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Aramis

Na semana do Oscar, muitos lançamentos e boas reprises

Semana do Oscar - festa maior da indústria cinematográfica - significa época de vacas gordas em termos de opção cinematográfica. Além da exibição de dois dos cinco filmes que concorrem ao troféu principal - "Entre Dois Amores" (Lido I) e "O Beijo da Mulher Aranha" (Palace-Itália), a semana tem outras atrações. Por exemplo, "O Enigma da Pirâmide", nova produção de Steven Spielberg, direção do ótimo Barry Levinson, é candidato ao Oscar de melhores efeitos especiais. "Agnes de Deus" - com duas de suas atrizes disputando também as premiações - Anne Bancroft e Meg Tilly - deveria ter estreado quinta-feira no Astor, ao invés da dispensável comédia "Dois Heróis Bem Trapalhões". Outros filmes nominados nas diversas categorias devem chegar nos próximos dias, pois a festa de amanhã à noite, que madrugada adentro será acompanhada por milhões de telespectadores em todo o mundo, é, sem favor, o maior comercial da indústria do entretenimento - que, também tem seus momentos de arte. As estréias Agora "Out of Africa" e "The Kiss of Spider Woman", já em exibição (ver reportagem na página de abertura deste caderno), temos cinco estréias interessantes. Em termos de qualidade, a melhor é "Golpe de Tiras" (Les Ripoux), satírica e cínica comédia francesa, direção de Claude Zidi, música de Francis Lai - premiada com o César (o Oscar francês) em 1984, como melhor filme e melhor direção e que representou a França no FestRio-84, ali valendo a Philippe Noiret o tucano de Prata de melhor ator. São dois policiais franceses, responsáveis pela ronda de um bairro típico de Paris. René (Philipe Noiret) é um velho e desiludido tira à antiga, corrupto mas extremamente simpático. Para trabalhar ao seu lado é designado François (Thierry Lhermitte), jovem, cheio de ilusões e com um conceito de moralidade que no início é um desafio a René. O filme tem situações engraçadíssimas, momentos de ternura e uma ambientação excelente. No elenco, a internacional Regine, a famosa empresária da noite e que acaba, aliás, de ter seu livro de memórias "Me chame pelo meu nome" lançado no Brasil pela Editora Guanabara. "Les Ripoux" é uma comédia francesa na melhor tradição. De visão obrigatória nesta semana. Cine Vitória. Mais uma vez Sherlock Holmes e Dr. Watson voltam a tela. Em "O Enigma da Pirâmide" (Cine Condor), o roteirista Chris Columbus, inspirado livremente na criação de Sir Conan Doyle, dá um tratamento diverso ao mais famoso detetive da história - começando por focalizar o seu encontro, em Londres, 1870, com John H. Watson, ainda nos tempos de colégio. Sherlock é vivido por Nicholas Rowe e Watson por Alan Cox, na frente de um elenco sem nomes famosos: Sophie Ward, Anthony Higgin, Susan Fleetwood, Freddie Jones etc. A produção é de Steven Spielberg - o que credencia a qualidade da realização indicada ao Oscar de efeitos visuais) mas o maior crédito está na direção. Barry Levinson, excelente roteirista (premiado inclusive com o Oscar, por "Dinner") e que fez o excelente "Quando os Jovens se Tornam Adultos" - na mesma linha de "St. Elmo's Fire", que mereceria ser reprisado. Um filme que merece verificação. Tudo por uma esmeralda faturou tanto há dois anos que rapidamente o ator-produtor Michael Douglas providenciou uma seqüência, e o resultado é "A Jóia do Nilo" (Cine Plaza, 5 sessões). Como Robert Zemeckis, diretor de "Tudo por uma Esmeralda", já estava comprometido com Spielberg na realização de "De Volta Para o Futuro", a seqüência foi dirigida por Lewis Teague, nova iorquino do Brooklin, aprendizado em curtas e seriados de televisão, ex-montador de filmes de Roger Cornan e que já realizou quatro longa-metragens, mas todos inéditos no Brasil ("The Lady In Red" - não confundir com o filme de Gene Wilder; "Fighting Back", "Alligator", e "Cat's Eye", este último baseado em best-sellers de Stephen (King). "The Jewel of the Nile" é o exemplo do filme de produtor: Michael Douglas, experiente executivo e razoável ator, quis apenas uma comédia leve, descontraída, com muita ação - capaz de repetir o êxito do filme anterior, com os mesmos personagens: a dupla Joan Wilder (Kathleen Turner), a romântica escritora de novelas românticas e o eventureiro Jack Colton (Douglas), numa viagem pelos desertos do Norte da África sempre perseguidos pelo temperamental inimigo Ralph (Danny De Vito). Em busca de uma jóia, o trio enfrenta tempestades, tribos do deserto, bandos de derviches dançarinos e até as masmorras do diabólico Omar (interpretado pelo ótimo ator grego Spiros Focas), num filme de aventuras na melhor tradição dos anos 40 (e dos velhos seriados) - e que graças ao sucesso de Indiana Jones (e a Spielberg) voltou a provar que o gênero ainda tem seu público. Para alegria das crianças de todas as idades... Como João Aracheski, executivo da Fama Filmes, astutamente, preferiu aguardar os resultados do Oscar para programar "Agnes de Deus" (a partir do dia 27, no Astor) e "O Sol da Meia-Noite" (filme