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Aramis

O bom jazz que a Bradisc apresenta

Na expansão do mercado jazzístico registrada nos últimos anos - e estimulada por eventos como o Free Jazz Festival, promovido pelas irmãs Monique e Silvinha; filmes como "Em torno na meia-noite" (agora a dosposição em vídeo) e o aguardado "Bird" (1987, de Clint Eastwood, cinebiografia de Charlie Parker) é natural que novas etiquetas se voltem ao rico universo do jazz e do blues. Assim, enquanto a WEA lançava os pacotes históricos de blues e (ainda agora está colocando nas lojas uma nova série, "The Legacy of The Blues"), a etiqueta Black & Blue, associada ao Estúdio Eldorado, traz álbuns como "Southside lady", "Love me papa", "Highway is my hope" e "Mississipi Blues Festival", uma pequena marca paulista vem se firmando com um catálogo dos mais expressivos: a Brasdisc. Estabelecendo contratos com etiquetas independentes americanas a Brasdisc tem feito preciosas edições - inicialmente na área do rock, mas passando pelo blues e chegando, a partir do ano passado no Jazz - com históricas edições. Em produções econômicas - capas de duas cores, mas boas prensagens, com textos de contra-capas entregues a estudiosos como Ayrton Magnanin Jr. e Fabian Décio Chacur (infelizmente, sem referências as datas de gravações), os suplementos da Bradisc merecem atenção. De seus mais recentes lançamentos, eis alguns discos que merecem ser adquiridos. São discos da série Golden Jazz, e editados nos EUA pela Charly Records. Max Roach Again - Volume I - Considerado um dos grandes executantes de bateria, Roach trabalhou com músicos como Miles Davis, Thelonious Monk, Bud Powell, Lee Konitz, Sonny Rollins e Charlie Parker, entre outros. Inovador (numa época chegou a dispensar o pianista em sua banda), compositor de peças para bateria, Roach é uma própria escola de jazz e numa gravação ao vivo (infelizmente sem a referência a data) ele apresenta cinco temas notáveis - dois de sua autoria ("This Night Mountain" e "Ceciliana") e três outros de mestres "Mop Mop" (Kenny Clark), "Jordu" (Jordan) e "Sophisticated Lady" (Ellington). Art Blakey/ Buddy de Franco ("Blues Bag") - Outro mestre das baquetas, Art Blakey (Pittsburg, Pennsylvania, 1919) às vésperas de completar 70 vem vividos anos continua em plena forma como mostrou em várias excursões que fez pelo Brasil - uma delas estendida a Curitiba. Na ocasião, nos dizia durante um jantar na confeitaria Iguaçu que já tinha perdido o número de gravações feitas ("devem ser mais de 500, pois afora as oficiais, há as piratas, impossíveis de serem controladas"). Neste "Blues Bag" temos um encontro do líder dos Jazz Messangers (pelo qual já revelou tantos talentos) com o notável clarinetista Buddy de Franco, mais Lee Morgan e Freddy Hill nos pistões, Curtis Fuller no trombone, Victor Felman no piano e Victor Stroles no baixo, desenvolvendo seis temas especialíssimos: "Blues Bag", do próprio Buddy; "Rain Dance", do pianista Feldman; o conhecido "Straight no Chaser", de Thelonious Monk; "Blue Connotation", de Ornette Coleman; "Kush", de Gillespie e "Twelve Tone Blues", de Leonard Feather - que além de ser o grande enciclopedista do jazz tem também suas composições. Miles Davis (Alton, Illinois, 1926) está tendo, pouco a pouco, o básico de sua obra editada no Brasil. Numa série de álbuns simples e duplos e mais na excelente coleção de 10 fitas em cromo, a CBS já colocou ao alcance do público brasileiro o fundamental que Davis registrou nos 30 anos em que foi exclusivo da Columbia americana. Registros esparsos fora do esquema da CBS aparecem vez por outra, como é o caso deste "A Night in Tunisia", gravado não se sabe onde - e nem com quem - mas com toda a sua genialidade em temas conhecidíssimos e que sempre ganham uma nova releitura em seus lábios mágicos ao soprar o pistão - como "Ornightology", "Cool Blues", "Mr. Lucky" ou "Yardbird Suite", homenagem a Charlie Parker - com quem foi trabalhar aos 19 anos e, por certo, lhe marcou profundamente sua vida. Billie Holiday (1915-1959) também está tendo sua obra editada no Brasil. São centenas de gravações que Lady Day gravou em diversas marcas ao longo de sua sofrida vida e que há 30 anos, desde sua trágica morte, vítima de drogas, têm sido reeditadas das mais diferentes formas. Nesta "Storeville", uma seleção de 12 clássicos que Billie imortalizou, com seu estilo que a fez, com toda razão, a maior vocalista de jazz de todos os tempos. Faixas como "My Man", "All of Me", "Porgy", "Blues are Bluer", "Miss Brown to You", "They Can't Take That Away From Me" ou a faixa que dá título ao LP fazem com que se recomende este álbum - independente das mesmas canções estarem ou não em outros discos de Lady Day já editados entre nós. De Billie, seus apaixonados (e são milhões em todo mundo) não deixam por menos: tudo que tem a sua marca tem que ser preservado. Herbie Hancock (Chicago, 1940) é hoje um dos mais admirados tecladistas, compositores e líderes jazzísticos. Há 29 anos passados estreava ao lado de Coleman Hawkins, trabalhando depois com Phil Woods, Eric Dolphy e Oliver Nelson. A partir de 1963, com Miles Davis, aprendeu muito - e nos anos 70 se destacou por suas inovações aos teclados. Neste "Hot Heavy" temos um punhado de temas que marcaram sua produção dos anos 70 quando após ter musicado "Blow Up", de Antonioni, voltou-se (a partir do LP "Head Hunters") à fusão do jazz com rock e funk - chocando os tradicionalistas mas aproximando-os de uma platéia mais jovem e que vem cultuando-o como um dos seus instrumentistas/ autores prediletos. Ao lado dos volmes da série Golden Jazz, a Brasdisc tem também nutrido as prateleiras de blues, um gênero que começa a ampliar seu público - seja com as edições da Atlantic, via WEA, seja através de produções independentes como as que esta etiqueta tem feito chegar ao Brasil. É o caso da obra de John Lee Hooker, cantor e guitarrista, nascido no Mississipi em 1917, e cuja vida se confunde com a própria evolução do R&B nestes últimos 60 anos no qual ele tem sido uma das presenças mais vigorosas. Em 1943, em Detroit, Hooker já criava uma pequena banda e a partir de 1955 se instalaria em Chicago para, cinco anos depois, ter uma consagração ao participar do Festival de Newport, passaporte para uma primeira excursão na Europa. Um grande espaço seria necessário para falar da arte de John Lee, forte inspiradora de toda uma geração de intérpretes e compositores - inclusive nomes de destaque do rock contemporâneo. Nesta gravação, da série Rarity, com registros de Charly R&B - também representada no Brasil pela Brasdisc - temos nada menos que 16 pequenos registros em tempos, mas imensos pela dimensão que oferecem da arte do grande John Lee Hooker, com sua voz pesada, estilo todo seu, falando de amores, paixões e histórias do Old South que tem em sua música a mesma dimensão que Faulkner colocou em seus textos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
18
05/02/1989

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