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Aramis

Na Semana Santa, o público voltou a lotar os cinemas

Mais de Cr$ 1 milhão em dois dias de borderaux cinematográficos é uma cifra que possibilita várias interpretações. E examinando-se as rendas dos cinemas do centro de Curitiba, na Quinta e Sexta-Feira Santa percebe-se que apesar da televisão, quando há folga, motivação e filmes atraentes, o cinema ainda consegue ser uma grande diversão. Osvaldo Scaramelo, 32 anos, 10 de cinema, o eficiente gerente do Astor, confessa que nunca viu dois dias de tanto movimento como 3 e 4 últimos. "Pessoas vindas de bairros distantes, que não sabiam sequer como passar por uma catraca de cinema, entraram no Astor - normalmente uma casa [freqüentada] por um público sofisticado - para assistir "Os Dez Mandamentos". Produzido há 25 anos, última superprodução dirigida por Cecil B. De Mille (1881-1959). "The Ten Commandments" anualmente é reprisado e sua rendas sempre são excelentes: no Bristol, em 4 sessões, rendeu Cr$ 37 mil e no Astor, também em apenas 4 sessões (sua longa metragem, 4 horas de duração, não permite maior número de sessões) chegou a Cr$ 40 mil. "Jesus", de Peter Sykes e John Kirsh, produção de 1978, com Brian Deacon no papel-título, somente na Sexta-Feira Santa, em 7 sessões no São João, rendeu Cr$ 160 mil - recorde absoluto. xxx Mas o mais curioso é o caso de uma antiga produção mexicana, "Jesus de Nazaré", direção de Ramon Pereda, com José Cibrian no papel principal, que só é exibida na Semana Santa. No Avenida, na Sexta-Feira, faturou mais de Cr$ 100 mil, enquanto no Glória, na primeira sessão, as 10 horas da manhã, já era vista por 290 espectadores, a maioria vindos de bairros distantes. Mas as boas rendas não ficaram apenas nos filmes bíblicos: "Jornada nas Estrelas - O Filme", de Robert Wise, na quinta e sexta-feira, rendeu Cr$ 184 mil. "Drácula", de John Badham, no Lido, Cr$ 89 mil, "Z", de Costa Gravas, no Plaza e Cinema 1, passou dos Cr$ 120 mil. A análise das rendas é um fator importante para compreender o público e as formas de motivá-lo a deixar a casa e ir ao cinema. Quando cinemas são fechados por falta de púbico e prejuízos em escaladas, cifras como as registradas na quinta e sexta-feira Santa, mostram que se pode estimular o espectador a voltar a [freqüentar] as salas. Mas de uma forma racional, não por imposições legais, forçando a exibição de filmes que não chegam a sua compreensão. Para estes, tão necessários e importantes, devem ser criados esquemas especiais, com estímulos aos exibidores. Simplesmente acusar as empresas exibidoras, ignorando outros aspectos, é uma posição cômoda e festivamente simpática a certos grupos radicais. Mas de nada adianta em termos práticos. xxx Um esclarecimento que se faz necessário, face a injustas acusações que surgiram: o ciclo retrospectivo Werner Herzog, que levou mais de mil pessoas ao miniauditório Glauco Flores de Sá Brito do Teatro Guaíra, foi realizado por iniciativa do Goethe Institut e grupo Primeiro Plano, num planejamento iniciado há 120 dias e que contou com a total ajuda do Museu da Imagem e do Som - entidade que se vem preocupando em estimular o bom cinema. Já a retrospectiva Akira Kurosawa, no Bristol, ocorreu porque, numa atitude de extrema boa vontade, os diretores da Fama, Jaime Tavares e João Aracheski, atenderam a solicitação do crítico (e agora cineasta de super 8) Francisco Alves dos Santos, feito há pouco mais de um mês. Portanto, a coincidência de datas não foi intencional. Lamentável, é claro, mas não intencional, pois a promoção do Goethe havia sido marcada com muito maior antecedência.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
9
06/04/1980

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