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Aramis

O bom exemplo do rádio na valorização do jornalismo

Mais uma prova de como o rádio bem administrado em termos jornalísticos pode senão vencer, ao menos empatar, na batalha das comunicações: os US$ 7 mil que a Rádio Clube Paranaense investiu para a cobertura do caso Bruna, enviando o repórter Olavo de Souza a Israel, reflete-se no conceito que a mais antiga emissora do Paraná - e a terceira do Brasil - se mantém com energia e vigor. Ao contrário de milhares de outras, entre AMs e FMs, que contribuem para uma programação imbecilizante e pasteurizada, servindo apenas à ganância de seus concessionários - ou, quando, no máximo, a interesses políticos. A entrevista-perfil com o repórter Olavo de Souza, que ocupou oito das vinte e oito páginas do "Almanaque", na edição de domingo de O Estado do Paraná, vale como um documento jornalístico não só sobre o trabalho profissional de Olavo - que não conhecemos pessoalmente, mas que merece nosso respeito e admiração - colocando luzes em pontos até hoje pouco claros de uma fato que mais do que o emocional, exige a reflexão sobre problemas que vão além do seqüestro de uma criança e da batalha judicial para seus pais conseguirem trazê-la de volta a Curitiba. xxx A feliz idéia que o editor do "Almanaque", jornalista Dante Mendonça, teve em entrevistar o único profissional da imprensa brasileira que, durante 43 dias, acompanhou a via-crucis de Rosilda Vasconcelos, e de seu marido, o eletricista Luís Américo, em Israel, possibilitou que os leitores de O Estado tivessem uma visão de bastidores dos fatos, sabendo mais sobre o casal que havia adotado a menina Bruna, Jacob e Simba Tourdjammne e, principalmente, a falta de apoio que o Brasil - através de sua Embaixada, deu aos acontecimentos. Sem meias palavras, Olavo de Souza colocou o pingo nos "is", criticando inclusive a falta de apoiamento estratégico junto aos aeroportos de Londres e mesmo São Paulo, quando do retorno da família Vasconcelos - o que, afinal, não seria difícil. Em compensação, o carnaval que foi armado para tirar dividendos políticos da "vitória brasileira" - como foi transformado o final feliz desta novela - em sua chegada a Curitiba, mereceu do radialista a classificação exata: "uma palhaçada!" Entrevistado pelos jornalistas Dante, Claudio Della Benetta, Gilcemara Cornelsen e Mai Mendonça - que editou o material e sintetizou o espirito da matéria, num perfeito texto de apresentação (o que aliás a caracteriza, como nossa melhor profissional na exaustiva arte de transcrever entrevistas gravadas para a linguagem jornalística), Olavo de Souza, 37 anos, catarinense de Corupá, passagens por várias emissoras de diferentes estados e que hoje é repórter policial da PRB-2, falou de forma clara, objetiva - e sobretudo - sincera. Resultado: generosamente ofereceu um depoimento importante, assim como, em Israel, mesmo praticamente sem falar inglês e sem vivências de coberturas internacionais, foi durante semanas, o elemento de ligação com experimentados jornalistas de várias partes do mundo. xxx Há algumas semanas, na condição de novo presidente da Associação das Emissoras de Radiodifusão do Estado do Paraná, que congrega 272 estações de rádio e 17 geradores de televisão, o veterano João Lydio Seilles Bettega, 53 anos, 38 de radiofonia, em longa entrevista também à Mai Nascimento Mendonça, fez preciosas colocações sobre as potencialidades do rádio. Com a experiência de quem dedicou toda uma vida a fazer rádio no Paraná - e hoje dirige três emissoras (Caiobá FM, Ouro Verde FM e Difusora AM 590), que tem público específicos por uma série de razões que não cabem num curto registro de jornal. Quando uma emissora como a PRB-2 investe numa cobertura como a do caso Bruna, enviando a Israel um profissional (até então desconhecido) e se integra nos acontecimentos (assim como a televisão inglesa foi quem deu as condições materiais para Rosilda Vasconcelos recuperar a posse de sua filha), abrem-se novos leques para interpretações e debates sobre a função dos veículos de comunicação. Abrindo suas páginas ao mostrar um pouco sobre o repórter Olavo, suas opiniões e seu trabalho no exterior. O Estado também deu sua contribuição. E se espera que, no final do ano, quando há tantas (e discutíveis) relações de "melhores" e "destaques" o trabalho da Rádio Clube e, particularmente, de seu profissional, tenham o devido reconhecimento.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
12/07/1988

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