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Aramis

Na tese de Benevides, a História das Ligas

Ontem à tarde, quando defendeu sua dissertação "Camponeses em marcha - Estudo das Ligas Camponesas Paraibanas " ( 1960 / 1964 ), para obtenção do grau de Mestre em História do Brasil, no curso de pós-graduação de UFP, o professor Cezar Augusto Carneiro Benevides finalizou um trabalho de vários anos de pesquisa e interpretação. E que mais do que um simples estudo acadêmico representa a primeira contribuição ao entendimento melhor de um dos aspectos menos analisados nas lutas sociais do Nordeste - as ligas Camponesas, concentrando o estudo no Estado da Paraíba e trazendo personagens que também aparecem nas emocionantes imagens de " Cabra Marcado Para Morrer " ( Cine Groff , 5 sessões 5º semana ) . xxx Tendo a professora Odah Regina Guimarães Costa como orientadora de sua tese, Cezar Benevides fez um amplo retrato da vida politica e social da Paraíba, emorando-se em entender as condicionantes que levaram a criação das ligas Camponesas a partir de 1958, a miséria dos trabalhadores rurais, a oligarquia dos grandes proprietários e a participação da politica e Igreja em todo este universo. Por exemplo, Cezar demora-se em explicar o chamado " Grupo da Varzea ", ou seja os interesses de grandes proprietários rurais e proprietários da indústria canavieira, ocupando os melhores estoques de terras ferteis daquele Estado, na qual há o maior rebanho bovino do Estado e a mais alta densidade populacional do campo paraíbano. O temor destes grupos de proprietários rurais frente à organização dos componeses é que provocaria a violência contra os lideres campesinos, num processo em escalada que ainda não terminou - do que é a prova assassinato, há menos de dois anos, de Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, morta com um tiro no rosto, à porta de sua casa e diante do filho menor, em 12 de agosto de 1983. xxx Na história dos movimentos sociais do Nordeste, um dado interessante lembrado por Benevides ; a margem da luta social e política do campesinato paraíbano, foram surgindo encontros regionais, representando a necessidade de somar forças pela transformação da realidade nordestina, provocando aliança que permitiram pouco tempo depois a eclosão das Ligas Camponesas. Um exemplo, foi o encontro dos Bispos do Nordeste em Campina Grande, a 26 de maio de 1956, que teve por objetivo estudar os problemas econômicos e sociais da região. Criticamente, Benevides observa : " embora com preocupações sociais no encontro, os bispos formulavam uma nova orientação, visando aumentar a influência e o poder da Igreja. " Ao aderirem ao projeto nacional desenvolvimentista, os bispos consolidavam a sua aliança, com tecnocratas populistas, que permaneceriam longos anos no poder. Como marco de expressão política, não foi por acaso que o encerramento contou com a presença do presidente Jucelino Kubistchek ". Porém, o mais importante resultado prático da reunião foi quando " os bispos tomaram então uma outra decisão que influenciou ainda mais profundamente o discurso social da Igreja no Brasil : a de declarar a sua solidariedade fundamental com as camadas mais pobres da população e a de rejeitar as suas responsabilidades face ás injustiças produzidas pelo capitalismo ". Dois anos depois da reunião dos bispos, aconteceria também em Campina Grande, entre 10 e 13 de maio de 1958, o I Encontro dos Trabalhadores da Paraíba, que teve a participação dos camponeses. E a partir do congresso, a luta sindical adquiriu novo ânimo porque as principais deliberações tomadas pelos participantes direcionavam -se para ampliar a luta dos trabalhadores. E no mesmo ano surgiria a Liga Camponesa de Sape - em analogia à liga de Galiléia, no vizinho Estado de Pernanbuco, onde o movimento de oorganização dos trabalhadores rurais também já vinha acontecendo. João Pedro Teixeira foi, inicialmente, vice-presidente da Liga Camponesa de Sape, mais, em pouco tempo, se destacaria como o líder natural e o que o levaria a, quatro anos depois, ser assassinado. Assim o descreve Cezar Benevides : " Na sua fisionomia tranqüila dava a impressão de um obstinado. Dedicava-se à causa camponesa com devotamento quase religioso, como se os camponeses pertencessem à sua própria família, apesar dos encargos com onze filhos menores - todos trabalhando no pequeno sitio Sono das Antas nas proximidades do Café do Vento. Sua atuação, pela tenacidade inquebrável, lembrava a de Margarida Alves. Ambos de baixa estatura e de fisionomia mais alegre do que preocupada. Motivos por crença inabalável, revelam um gênero de perseverança tal, que não lhes sobrava tempo para coisa alguma, além da missão a cumprir. Este rápido perfil explica, por si só, a sentença de morte decretada pelo grupo da Várzea em 1962 e outra, decretada em 1983. Para os latifundiários, João Pedro Teixeira teria sido enviado à Paraíba como parte do plano dos comunistas para neutralizar o poder do Grupo da Várzea e servir de instrumento de mobilização e organização das massas rurais de Sape ".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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09/04/1985
Prezados, por favor, alguém sabe como posso conseguir um exemplar desta dissertação? Posso pagar a fotocópia e o envio aqui para Londrina. Sou pesquisa e meu tema é mst. Muito obrigada. Valeu pela força.

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