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Aramis

Nossa Dama premiada no VI Festival de Bogotá

Apesar das notícias na imprensa brasileira, as premiações que "A Dama do Cine Shangai", de Guilherme de Almeida Prado, obteve há duas semanas no VI Festival de Cine de Bogotá - melhor filme, música (Hermelino Nader), fotografia (José Roberto Eliezer) e direção de arte (Chico Andrade) não passaram à dimensão desta mostra competitiva. Simplesmente porque ao contrário dos outros festivais internacionais mais famosos, o de Bogotá ainda não ganhou cobertura por parte da imprensa brasileira, que simplesmente não deu uma visão geral do Festival, realizado de 12 a 20 de julho e que reuniu mais de 200 filmes de longa e curta metragem, vindos de vários países do mundo, em suas diversas mostras paralelas. A vitória do filme de Guilherme Prado - que já havia sido premiado em Gramado, no ano passado, e vendido para vídeo, alcançou o melhor preço entre os produtos nacionais (US$ 20 mil), adquire maior importância quando se verifica o nível dos outros concorrentes entre os longa-metragens. xxx Portanto, mesmo com atraso - mas considerando que nem os grandes jornais do Eixo Rio-São Paulo se preocuparam em detalhar o Festival da Colômbia (que, se espera, a partir do próximo ano, ganhe maior atenção da imprensa), vamos a alguns detalhes que não deixam de interessar aos cinéfilos. O chamado "ciclo franco-americano em competição" foi dos mais diversificados, com filmes vindos de vários países, muitos deles inéditos comercialmente no Brasil. "A Dívida Interna", 1988, 1987, de Miguel Pereira, já levado a festivais europeus e mostrado hors concours no V FestRio - e que aborda um importante momento político da Argentina - foi o primeiro concorrente. "Negócio de Mulheres" (Une Affaire de Femmes"), 1988, de Claude Chabrol, representou a França; "Tiempo de Destino", 1989, de Gregory Nava - com sua ação ambientada em 1943, o último filme estrelado por William Hurt, representou os Estados Unidos. O importante, entretanto, neste festival, foi uma presença vigorosa do cinema latino-americano - o que nos faz lamentar, mais uma vez, que a Mostra do Cinema Latino-Americano, ocorrida há dois anos em Curitiba (3 a 10 de outubro de 1987) não tenha tido continuidade, pois mesmo com a crise que alcança o cinema no Continente, há uma produção expressiva. Prova disto que disputaram os prêmios no Festival de Bogotá, filmes do Chile ("História de Lagartos", de Juan Carlos Bustamante); Cuba ("Técnicas de Duelo", de Sérgio Cabrera; "En El Air", de Pastor Vega). A Venezuela participou com "Aventureira", de Pablo de la Barra, enquanto que o Equador - com uma cinematografia até hoje ignorada no Brasil - apresentou "Tiag", de Gustavo e Igor Guayasamin. A Argentina além de "A Dívida Interna" enviou um documentário de longa-metragem, "Tango, Baile Nuestro", de Jorge Zanada, um grande panorama da dança que identifica a cultura portenha. Uma surpresa veio da Jamaica: A recentíssima (1889) produção "The Night Quinn" (Caribe Cleinte Tormenta), de Carl Schenkel. O tango argentino também é tema de outra longa-metragem, "Abierto de 18 a 24", produção de 1987, direção de Victor Dinenzon e que tem sua ação centrada numa academia no bairro de Almagro, onde um casal de bailarinos ensina o tango. xxx Entre os filmes mostrados hors concours, estiveram "La Lumiere du Lac", França, 1988, direção da italiana Francesca Comencini (com o veterano Jean-Louis Barrault) e "Trois Placas Pour le 26", o filme francês que valeu a Jacques Demy o Tucano de Prata - 1988, como melhor diretor no V FestRio. Estrelado pelo maior nome da música e cinema franceses - Yves Montand, totalmente cantado (como "Os Guarda-Chuvas do Amor"), "Duas Garotas Românticas" e "Une Chambre en Ville", todos de Demy), permanece, até agora, inédito no Brasil. xxx Na seção de homenagens, Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) foi lembrado com "Guerra Conjugal" (1974). Uma mostra retrospectiva do cinema colombiana também aconteceu: "Milagro em Roma", de Lisandro Duque (1988); "Mujer de Fuego", de Mário Mitrotti (1988); "Condores no Entierran Todos los Dias", de Francisco Norden (1984); "La Mansion de Araucária", de Carlos Mayolo (que representou a Colômbia no FestRio-86); "Tiempo de Morir", de Jorge Ali Triana (1985, vencedor do FestRio / exibido na Mostra do Cinema Latino-Americano em Curitiba) e "Pisingana", 1984, de Leopoldo Pinzon. Como se vê, alguns exemplos representativos de um cinema até agora praticamente desconhecido - mas que com o Festival de Bogotá, a exemplo do FestRio, procura abrir as portas para a cinematografia dos países do terceiro mundo. xxx Dois filmes peruanos, recentíssimos, também foram levados a Bogotá: "Chabuca Granda", 1989, de Martha Luna e "Juliana", 1988, realização coletiva do grupo Chaski. Uma retrospectiva curiosa foi dos filmes de Isabel Sarli, sex symbol do cinema argentino que nos anos 50/60, casada com o cineasta Armando Bo e que tendo em seus monumentais seios a sua maior atração, fez dezenas de filmes - um deles inclusive com seqüências rodadas no lado argentino das Quedas do Iguaçu. Mostras relacionadas ao cinema francês - pelos 200 anos de Revolução; retrospectiva do Icaiac (Cuba); retrospectiva da obra do cineasta colombiano Jorge Ruiz Ardila; documentários colombianos; um festival competitivo de vídeo (no qual Eduardo "Cabra Marcado para Morrer" Coutinho representou o Brasil com seu documentário sobre a favela de Santa Maria, RJ), além de vários outros ciclos especiais, deram ao VI Festival de Cine de Bogotá uma dimensão bem maior do que se poderia esperar. Numa época de crise nos festivais, não deixa de ser estimulante que aconteça no hemisfério - ao lado do festival de Cartagena e do FestRio (que este ano, será em Fortaleza) uma vigorosa promoção na Colômbia. LEGENDA FOTO - "A Dama do Cine Shangai", de Guilherme de Almeida Prado, teve premiações em Bogotá: um festival importante do qual pouco se falou.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/08/1989

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