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Aramis

O baterista Alberti e o sonho com a América

O músico Celso Alberti, 26 anos, teve um calafrio ao saber que há uma fila de espera de 350 pessoas, somente numa das empresas aéreas, para conseguir uma vaga aos Estados Unidos. Afinal, Alberti, com domicílio em San Francisco, tem muitos compromissos profissionais a serem cumpridos com o conjunto de outro brasileiro, o percussionista Airto Moreira - e nestas alturas já deveria estar nos Estados Unidos. Após uma temporada de 21 concertos em 23 dias na Alemanha, Suíça, Áustria, Itália, França e Inglaterra, Celso Alberti veio a Curitiba para rever seus pais e aproveitou para enfrentar uma batalha burocrática na busca da documentação que lhe permite obter, em breve, o green card para sua permanência profissional nos Estados Unidos. Devido a isto, teve que pedir um tempo a Airto e Flora, artistas com quem vem trabalhando há 9 meses - e os acompanhará na excursão por várias capitais do Brasil, a partir de 26 de agosto, quando estarão no auditório Bento Munhoz da Rocha Netto. xxx O curitibano Celso Alberti, vivendo de música há 6 anos, ex-estudante de engenharia cartográfica, está nos Estados Unidos desde fins de 1982. "Fui com uma mão atrás e outra também" diz, sorridente, e não se arrepende. Trabalhou duramente em Nova Iorque e San Francisco, tocando em bares, shows, fazendo todo tipo de serviço musical que lhe aparecia, mas no ano passado, convocado por um amigo, o pianista Marcos Silva - que desenvolveu vários e importantes projetos com Airto e Flora, desde a "Missa Espiritual", que teve sua estréia mundial em Colônia, nas vésperas do Natal de 1983, Celso Alberti se integrou ao grupo do percussionista brasileiro. Assim, ao lado do baixista Gary Brown, guitarrista Ricardo Peixoto e saxofonista Mary Fettig - percorreu dezenas de cidades americanas, trabalhando com Airto e Flora e, em maio último, foi pela primeira vez à Europa, no apertado roteiro que o casal de artistas ali cumpriu em 21 cidades. Celso Alberti, ex-integrande do grupo de baile de João Ricardo e que, entre 1980/81, ao lado do saxofonista Hélio Brandão, baixista Gerson Korman, tecladista Roberto Burguel e guitarrista Carlos Oliva integrou o Improviso - um criativo grupo instrumental - decidiu enfrentar a América. Com poucos dólares, mínimo conhecimento de inglês, foi para Nova Iorque e, depois de algum tempo, já estava trabalhando no "S.O.B." (Sounds of Brasil), uma das cinco casas noturnas que tem sua programação na base da MPB. O fato de conseguir sobreviver nos EUA, animou pelo menos dois outros músicos da terra a também emigrarem. Seu companheiro do Improviso, Oliva - o "Polaco", como é conhecido - reiniu economias e foi para Los Angeles, onde está terminando agora o curso no Guitar Institut, ao mesmo tempo que toca no grupo Brazilian Wings. Já o advogado Celso Locker - o "Pirata", que sempre foi deslumbrado com os Estados Unidos, foi mais prudente: para não perder seu alto salário de advogado da Prefeitura (que lhe garante tranquilidade financeira), usou todas as férias e licenças a que tinha direito para, em 1983, fazer uma primeira permanência em Nova Iorque, ali estabelecendo bons contatos. No ano passado, voltou para nova temporada - mas agora, ao menos enquanto o prefeito Roberto Requião estiver rigoroso na questão do afastamento de funcionários por mais de 30 dias, Celso vai ter que ficar por Curitiba. A vontade de viver, permanentemente nos EUA é grande - mas isto significaria ter que renunciar a um emprego que hoje significa muitos mil cruzados, a cada final de mês, em sua gordíssima conta no Banco Nacional. xxx Celso Alberti, casado com uma americana de San Francisco, Liza - especialista em engenharia de sons e computação - não tem planos de voltar ao Brasil. A chance de trabalhar com Airto e Flora Purim foi significativa, pois além de se associar a dois nomes hoje com prestígio internacional também lhe abriu as portas para muitas viagens - inclusive à Europa, que não conhecia. Celso participa do novo álbum de Airto e Flora - "Birds of Paradise", que sai agora pela Concord, mesma gravadora que lançou, há 6 meses, "Humble People" - este um disco que está sendo negociado para ter uma edição no Brasil, em agosto/setembro, quando da vinda dos artistas. xxx Como Carlos Oliva e Celso Alberti, há centenas de outros músicos brasileiros que vivem nos Estados Unidos. Muitos conseguiram, pouco a pouco, abrir espaço - já que desde novembro de 1962, após o histórico concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall (teatro em Nova Iorque) a música brasileira passou a ser respeitada em muitos círculos. Mas a disputa ainda é grande e chegar às gravações e a ser destaque nos jazz pool da "Down Beat" - como Airto Moreira consegue, há 11 anos - não é fácil. Entretanto, garra e entusiasmo não faltam a Celso Alberti, mais um curitibano que descrente das possibilidades profissionais de fazer música no Brasil decidiu seguir o conselho de Maurício Einhorn, que há 15 anos, ao lhe perguntarem sobre qual era a saída para os músicos brasileiros, respondeu com seu bom humor: - "O portão internacional do Galeão". (Só que Maurício Einhorn, apesar de algumas discretas incursões em Nova Iorque e arredores, continua morando no Rio de Janeiro). LEGENDA FOTO 1 - Airto e Flora: dia 26 de agosto no Guaíra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
27/06/1986

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