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Aramis

No campo de batalha

Emoção, aplausos, discussões: "Terra para Rose", de Tetê Moraes, com uma hora e vinte minutos de projeção, foi o filme mais importante de todos os apresentados neste XX Festival de Brasília. Documentando o drama dos sem-terras que invadiram a Fazenda Anoni, nos municípios de Sarandi e Ronda Nova, no Rio Grande do Sul, entre 1985/87, Tetê realizou um filme fascinante, que teve aqui a sua primeiríssima exibição. Coincidência ou não, o proprietário da fazenda invadida, o latifundiário Bolívar Anoni, 57 anos, gaúcho de Não-MeToques, ex-sócio de Leonel Brizola em empreendimentos rurais, estava também no Hotel Nacional e, acompanhado de seu advogado, Justino Vasconcelos e de seu primo, Luigi Arena, assistiu ao filme. Fotografado, filmado e entrevistado, Bolívar Anoni - que no filme é uma espécie de vilão - deu sua versão sobre os fatos relacionados à invasão da fazenda. O filme de Tetê de Moraes é vigoroso, com imagens fortíssimas e uma montagem de influências eiseisnteineanas. Sacudiu politicamente o festival e merece um registro maior na edição de domingo. Ainda sobre Tetê Moraes: seu documentário anterior foi sobre a experiência socializante-comunitária da Prefeitura de Lajes, em Santa Catarina, já exibido várias vezes na Cinemateca do Museu Guido Viaro. O prefeito na época, Dirceu Cardoso, é hoje senador do PMDB, e estava entre os espectadores de "Terra para Rose". O ministro da Reforma Agrária, Jader Barbalho, embora na terça-feira, 20, tivesse vindo almoçar no Hotel Nacional - aliás, dividindo a mesa com o deputado paranaense Oswaldo Macedo - não ficou para a projeção do filme. Convidado, alegou ter reuniões inadiáveis à tarde. Foi pena, pois deixou de ver um documento sobre a questão agrária que vale mais de mil discursos. Despindo-se à beira das piscinas nos hotéis-sede dos festivais de cinema. Agora a coisa mudou tanto, que na noite em que o bar da piscina do Hotel Nacional abriu depois da meia-noite, a única mulher a cair na piscina foi uma bela fotógrafa brasiliense. Desinibida, nadou bastante e acabou tirando a blusa, fazendo um semi strip-tease, aplaudida, entre outros, pelo ator Paulo Cesar Garna e o diretor Marcos Altberg. Antes, quem mergulhou contra sua vontade na piscina foi um cidadão de Brasília, conhecido como "Padu", que ganhou o "Kikito" de "O Mais Chato" dos bicões do festival. Tanto é que quando o ator Joel Barcelos o empurrou na piscina, os aplausos foram gerais. Todos estavam desejando aplicar no chato brasiliense o necessário corretivo. Circulando nos dois últimos dias do festival, discretamente, o ex-presidente da Embrafilmes, Carlos Augusto Calil, que agora está em Natal, no festival ali iniciado segunda-feira. Terça-feira, 20, o cineasta Roberto Farias tomou posse na vice-presidência do Concine. Muitos colegas que aqui estão prestigiam-no em seu novo cargo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/10/1987

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