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Noel Rosa, atual e moderno revivido em seus songbooks

Transcorridos quase 50 anos da morte de Noel Rosa - ocorrida em 4 de maio de 1937 - e 81 de seu nascimento (Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1910), Poeta da Vila está mais vivo do que nunca. Difícil encontrar um brasileiro que não conheça alguma canção entre as 230 que Noel compôs em seus breves 26 anos, 4 meses e 4 dias em que viveu, amou e sobretudo compôs no Rio de Janeiro - com raras saídas da Vila Isabel, onde nasceu e viveu toda sua vida na casa de seus pais, Manoel Medeiros Rosa, gerente de uma camisaria e Maria de Azevedo, professora primária. No final de 1990, após cinco anos de pesquisas, o jornalista João Máximo e o pesquisador e músico Carlos Didier, publicaram o mais completo levantamento da vida do compositor ("Noel Rosa, uma biografia", Editora da Universidade de Brasília. Mergulhando em todas as fontes, Máximo e Didier (*) produziram um estudo que mesmo sem pretender ser definitivo sobre a vida de Noel, foi o mais completo, numa bibliografia em que, entre centenas de textos avulsos, destacavam-se duas obras bastante emocionais: "O Poeta da Vila", de seu primo Jacy Pereira e "No Tempo de Noel Rosa", que seu maior amigo, parceiro e companheiro de boêmia, Almirante (Henrique Foréis Domingues, RJ, 19/2/1908 - 22/12/1980) lhe dedicou em 1963 (Editora Francisco Alves, em terceira Edição). Em dezembro de 1991, nova e ainda mais significativa homenagem a Noel Rosa: Almir Chediak, violonista, professor e editor, que através da Lumiar vem desde 1988 publicando uma notável série de Songbooks, fez uma edição para reunir 120 composições de Noel - em três volumes, e mais um álbum duplo, no qual importantes brasileiros revisitam, respeitosamente, os maiores sucessos do Poeta da Vila. Destacando como um dos mais importantes eventos culturais do ano, na área musical, enquanto os 3 volumes do Songbook de Noel Rosa podem ser encontrados nas boas livrarias de Curitiba (Nova Ordem, Curitiba e Guerreiro & Guerreiro), o álbum duplo, infelizmente - assim como a sua versão em CD (que só agora ficou pronta) não encontrou, até a semana passada, nenhum lojista disposto a colocá-lo a disposição das dezenas de pessoas que, por certo, o adquirirão. Mais uma prova de como os comerciantes do setor fonográfico de Curitiba, mesmo com lojas pretensamente sofisticadas, mostram ignorância e desinteresse pela cultura de nosso País. xxx Além de ter selecionado, com ajuda do pesquisador Jairo Severiano e do jornalista Sérgio Cabral, as 120 composições que entre as 230 deixadas por Noel Rosa eram as mais importantes para ser editadas em melodia, letra e harmonia (acordes cifrados) para violão, guitarra, piano órgão e outros instrumentos, Almir Chediak, a exemplo do que faz em todas suas edições, completou a produção com notável esmero. Nos três volumes, impressos em papel couchê, excelente acabamento gráfico, encontram-se dezenas de ilustrações localizando Noel e seus amigos e parceiros no Rio de Janeiro dos anos 20, acompanhados de nove textos brilhantes. Almir, em "Noel: um gênio modernista" expõe a importância de Noel e a filosofia que buscou nesta edição; Sérgio Cabral, a quem o Brasil já tanto deve em termos de pesquisas e jornalismo musical, além de ter elaborado didáticas (e curiosas) anotações sobre cada uma das músicas selecionadas, em "O Eterno Jovem" mostra um perfil de Noel. Mathilda Kovak, redatora, compositora, letrista "e epígona efetiva de Papai Noel Rosa", em 6 páginas ("O Nome da Rosa") faz um bem humorado e inteligente aproach do compositor, visto também em texto teórico do professor e sociólogo da comunicação Muniz Sodré ("A Lira Independente"). Almir Chediak fez também quatro preciosas entrevistas: Dorival Caymmi, Antônio Carlos Jobim, João de Barro (Carlos Alberto Ferreira Braga, RJ, 29/3/1907), companheiro e amigo de Noel dos tempos do Banco de Tengarás (1929/1933), e o último remanescente daquela época, ainda em atividade musical - embora há anos sem ter mesmo suas marchinhas carnavalescas gravadas, ele que foi autor dos maiores sucessos do Carnaval Brasileiro - e aquela que, entrevista - na ordem, a que está já no primeiro volume - que traz o maior ineditismo. Pela primeira vez, Lindaura Rosa, com quem se casou em dezembro de 1934 - e ainda viva, foi entrevistada e falou sinceramente da vida em comum com Noel, de sua doença (tuberculose) e principalmente de sua boêmia e das muitas mulheres que ele amou - especialmente Ceci, que conheceu com 16 anos, num cabaré da Lapa e inspirou sambas como "Pra Que Mentir", "O Maior Castigo que eu te dou", "Só de ser Você"; "Quantos Beijos", "Quem ri Melhor...", "Cem mil-réis" e "Dama do Cabaré", compostos entre 1934/16, em parceria com Vadico (Oswaldo Gogliano, SP - 24/6/1910 - RJ, 1/6/1962). Pelo ineditismo desta entrevista, nos permitimos transcrevê-la em alguns trechos, autorizados por Almir Chediak, mas recomendando o conhecimento de seu texto integral na própria edição do Songbook, obra indispensável a quem ama e a MPB - e que para quem pretenda cantar e tocar a obra de Noel, se constitui no melhor guia de partituras já publicado no Brasil. LEGENDA FOTO - Noel Rosa: em menos de 27 anos compôs 230 músicas, das quais mais de cem cantadas até hoje, quase 50 anos após a sua morte, em 4 de maio de 1937.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
26/01/1992

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