sobre ballet, com Mikhail Baryshnikov), o Astor exibe nesta semana uma comédia policial, na linha pastelão ("Loucademia de Polícia", "Dois Heróis Bem Trapalhões" (Crimeways), de um diretor novato - Sam Raimi - e com elenco também de nomes ainda desconhecidos no Brasil. Louise Lasser, Paul Smith, Brion James, Sheree Wilson e Bruce Campbell. Capaz de agradar o público específico, está em exibição no Astor. Se fizer boa renda, passará para o Bristol ou Cinema I na próxima semana. BERLIN ALEXANDERPLATZ, de Rainer Werner Fassbinder, mastodôntica produção (15 horas, originalmente uma minissérie de televisão alemã) está em exibição no Ritz. é o exemplo do filme de público cativo. Quem se interessa pela obra de Fassbinder e dispõe de tempo e energia vai acompanhar a programação - dois episódios por noite, na sessão única das 20:30 horas no RITZ, (contratualmente, o Goethe Institut só cede o filme para uma única projeção em cada cidade). Agora, é ver quantos terão fôlego e entusiasmo para acompanhar toda a programação - já que tal como uma telenovela, a visão isolada dos episódios não dá um entendimento completo da proposta desta elogiada produção, baseada em clássico romance de Alfred Doblin, editado em 1929. AS REPRISES Excelentes reprises também nesta semana. De princípio, temos "Começar de Novo" (Volver a Empezar), produção espanhola, dirigida por José Luiz Garci, com Antônio Ferrandis, Encarnacion Paso, José Badalo e Agustin Gonzales - com toda justiça premiado com o Oscar de melhor filme em 1983. Poucas vezes o cinema conseguiu captar com tanta emoção e ternura um tema difícil e delicado como a velhice e a frustração de um amor não vivido na juventude - como neste lírico, apaixonante filme de Garci, cineasta espanhol de quem desconhecemos outros trabalhos. Para nós, "Volver a Empezar", foi o melhor filme lançado em Curitiba em 1984 e reprisado agora, em sessões às 14, 16, e 18 horas no cine Ritz, é oportunidade para conferir novamente este emocionante trabalho. Quem não viu, não deve perder... A retrospectiva Ingmar Bergman continua com casas lotadas no Groff, fazendo com que se lamente o fato de Francisco Alves dos Santos só ter programado 8 exibições de cada reprise. Hoje, ainda, teremos "Da Vida das Marionetes", uma experiência de Bergman num thriller policial-psicológico, profundo e fascinante - com um elenco de intérpretes não convencionais de seus filmes: Jan Malmejo, Ewa Froling e Permilla Allwin. De amanhã a quarta-feira, o recente (1984), "Fanny e Alexandre", premiado com vários Oscars - e que foi, de todos os filmes de Bergman, o maior êxito de bilheteria no Brasil. Um filme belíssimo e que sempre se revê com imenso prazer. Finalmente, no dia 27, estréia o mais recente filme de Bergman - "Depois do Ensaio", lançado no Brasil durante o FestRio-85. Exibido apenas 4 dias no Cine Itália, há um mês, retornou ao cartaz - agora no Cinema I - um dos mais surpreendentes filmes italianos destes últimos anos: UMA MULHER NO ESPELHO (Una Donna Allo Specchio). Pouco - ou nada - se sabe a propósito do diretor, Paulo Quaregna, e com exceção da atriz principal - a belíssima Stefania Sandrelli - este filme não teria outros atrativos ao público. Trata-se, entretanto, de um belíssimo estudo sobre a sofrida paixão de dois desconhecidos, ao logo de um filme-semana, uma turística região da Itália - magnificamente captada em bela fotografia colorida. Com toques de "O Último Tango em Paris" - pelo amor neurótico e total do casal de amantes - "Una Donna Allo Specchio" tem elementos fascinantes em seu roteiro, uma direção segura, a beleza de Stefania Sandrelli e a revelação de vários atores jovens. Um filme nota 10. Em reprise no CINEMA I. Outra reprise recomendável: "Noites do Sertão", de Carlos Prates Corrêa, com Deborah Bloch, Cristina Aché, Tony Ramos e Milton Nascimento em participação especial. A melhor transposição feita ao cinema até hoje de um texto de Guimarães Rosa, filmado no interior de Minas Gerais e com uma antológica trilha sonora de Tavinho Moura (editada em lp independente, no ano passado - para nós considerado o melhor álbum de 1985). Premiado em Gramado e outros festivais, "Noites do Sertão" - em reprise no cine Luz - merece ser visto. Finalmente, dois filmes que continuam em cartaz: agora no Bristol, o profundo "O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas" (St. Elmo's Fire) de Joel Schumacher - a crônica de um grupo de recém-formados, na busca de seus caminhos e o campeão-de-bilheteria, "Rocky IV", de Sylvester Stallone, no Lido II. LEGENDA FOTO 1 - Philipe Noiret, premiado como melhor ator no FestRio-1984, por "Golpe de Tiras", em cartaz no Vitória. LEGENDA FOTO 2 - Aventuras como nos anos 40: "A Jóia do Nilo", com Michael Douglas, no cine Plaza. LEGENDA FOTO 3 - Comédia ao estilo pastelão, com gente desconhecida no elenco - como Paul Smith e Sheree Wilson - "Dois Heróis Bem Trapalhões" está em exibição no Astor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
31
23/03/1986

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