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Aramis

Na guerra das rendas quem dança são os bons filmes

Um dilema que embranquece os cabelos de quem é responsável pela programação dos cinemas: qual o momento de substituir um filme? Muitas vezes uma produção que não apresenta boa bilheteria nos primeiros dias acaba reagindo, especialmente na chamada propaganda boca-a-boca, e surpreendendo em termos de bilheteria. Entretanto, a natural ansiedade de ver o dinheiro entrando faz com que, na maioria das vezes, um filme que poderia fazer boa carreira acabe sendo sacrificado. Pode voltar, semanas depois, em outro cinema, mas já sem o mesmo impacto da estréia. E o público, que imaginava que o filme permaneceria mais de uma semana em exibição, acaba sendo prejudicado e praguejando contra o exibidor. Por exemplo, "O Fio da Suspeita", um thriller policial de Richard Marquand, saiu do Astor após magros 7 dias de exibição. Poderia subir na 2ª semana mas a Fama preferiu substituí-lo e relançá-lo, depois, no Cinema I. E já previsto para reencontrar no cinema da Rua Saldanha Marinho há duas semanas, "Jagged Edge", continua na fila da espera, enquanto que "A Hora do Espanto", uma das fitas de maior bilheteria do ano, ali continua assustando os espectadores. Sem ter o lucro imediato como meta - embora, naturalmente, se preocupe em tornar auto-rentável os três cinemas da Fundação Cultural de Curitiba, o bom Chico Alves também anda perdendo cabelos no jogo da programação. Na semana passada, cortou a carreira de "Lola", o ótimo filme de Werner Fassbinder, que estava em exibição no Luz - a mais deficitária das salas de exibição da Fucucu. Ali entrou, em reprise, o interessantíssimo "Metrópolis", 1926, de Fritz Lang, em cópia renovada - com música e imagens coloridas, que, pelo seu apelo sonoro (uma trilha pop, criada por Giorgio Mororder, editada no Brasil pela CBS) estava atraindo o público jovem. Inesperadamente, Chico decidiu retirar o filme de exibição, substituindo por uma desconhecida produção nacional, sem nenhum apelo para o público e que apesar de merecer exibição, entra em momento errado: "Diacuí - A Viagem de Volta", produção de 1984, do desconhecido Ivan Kudrna, com Tep Kahok, Zedenek Hampel e Raimunda de Oliveria. Ou seja: corta-se a carreira de um filme de público seguro para lançar uma fita nacional que deveria ser exibida dentro de um ciclo específico. Também a falta de promoção, do mínimo cuidado, condena outros filmes. O excelente "Nasce uma Estrela" (A Star Is Born), 54, de George Cukor - na versão integral, poderia ter obtido melhores rendas no Groff se não fosse programado de forma tão inesperada. Resultado: nos primeiros dias teve pouquíssimos espectadores, mas neste caso foi mantido em cartaz e deve subir nesta segunda semana. Idêntico o caso do relançamento de "Uma Questão de Classe" (Class), de Levis John Carlino, no Ritz. Ali, consta, estrearia na próxima semana "Ginger e Fred", o último filme de Fellini, inédito ainda no Brasil. Também será criminoso fazer uma estréia de um filme desta importância se não existir um bom trabalho promocional, pois, de forma obscura, nem os fã(náticos) fellinianos acabaram aparecendo. "Ram", a superprodução de Akira Kurosawa - indicado ao Oscar de melhor diretor em 86 - e que abriu o II FestRio, no ano passado, é outro filme que também mereceria bom tratamento. Um filme belíssimo, com quase 3 horas de duração e fazendo a transposição ao Japão medieval da tragédia "Rei Lear", de Shakespeare, "Ram", quando estreou em São Paulo, teve uma cuidadosa campanha promocional, resultando boas rendas. Aqui, chegou inesperadamente, a partir de ontem, no Astor - e com isto "Mad Max", filme australiano de George Miller, foi deslocado para o cine Itália. "Nova York - Terra de Ninguém", a exemplo de "Remo: desarmado e perigoso", não emplacou no Plaza: saiu de cartaz, substituído por outra estréia interessante - "Conquista Sangrenta" (Flesh + Blood), direção do mais prestigiado cineasta holandês, Paul Verhoeven. A ação se passa na Idade Média e o filme é, segundo informações merecedoras de crédito, dos mais interessantes. No elenco, jovens intérpretes: Rutger Hauer, ator holandês, visto já em "Turkish Delight" (do mesmo diretor, exibido no cine Itália há 2 anos) e que, posteriormente, fez, nos EUA, "Falcões da Noite", "Blade Runner" e "Ladyhawke - O Feitiço de Áquila". Jennifer Jason Leight, filha do ator Vic Morrow (morto num acidente nas filmagens de "Twilight Zone", de Spielberg, há 4 anos), já fez vários filmes, mas só um deles, a comédia "Picardias Estudantis", chegou ao Brasil. Outros bons atores - embora desconhecidos entre nós - estão no elenco (Tom Barlinson. Susan Tyrrel, Ronald laceyu) e a trilha sonora é de um excelente compositor - Basil Poledouris. Retomando um gênero há muito esquecido pelo cinema - aventuras na Idade Média, mas com um sentido crítico (e muita violência), "Conquista Sangrenta" é filme de visão obrigatória nesta semana. Na Cinemateca, tem prosseguimento a indispensável retrospectiva Luís Buñuel, com a projeção, neste final de semana, de "Nazarim", realizado no México, em 1958. Na próxima semana, no Luz, será relançado o filme de maior sucesso de Buñuel (1900-1983), "A Bela da Tarde" (1967), com Catherine Deneuve em seu esplendor. Filmes de boa bilheteria - como "Loucademia de Polícia 3" (Palace Itália), "Stallone Cobra" (Vitória), "Um Dia a Casa Cai" (Lido II), "E.T." (Condor), continuam em exibição. Nas sessões extras, uma pré-estréia - "Subway", de Luc Besson, com Isabele Adjani (meia noite de sábado, Astor), o clássico "M - O Vampiro de Dusseldorf", 1931, de Fritz Lang (1890-1976) a meia-noite de amanhã e 10,30 horas de domingo no Groff e, no Luz, às 10 horas de domingo, "Chaplin, O Mestre, Sua Comédia e Sua Arte". LEGENDA FOTO - Judy Garland em "Nasce Uma Estrela: no Groff, som seqüências inéditas reaproveitadas nesta remontagem do filme de George Cukor. Um filme de (re)visão indispensável.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
10
22/08/1986

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