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Aramis

A ninpha Mara ajuda Carmen gravar elepê

Na próxima semana, num pequeno estúdio de som - o Gramofone, na Rua Comendador Araújo, 652, loja 10 - uma das últimas cantoras da chamada "época de ouro" gravará a décima (e última) faixa de um elepê que, após quase 10 anos de criminoso esquecimento, a devolve a fonografia: Carmen Costa (Carmelita Madriaga, Trajano de Morais, Rio de Janeiro, 05/11/1920). Só graças ao entusiasmo de Mara Fontoura, do grupo As Ninphas (que, dentro de 60 dias, retornam num espetáculo no Paiol), sócia da Gramofone e o apoio de um grupo de músicos que ali trabalham, o disco está saindo. Nove faixas já foram gravadas, com arranjos divididos entre Sérgio Bianchi e Fernando Montanari, com a participação de alguns instrumentistas que também estão sendo arregimentados para a Raul de Souza e Sérgio Bianchi Big Band, em formação (amanhã, contaremos detalhes em nossa página dominical). Em agosto de 1988, Carmen foi notícia nacional quando procurou o então ministro José Aparecido, da Cultura, propondo o "seu" tombamento em vida como patrimônio musical. Foi uma forma interessante de chamar atenção para o esquecimento a que são relegados patrimônios musicais como ela, que em 55 anos de carreira, centenas de gravações, criou inúmeros sucessos entre as 600 músicas que gravou. A idéia teve repercussão e o secretário René Dotti, como advogado, prontificou-se a embasá-la juridicamente, só que parece que o projeto ficou no meio do caminho. Carmen - em seu lado de compositora (no qual usa o pseudônimo de Dom Madrid), procurou dois parceiros - Beto Bernardo e Raul Júnior - e fez o samba "Tombamento" que deverá dar título a este elepê que está fazendo, "com garra, coragem e ajuda da Mara e seus amigos em Curitiba". Dizendo-se cansada de apenas cantar em português, Carmen lembrou-se de uma antiga música americana que sempre gostou "Tennessee Waltz", e a incluiu no repertório, no qual está também uma música com letra em francês e inglês - "La Luet e Le Sabiá", em que partindo de versos de Gonçalves Dias, juntou seu lado de compositora aos parceiros Luís Manoel e Domingos da Silva. Claro que standards que a identificam como grande intérprete de canções dor-de-cotovelo - como os clássicos "Ronda", "Eu Sou a Outra", "Quase", "Carmelito" e "Está Chegando a Hora" - este, um sucesso do Carnaval dos anos 50 e que até hoje é sua marca registrada, não faltarão. Mostrando que a idade não a deixou desatualizada, fez em parceria com Francisco Menezes e Jandir de Souza um samba chamado "Marylin Monroe", em homenagem à eterna sex symbol do cinema americano falecida há 29 anos. xxx Aplausos a Mara e seus sócios da Gramofone - João Roberto Gaiotto e Álvaro Ramos, pela disposição de investirem capital e trabalho para que Carmen Costa - que tantas amizades fez em Curitiba, onde permanece em longas temporadas, já é uma paranaense afetiva - ter uma gravação nova. E que o disco, efetivamente, consiga ser concluído, não repetindo-se o que ocorreu com o projeto de Cláudio Ribeiro, que iniciou a produção daquele que seria o primeiro álbum-documento do compositor Claudionor Cruz (Piraibuna, São Paulo, 01/01/1910) interrompido na sexta-feira e cuja matriz está abandonada no estúdio Audisom, cujos proprietários, os irmãos Reinaldo e Rodge Camargo - não se animaram, até hoje, a finalizá-lo. Pior o que aconteceu com o catarinense Luís Henrique: começou a gravar um elepê no Sir e com sua morte o material parece que foi extraviado. Pelo menos, até hoje, o bom Carlinhos de Freitas, engenheiro de som do estúdio da família Tamplim, até hoje não localizou a fita matriz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
19/01/1991

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