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Aramis

Noite do Oscar cinquentão

NA noite em que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood comemorou a 50a festa de entrega do Oscar (segunda-feira, transmitida para 44 países, atingindo mais de 250 milhões de telespectadores) o momento em que o elegante e sofisticado público presente no Dorothy Chandler Pavillion, em Los Angeles, demonstrou maior entusiasmo e sinceridade nos aplausos foi quando a veterana atriz Olivia de Havilland, 62 anos, ao som do "Taras Theme", que Max Steiner (1888-1971) compôs para "E O Vento Levou" (1939), entregou um Oscar especial a Maggie Booth, que há 62 anos trabalha como montadora em Hollywood. O público ficou de pé e aplaudiu demoradamente aquela mulher cujo nome nunca antes apareceu em destaque, mas que mereceu o reconhecimento da elite do star system presente na festa mais marcante do cinema-industria. Foi, de certa forma, uma prova de maturidade do público, ao aplaudir uma humilde profissional, que trabalhando há mais de meio século atrás das câmaras, representa o esforço de tantos milhares de rostos anônimos que ajudaram a fazer do cinema a Usina de Sonhos que há 80 anos conduz sonhos coloridos em imagens iluminadas nos retângulos de pano espalhados pelo mundo. xxx Apenas em dois outros momentos o público manifestou aplausos, em pé: aos também veteranos Fred Astaire, 79 anos e a Janet Gaynor, 72 anos, que foi a primeira atriz a receber o Oscar, 50 anos passados, pelo conjunto de sua atuações em "Sétimo Céu", "Anjo das Ruas" e "Aurora". Foram, antes de tudo, dois momentos de respeito a pioneiros do cinema - que junto com a discreta presença do diretor King Vidor, 82 anos, ali estiveram como símbolos, do qual o Oscar - uma estatueta cujo valor real não passa de US$ 100,00 mas que é o totem de maior significado econômico, em termos de marketing cinematográfico há muitos anos. xxx Como espetáculo, a festa do 50o aniversário do Oscar foi decepcionante. Não teve a grandiosidade e agilidade de algumas edições anteriores, ao menos dos últimos 9 anos, desde quando passou a ser transmitida, ao vivo, para o Brasil. Não houve a emoção que, no final da festa de 1972, tomou conta ao ser prestado um (tardio) reconhecimento a Charles Chaplin, (1889-1977), em sua última aparição coast to coast nos EUA, homenageado com um troféu especial - ele que, como Orson Welles, e durante tantos anos foi sempre injustamente esquecido. Não houve mesmo nem um momento de ufanismo, como, há dois anos, aconteceu, com Elizabeth Taylor puxando o coro de "América, The Beautiful", em homenagem ao bicentenário da Independência dos EUA. Na verdade, a festa do cinqüentenário do Oscar foi pálida, amorfa - longe da grandiosidade que milhões de telespectadores esperavam, considerando o significado da data. xxx Pela 22a vez em seus 50 anos, a Academia de Artes e Cinematográficas de Hollywood entregou a Bob Hope, 75 anos, as funções de mestre-de-cerimonias. Mais discreto do que em dezenas de ocasiões anteriores - assim mesmo com muitas piadas unicamente locais, o veterano ator e humorista teve para contrabalançá-lo a participação de mais de cinqüenta personalidades do cinema, em intervenções diversas durante os 140 minutos de duração da festa: Veteranos como Bette Davis, 70 anos (completados hoje), Joan Fontaine, Greer Garson, Kirk Douglas, Gregory Peck, Stanley Kramer, além de Janet Gaynor e Fred Astaire, ao lado de gente mais jovem - Maggie Smith, John Voigt, Goldie Hawn, Marcello Mastoianni, Walter Mathau, Paul Willians, Rachel Welch, John Green, Henry Mancine, Walter Mathau e mesmo nomes ainda praticamente desconhecidos no Brasil, em termos de grande público como Cecely Tyson, Billy Dee Willians e Henry Winkler. xxx Vanessa Redgrave, melhor atriz coadjuvante por "Julia", foi a única nota contestatória da noite. Mulher de idéias políticas definidas, cuja indicação ao Oscar provocou protestos da poderosa colônia judaica nos EUA (ela colaborou recentemente com os produtores de um filme da Frente de Libertação da Palestina, fazendo a narração), Vanessa, logo nos primeiros minutos da festa, ao receber o seu troféu falou