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Aramis

Nos vídeos, até índia equatoriana é estrela

No hall ou na piscina do Imperial Othon, durante os dias 23 de novembro a 2 de dezembro, circulavam centenas de pessoas - entre artistas, realizadores de filmes e vídeos, produtores, exibidores etc. Ao redor da piscina, em mesas ocupadas por nomes conhecidos (ou não) das telas - com destaque, para os caçadores de autógrafos aos artistas popularizados pela televisão (de José Lewgoy, quase sempre mal humorado, a Regina Duarte, em seu tipo mignon, ainda ao estilo namoradinha do Brasil), o FestRio/Fortaleza tinha, naturalmente seu lado de estrelismo - embora, há muito, a época dos escândalos, das starletes despindo-se ao sol ou fofocas mais picantes tenha passado. Neste clima heterogêneo artisticamente, mas até familiar em termos de comunidade cinematográfica, uma índia equatoriana, Ana Maria, com seu filho de um ano, Oacio Ezza, amarrado às costas na melhor tradição andina, circulava bastante - mas pouco falando. Quem se interessou em saber o que ela fazia naquele festival, era informado de que participou do vídeo "Equador Tierradentro: Galápagos, Laboratório Natural", 25 minutos, de Eduardo Khalifé, concorrente na categoria documental. A índia Ana Maria e o seu filho não eram as únicas presenças maternais no evento. Muitas outras crianças corriam entre belas artistas, realizadores dos longas em competição e produtores e distribuidores - que entre as negociações no Mercado (instalado no Hotel Esplanada) vinham relaxar no burburinho do Imperial Othon. O australiano David Bradbury, que com "State of Shock" recebeu o Tucano de Prata como melhor programa jornalístico, na noite de encerramento subiu ao palco do Cine São Luiz levando no colo o seu filho de 4 meses. Ninguém explicou onde estaria a mãe da criança: se no hotel ou se havia ficado na distante Camberra, onde mora o realizador deste documentário de 20 minutos que a partir de um crime passional - em dezembro de 1979, Alwyn Peter matou a namorada Deidre Gilbert - fez uma admirável obra de fundo investigativo e sociológico, mostrando como a quebra da cultura e a destruição das tradições deixou os aborígenes australianos perdidos e sem poder, redirecionando sua violência contra eles próprios. O júri atribuiu o Tucano de Ouro, a "La Chambre", mais uma demonstração da qualidade dos franceses em termos de vídeo/TV. Em apenas 9 minutos, J. Bouvier e R. Obadia, realizaram um primor de programa, no qual uma mulher, ao dançar, tem os seus movimetos reproduzidos por 12 bailarinas como numa seqüência de ecos. Outra produção francesa, "Le Cirque Conference", de Marc Caro, recebeu o Tucano de Prata como melhor programa espetáculo. Utilizando recursos da computação gráfica, vários números são apresentados num circo. Na categoria de ficção, o Tucano de Prata foi para Cuba, com "Os Inocentes", de José Luiz Lhanez, que em 57 minutos desenvolve um tema interessante: dois jovens atores acabam ficando trancados dentro de uma velha loja, durante a realização de um filme. A fim de passar o tempo, começam a reviver os velhos jogos da infância e acabam tornando-se crianças novamente. Como prêmio especial do júri, "As Crianças de Lhanguene", na categoria jornalística, teve seus méritos humanitários também reconhecidos pelo Centro Internacional du Film (Cinéma, TV et Vídeo) por L'Enfance et Jeunesse. Entre todos os trabalhos apresentados nas diversas mostras do VI FestRio, os jurados do Cifej - Yvette Blard, Nuhette Parent e Maria Regina Fernandes - destacaram a importância deste vídeo de 24 minutos, realização de Rodrigo Gonçalves e produção de Harron Patel (que integrou o júri de vídeo), que se constitui num apelo dramático em socorro das crianças de Moçambique, cuja mortalidade infantil é assustadora. LEGENDA FOTO - Ana Maria e seu filho, de um ano, personagem de um vídeo equatoriano: da tela pequena aos corredores do Imperial Othon, durante o FestRio/Fortaleza. (foto Betine Orenbuch)
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/12/1989

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