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Aramis

Nina Hagen duas vezes

O fracasso da excursão de Nina Hagen ao Brasil, no segundo semestre do ano passado - após sua explosão no Rock In Rio, há exatamente um ano, não esmoreceu o público que a curte. Tanto é que de uma só vez a CBS encerrou 1985 com o lançamento de dois LPs de Nina - gravações já antigas, anteriores ao explosivo "Nunexmonkrock" (CBS, 82) - que foi o seu primeiro disco lançado no Brasil. Além desta dupla presença de Nina - "Unberhagen" e "Nina Hagen Band", temos ainda a sua participação no LP-montagem "Cindy Lauper & Friends" (Sigla/Som Livre), com a demolidora versão que fez de "New York, New York" - o cromático hit de Frank Sinatra, lançado há sete anos passados - e que, em sua leitura sonora adquiriu contornos absolutamente inéditos. Nina Hagen é o exemplo da cantora-liquidificadora, que com uma formação erudita, adolescência passada em Berlim Oriental - enteada de Wolf Liebman, um dos (raros) compositores-cantores contestadores a sobreviver na República Democrática da Alemanha, se projetou, nesta década como a mais impressionante cantora. Só a norte-americana Laurie Anderson - esta já com dois LPs aqui editados (WEA), aproxima-se da criatividade de Nina Hagen, para quem as músicas, em seu tema central, funcionam apenas como um ponto referencial, já que a criação fica, totalmente em sua forma de dizê-la - e que, ao vivo, tem um sentido único de espetáculo, levando o público ao delírio. "Unberhagen" é uma gravação ao vivo, no Congress Hall, em Saarbruecken, em 6 de abril de 1979 - e que foi submetido ao processo de mixagem entre outubro/novembro daquele ano. Portanto, foi há 6 anos que saiu na Europa este disco no qual Nina era acompanhada por músicos como Heil (teclados/sintetizadores), Mitteregger (bateria), Potschka (guitarra) e Praeckerigi (guitarra rítmica), também vocalista em alguns momentos. Basicamente, todos os trabalhos são de autoria de Nina e seus músicos, com letras provocativas e que só podem mesmo ser entendidas através da leitura do encarte - que as trazem em inglês, francês e alemão. O segundo álbum - simplesmente "Nina Hagen Band" - não tem, infelizmente a data exata da gravação, mas seu lançamento, na Alemanha, ocorreu me 1978 - portanto anterior a "Unberhagen". Mitterreger, Potschka, Praecker e Heill já a acompanhavam na época - e com ela dividiam as criações das músicas, com títulos como "Unberschreiblich" (Indescritível), "Naturtrane" (Lágrima da Natureza") ou "Der Spinner" (O Cascateiro). Uma faixa, entretanto, é de autoria de outros autores - Evans/ Spooner/Steen - e tem duplo título dos mais significativos: "TV-Glotzer" (Videota) ou "White Punks On Dope" (Punks Brancos Drogados). Da extensão de 5:15" em "TV-Glotzer" à vinheta de 0,51 em "Heiss" ("Quente"), Nina Hagen Band esbraveja, explode, sobe pelas paredes sonoras nesta sua intensa presença musical. Dois discos antigos cronologicamente, mas contemporaníssimos em suas propostas. xxx Cyndi Lauper não chega a ser uma Nina Hagen, mas é também uma cantora de imaginação e vigor. E isto sente-se nas seis faixas recolhidas por Sérgio Motta de sua discografia para a montagem de "Cyndi Lauper & Friends". Os amigos, no caso, são conhecidos: Mick Jagger ("Lucky In Love"), Jim Diamond ("I Should Have Known Better"), Billy Joel ("You're Only Human") e, a já citada Nina Hagen, com "New York".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
19
12/01/1986

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