fadas - pois "magia" é a palavra que Jasmim (Marianne) mais repete durante o filme. Uma alemã gorda, abandonada pelo marido no deserto da Califórnia, chega num misto de motel-posto de gasolina-restaurante - o "Café Bagdá" - e transforma a vida de várias pessoas. Não perca este filme em exibição no Palace Itália. Finalmente, se o seu negócio é apenas uma comédia digestiva, daquelas que não levam a nada mas ajudam a esquecer a inflação, os aborrecimentos com o patrão e a falta de dinheiro, vá assistir "Uma Dupla Quase Perfeita" (Turner & Hook), de Robert Spottiswoode, que com o canastrão Tom Hanks como um policial às voltas com um cão-testemunha, emplacou segunda semana no Astor. Se preferir, entretanto, um thrilling policial com boa direção e trazendo Al Pacino numa digna atuação, vá ao Condor: "Vítimas de uma Paixão" (Sea of Love), de Harold Becker, tem um roteiro bem desenvolvido, ótima trilha sonora e oferece alguns momentos de suspense. LEGENDA FOTO - Uma bela loira - Eleen Barkin e Al Pacino em "Vítimas de uma Paixão": em exibição no Condor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
09/03/1990

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