da importância da fita que fez, junto com Jane Fonda, sob direção de Fred Zinnemann, que aborda aspectos do nazismo. A corajosa colocação de Vanessa provocou posteriormente uma decepcionante crítica do roteirista Paddy Chayfsky ("Marty", "Despedida de Solteiro", "A Deusa", "A Festa do Casamento" e "Network/ Rede de Intrigas", que lhe valeu o Oscar de melhor roteirista no ano passado). Felizmente, Alvin Sargent, roteirista premiado pela adaptação de "Julia", voltou ao final a fazer uma precisa colocação da importância da época do Maccarthismo ser denunciada e homenageou, indiretamente, Lilian Hellman, vitima alias da "Caça às Bruxas" e que, no ano passado, mereceu um emocionante reconhecimento da Academia. xxx Sem pretensões políticas de Marlon Brando ou recalques de George C. Scott, que não foram, em festas anteriores, buscar seu Oscar, Woody Allen, o grande premiado - diretor, roteiro e filme "Noivo Neurótico/Noiva Nervosa" - preferiu passar a noite de segunda-feira em Nova Iorque, tocando clarineta a frente de sua banda, a qual, segundo um jornalista de Londrina, José Flávio Garcia, que o assistiu recentemente, é extraordinária ("Woody é tão bom músico de jazz quanto cineasta e ator", diz Garcia). Jason Robbards Júnior, que bisou o Oscar de melhor ator coadjuvante (no ano passado, já havia sido premiado com "Network"), também não compareceu. xxx "Guerra nas Estrelas" acabou colecionando vários Oscar: criação de vozes originais para os robôs (que, junto com Mickey Mouse, também cinquentenário, compareceram na festa), som, efeitos visuais especiais, cenografia, trilha sonora (John Willians), montagem e vestuário. "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (Clouses Encounters with the third king, de Steven Spielberg), mil anos luzes mais importante que bangue-bangue espacial de George Lucas, acabou ficando com apenas alguns Oscar de consolação: fotografia (Vilmos Zgismont) e montagem sonora, embora seu ator principal - Richard Dreyffus, hoje artista em maior ascensão nos EUA, também tivesse recebido um Oscar - o de melhor ator, mas por seu trabalho em "A Garota do Adeus", derrotando favoritos como Richard Burton (extraordinário em "Equus" de Sidney Lumet) e Marcello Mastroiani ("Um Dia Especial", de Ettore Scola). Também Diane Keaton, em "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", de seu ex-amante Woody Allen (estréia prevista para os próximos dias em Curitiba) surpreendeu ao derrotar atrizes como Jane Fonda ("Julia"), Annie Bancroft e Shirley MacLaine ("Momento Decisivo/The Turning Point"). Mas, enfim, o Oscar, como diria um jogador de futebol, (também) é uma caixinha de surpresas. xxx Se a narração - Hélio Costa, ajudado pelo ator Daniel Filho e mais José Augusto (ambos cometendo enganos no título dos filmes em português), foi razoável, a transmissão deixou os telespectadores brasileiros sem muitas informações básicas. Não houve uma única legenda para identificar os nomes famosos na platéia e mesmo os nomes de muitos premiados e os autores das cinco músicas concorrentes não apareceram no vídeo. Aliás, este ano, a parte musical do Oscar foi das mais fracas: o troféu acabou indo para "You Light Up My Life", do filme "A Luz de Minha Vida" (sem data ainda para lançamento no Brasil), apresentada por Debbie Boone (filha de Pat Boone, ex-ídolo de adolescentes nos anos 50, hoje pregador protestante). Entretanto, foi a desconhecida Glória Lorine que apresentou a música mais bonita - e que merecia o troféu: "Someones Waiting For Me", do desenho "Bernard e Bianca em Missão Secreta" que somente aqui será lançado em 1979, Jane Powell, 49 anos, voz melosa dos musicais da MGM, reapareceu defendendo uma das músicas que concorreram ao Oscar, "The Slipper and The Rose Waltz" e Dionne Warwick cantando "Nobody Does It Better", de "O Espião Que Me Amava", mostrou que até canção-discotheque já concorre ao Oscar. E, quem diria, houve época, em que as músicas que disputavam o troféu eram de Mancine e Legrand!.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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05/04/1978

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