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Aramis

Nelson Golçalves tenta novamente!

Justiça seja feita! Aos 54 anos, 35 de vida artística, Nelson Gonçalves, paulista da Capital, ex-garçom e ex-boxeur e que em 35 anos de RCA Victor gravou mais de 1.200 músicas, ganhou vários discos de ouro, mas raras vezes soube escolher seu repertório - transformando-se numa espécie de "intérprete dos fracassados", pela fossa negativa das músicas de seu compositor constante, o Adelino Moreira - busca agora, desesperadamente, um novo caminho. Há 3 anos já começou mudar sua imagem: cabelos revoltos, um repertório mais agradável, chegando ao ponto de, no penúltimo álbum dispensar a prejudicial companhia de Adelino Moreira. Mas que volta agora, assinando seis das 14 músicas gravadas por Nelson, além de ter feita a versão de "Let me try again" (Jourdan/Caravelli/Anka-Cahn), "numa homenagem ao maior cantor de todos os tempos nos Estados Unidos, Frank Sinatra, que certa vez quando Nelson apresentava-se no Radio City Music Hall, de Nova York, visitou o grande cantor brasileiro em seu camarim e disse que Nelson era dono da voz mais bonita que já ouvira, de um timbre espetacular, de sua interpretação belíssima", como depõe Moreira na nota de contracapa. Realmente Sinatra tem alguma razão: a voz de Nelson Gonçalves é bonita, não se pode negar. Mas o diabo é que poucas vezes ele soube aproveitá-la num repertório digno. Desta vez, onde Nelson relembra sua primeira gravação, "Sinto-me Bem" de Ataupho Alves, incluiu também um de seus grandes sucessos - "Carlos Gardel" de Herivelto Martins e David Nasser, mas, dentro da linha que está procurando - criar uma imagem de cantor de (boa) MPB, gravou, felizmente, composições de Benito Di Paula ("Retalhos de Cetim"), Sérgio Bittencourt ("Eu Quero") e Luis Bandeira ("Muito Entre Nós"), que embora não estejam entre os [gênios] de nosso cancioneiro tem alguns trabalhos [apreciáveis]. Gente menos conhecida como Maria Luiza ("Se Você Encontrar Com Ela") e José Orlando/Luiz Gaspar ("Chão") foram incluídas ao lado de Adelino que, talvez pela insistência de Nelson, decidiu melhorar um pouco o clima de suas músicas e numa delas, intitulado "Juca Mulato"- mesmo título do clássico poema de Menotti Del Picchia - demonstra que deve continuar tentando que talvez um dia faça uma boa música. 35 anos depois Nelson Gonçalves pede para tentar novamente. Pois não, continue tentando! xxx Com duas versões - "A Canção que eu fiz" (La Chanson pour Anna), "Sempre no meu coração" (Always in my heart, de Ernesto Lecuona - o velho sucesso dos anos 40), uma composição própria - "Minha Solidão", músicas de Dora Lopes ("Minha Vontade de Dizer"), Adelino Moreira/Enzo A. Passos - que dupla, cruz credo! ("Negue"), José Augusto (Rossini Pinto) ("É Tarde Pra Recomeçar"), entre outros, o cantor José Ricardo faz um álbum que talvez chegue a vender bastante junto a um público que gosta de intérpretes românticos, vozes açucaradas. Um cantor de uma voz agradável, mas que começa cometendo o mesmo erro que condenou Nelson Gonçalves por 30 anos: o repertório limitado, músicas comerciais. Entendemos que não seja culpa do rapaz - pois a produção precisa garantir o faturamento mínimo, mas é de se esperar que uma gravadora de valor como a Odeon saberá dar melhores chances a José Ricardo. Mas ele precisa colaborar e descobrir que na rica MPB existe gente melhor do que Adelinos Moreiras e José Augustos. Ainda há tempo, irmão! Olhe o exemplo de Nelson Gonçalves, que apesar de velho descobriu seu erro e está tentando novamente!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
12
17/09/1974
Pelo amor de Deus!!!!! Como alguém pode meter o pau em Adelino Moreira desta forma. Tudo bem que existem canções de Adelino que não são das melhores. Mas Caetano, Gil e companhia fazem também muitas merdas e ninguém fala nada. Adelino gravou com Nélson: A Volta do Boêmio, um clássico da nossa música. Será que antes de morrer Aramis chegou a se redimir????

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