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Aramis

Nana, a percussão com um alcance sinfônico

Durante muitos anos, Egberto Gismonti dividiu suas apresentações no Exterior - e gravações na ECM como o percussionista pernambucano Nana Vasconcelos. Incrível bruxo sonoro, Nana se tornaria famoso no Exterior antes de obter um reconhecimento no Brasil - onde, há quase 20 anos, fez um notável elepê de percussão/vozes ("Amazonas", Polygram), hoje raridade. Embora mantendo uma amizade - e eventuais trabalhos com Gismonti, Nana seguiu caminhos próprios. Em 1979, com a Sinfônica da Rádio de Stutgart, gravou o elepê "Saudades" (ECM), um trabalho avançadíssimo. Depois, com o saxofonista norueguês Jan Garbareck (com o qual continua a trabalhar) e Colin Walcott formou o grupo Codona, resultando vários elepês. Como Gismonti, requisitado também para trilhas sonoras - já fez música para Jacques Rossieri ("Náufragos da Ilha da Tartaruga"), Pierre Barough ("Ça Ca. Ça Vient"), tocando em trilhas de filmes de Susan Seldeman ("Making Mr. Right", editado no Brasil pelo SBK/CBS) e Jim Muarsh ("Daunbailo"), agora fez uma experiência não só como compositor, mas também ator em "Do Outro Lado da Água", de Didier Legrand, rodado em Dacar, além de estar escrevendo a trilha sonora de "Amazonas", o novo filme do diretor finlandês Mika Jaurismaki (diretor de "Helsinki / Nápoles", apresentado apenas no IV FestRio), a ser rodado no Brasil. Com experiências que vão desde trabalhos de musicoterapia pelo corpo a desenvolvimento de novos instrumentos com o arquiteto californiano Peter Engelhard (que também faz peças para o percussionista Airto Moreira), antenas ligadas com o som de todas as matizes, Nana, numa nova etiqueta, a Antiles, da Island Records, gravou há dois anos o "Bush Dance". No ano passado, fez um novo e incrível disco, espécie de seqüência daquele - o "Rain Dance", no qual trouxe o grupo que chama de "The Bushdancers" - os brasileiros Cyro Baptista (percussão e vocais), Sérgio Brandão (baixo e cavaquinho) e o tecladista suíço Tesse Cohl (que se destaca em "Bird Boy", primeira faixa do disco e uma parceria de Nana com Don Cherry). Em uma faixa, "Pasha Love", há a participação do percussionista Triolok Gurtu - que também tem, eventualmente, trabalhado com Airto Moreira. Instrumentista e compositor (autor de todas as 10 músicas do álbum - Nana, músico que já trabalhou com músicos dos mais famosos (J. B. King, Pat Metheny, Talking Heads, Jean Luc Ponty, etc.) é um criador que a exemplo de Gismonti, redimensiona sonoramente cada novo trabalho. Voltado aos sons da natureza, também com preocupações ecológicas - mas sem modismos oportunistas e produzindo um som realmente universal, em um trabalho notável, o que nos faz lamentar que até agora outro de seus elepês ("Zumbi", 1983), onde se sobressaíram os vocais e a "percussão corporal" (utilização do corpo como instrumento) permaneça inédito no Brasil. Retornado em 1986 - após ficar quase uma década na Europa e Estados Unidos - Nana é ainda desconhecido das platéias curitibanas, embora aqui tenha estado, uma única vez, em 1972, no Paiol, quando Nara Leão (1942-1989) ali apresentava um jovem compositor cearense chamado Fagner, que tinha como acompanhantes nada menos que Wagner Tiso (teclados), Chico Batera, baixista Noveli e o percussionista Nana Vasconcelos. As três apresentações tiveram público reduzidíssimo, o empresário Benin Santos sofreu prejuízo e hoje nem com um milhão de cruzeiros se reuniria aquele grupo - já que além de Nara ter nos deixado, os outros cinco participantes são todos all stars.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
24
13/05/1990

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