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Aramis

E o "Autor" volta com o "Furacão" de Sartre

Rubem Braga, o admirável cronista que na semana passada esteve em Curitiba participando do projeto Encontro Marcado, patrocinado pela IBM Brasil e organizado pelo jornalista Araken Távora, fala sempre, com carinho, de suas experiências de editor - que iniciou no virar dos anos 60, ao lado de seu amigo Fernando Sabino, com uma editora que se chamava "Do Autor", por pretender restringir-se apenas a um pequeno grupo de escritores, cansados de serem roubados por editores desonestos. Só que a experiência foi tão bem sucedida, a Editora do Autor cresceu tanto que de repente era uma empresa forte. Como Sabino e Braga sempre foram intelectuais e boêmios, e não homens de negócios, venderam o título e o acervo - excelente nesta época, e que já havia lançado além de muitos autores brasileiros, também escritores estrangeiros inéditos até então, como J.D. Sallinger ("O Apanhador no Campo de Centeio") e Lampedusa ("O Leopardo"). Braga e Sabino voltariam à área editorial, tempos depois, através da Sabiá - que também cresceu e acabou absorvida pela José Olympio. Já o ótimo título da Editora do Autor permaneceu desativado por anos e agora, a boa notícia: administrada por um novo grupo, a Editora do Autor ressurge com a reedição de um dos livros mais vendidos entre 61/62 - "Furacão Sobre Cuba", que Jean-Paul Sartre escreveu após ter visitado a ilha de Fidel - e que foi, por coincidência, lançado no Brasil, quando da passagem do autor de "Entre Quatro Paredes" pelo nosso País. 25 anos depois, a leitura de "Furacão Sobre Cuba" continua atual, mostrando o impacto que a experiência socialista teve nos olhos do intelectual e ativista francês, falecido há poucas semanas. xxx A Editora do Autor já está fazendo outros importantes lançamentos, a maioria com títulos pertencentes ao acervo original: além de "O Apanhador no Campo de Centeio", mais dois livros de Sallinger: "Nove Estórias" (contos, tradução de Jório Dauster e Álvaro Alencar) e "Franny e Zooney" (novela, tradução de Álvaro Cabral); "Itinerário de Pasárgada", autobiografia de Manuel Bandeira e "A Legião Estrangeira", de Clarice Lispector. xxx No mínimo curiosa a idéia de David R. Slavitt: uma ficção-ensaio a propósito da mais conhecida personagem criada por Lewis Carrol, aliás o reverendo Charles Lutwidge Dodgson (Daresbury, 1832 - Guildford, 1898). Publicado há 120 anos, "As Aventuras de Alice no País das Maravilhas" mais do que encantar as crianças, é uma obra riquíssima de interpretações e símbolos, pois, afinal, seu autor reverendo e matemático, foi o inventor de álgebra. Inspirando-se numa ninfeta que o encantava nas margens do Tâmisa, Alice Liddell, Dodson, que tinha o hábito de fotografar suas amiguinhas (e a inocência desse passatempo foi questionada pelos seus biógrafos), desenvolveu o mais famoso de seus livros. E a revisão deste voyeurismo de Carroll em seus aspectos eróticos - bem como com a menina que inspirou Alice - é o tema que Slavitt desenvolveu em "Alice aos 80" (252 páginas, tradução de Aulyde Soares Rodrigues, 282 páginas, Rocco). ILUSTRAÇÃO - Jean-Paul Sartre (ass. Mariza)
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
8
18/05/1986

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