Como os discos tem destino diferente dos livros que não vendem, é muito difícil encontrar um lançamento que tenha recebido o rótulo "fora de catálogo". Melhor explicando: passando algum prazo após a edição do lp, a gravadora "checa" os revendedores sobre quais os discos estão encalhados. Estes, se devolvidos e caso a fábrica decide pela sua supressão de catálogo, tem inglório destino: são derretidos para a matéria prima, como na lei de Lavoisier, ser aproveitada em outras prensagens. E as capas são incineradas. Resultado: se alguém comprar um lp "fora de catálogo" tem que recorrer as lojas de sêbo. E rezar para que alguém tenha comercializado seu disco neste tipo de estabelecimento. Essa explicação torna-se necessário para justificar os leitores menos enfronhados com a mecânica fonográfica a importância de certas reedições. Ao lado de produções bem orientadas, como as séries "Grandes Interpretes" da RCA Victor ou "Documento", que J.L. Ferreti dirige na Continental, há também produções menos pretensiosas culturalmente mas igualmente importantes. É o caso da série "Flahsback" que a Odeon criou há alguns meses para reeditar sucessos de 3, 5 ou 10 anos passados, com artistas ainda em evidência, mas cujas primeiras gravações - já foram "retirados-de-catalogo". E assim, um novo lançamento da coleção "Flashback/Nacional" (Odeon/Serie Coronado, 10031, Janeiro/75), adquire especial significado por algumas das faixa. Vamos explicar porque: O lado um abre com Marcos Valle interpretando uma de suas melhores músicas; "Viola Enluarada", numa gravação que teve a histórica participação de Milton Nascimento, Beth Carvalho hoje a melhor sambista do Brasil, com dois extraordinários elepes na Tapecar ("Canto Para Um Novo Dia", 73; "Pra Seu Governo", 74), começou na Odeon, mas irritada pelo fato da direção artística daquela gravadora prestigiar Clara Nunes como sambista, ela acabou passando para a pequena (e ativa) Tapecar, onde triunfou. E na Odeon gravou "Andança", de Danilo Caymmi / Edmundo Souto / Paulinho Tapajós, que defendeu no FIC-72, e que em "Flashback", ouvimos na faixa dois, Eliana Pittman, hoje na RCA Victor, em nova fase, teve em "Das 200 Pra Lá", um de seus primeiros sucessos nacionais, lançando o extraordinário João Nogueira. Claudia, em início de carreira: "Como Dois e Dois" de Caetano [Velloso]. João Só também é reeditado com "Menina da Ladeira", seu [único] sucesso. E o lado um é encerrado com "Me Deixa em Paz" (Monsueto Menezes / Ayrton Amorim), na gravação marcante de Alaide Costa e Milton Nascimento. O lado 2 do disco abre com uma obra-prima: "Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida" de e com Paulinho da Viola. Em seguida, Clara Nunes, no alegre "Ê Baiana" (Fabrício da Silva / Baianinho / Enio Santos Ribeiro /7 Miguel Pancrácio), um de seus primeiros sucessos. Paulo Diniz também com o seu primeiro êxito: "Quero Voltar P'ra Bahia", Doris Monteiro, apropriadamente no expressivo "Alô Fevereiro" de Sidney Miller. Com Taiguara, a excelente "Helena, Helena, Helena", que Albert Land lançou em 1967 - um ano de boas lembranças e muito amor. Encerrando, este disco-documento, Sílvio Cesar com "A Minha Prece de Amor".

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Nenhum

Coluna ou Seção: Jornal do Espetáculo

Página: 10

Data: 18/02/1975

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