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Aramis

O boom das biografias (sérias ou de fofocas)

Vista com restrições por editores durante muito tempo, a biografia é hoje um gênero em escalada no Brasil. Cada vez aumenta mais o interesse dos leitores em conhecer a vida e obra de pessoas que nos mais diferentes setores se destacaram - como "self made men" ou dentro de circunstâncias especiais, alcançaram notoriedade. Da biografia política - como "Gorbachev", de Zhores Medvelev, depoimentos aparentemente escandalosos como o de Anais Nin revelando um "menage a trois" entre ela, o escritor Henry Miller e sua mulher June "Henry, June e Eu" (Record, 177 páginas) - sem falar na relação extensa de biografias-depoimentos de executivos de sucesso, as opções são cada vez maiores. Especialmente as figuras do mundo do "star system" - atrizes, atores, produtores, no cinema, teatro e música, começam a merecer cada vez maior número de edições em português - já que em inglês ou francês, o catálogo é imenso, com dezenas de títulos a cada mês. A Francisco Alves, em sua coleção "Presença", tem trazido biografias de atrizes como Katherine Hepburn, Lana Turner, Candice Berger, Bette Davis e tantas outras. A L&PM, de Porto Alegre, saciou a curiosidade dos milhares de admiradores de Orson Welles com um profundo ensaio biográfico que Barbara Leaming dedicou ao realizador de "Cidadão Kane", enquanto que a demolidora biografia "não autorizada" de Frank Sinatra, realizada com rancor (e não admiração) pela jornalista Kitty - Kelley ("Sinatra - His Way"), esteve durante meses entre os livros mais vendidos pela Record. Na música popular, a Funarte, através das edições das monografias agremiadas no Projeto Lúcio Rangel já enriqueceu a bibliografia com mais de 20 títulos marcantes. Obviamente, que um registro de livros biográficos não se esgota nas limitações de um registro dominical, mas apenas para mostrar como o campo está florido de opções, eis alguns títulos nas livrarias. "Eu, Sarah Bernhardt" - autobiografia (José Olympio, 404 páginas, preço de lançamento Cr$ 5.350). nascida em Paris, Rosine Bernhardt (Sarah Bernhardt foi o seu nome artístico), em 1884 - e falecida em 1923 - foi uma mulher temperamental, com uma vida repleta de amores e triunfos teatrais. Amiga íntima e intérprete de Victor Hugo, durante meio século foi a maior atriz de seu tempo. Embora nesta autobiografia omita sua passagem pelo Brasil - quando sofreu o acidente no Teatro Municipal, que em 1915, a obrigou a amputar uma perna - este livro é importante para quem se interessa pela vida das chamadas Divinas Damas da arte cênica. "Onassis" - A vida de um dos homens mais ricos do mundo e que, entre outras mulheres, teve a diva Maria Callas (também merecedora de uma completa biografia, recentemente lançada no Brasil) e Jacqueline Kennedy Onassis é um personagem fascinante. Peter Evans dedicou-se durante 19 anos para escrever uma biografia do magnata e armador grego. Para tanto entrevistou todo o círculo de amigos íntimos ou de antigas amantes, como Ingeborg Dedichen (primeira de suas paixões), buscou documentos, cartas e publicações e faz até mesmo um apanhado do contexto político social da Grécia. "Rita, a Deusa do Amor" - A morte da atriz Rita Hayworth (Marguerite Carmen Cansino), em 15 de maio de 1987, aos 59 anos, esclerosada, envelhecida - uma pálida imagem da morena sensual que encantava multidões de espectadores nos anos 40/50, marcou o fim de mais uma sex symbol. Assim, uma biografia de Rita é sempre uma leitura fascinante e a Nórdica editou há algumas semanas o trabalho de Joe Morella e Edward Z. Epstein (que já haviam publicado biografias de outros grandes nomes de Hollywood como Marlon Brando, Judy Garland, Bob Hope, Lana Turner e Glara Bow). Esposa de Orson Welles e do príncipe e playboy Aly Khan, estrela de dezenas de filmes - especialmente na Columbia - tiranizada pelo tycoon Harry Cohn, Rita foi um dos mitos femininos da época risonha do cinema - e sua imagem estará permanentemente associada a de "Gilda" (nunca houve uma mulher como Gilda..., dizia a promoção deste filme que mantém o seu encanto), que interpretou em 1946, ao lado de Glenn Ford - com quem, se tentou repetir o sucesso (mas sem conseguir) dois anos depois em "Os Amores de Carmen". Estrela de comédias e musicais (chegou a cantar em alguns deles), teve momentos dramáticos como em "A Mulher de Satã", 1953, que Curtis Gernhardt adaptou na peça "Chuva", de Somereset Maughan, dividiu com Frank Sinatra e Kim Novak uma belíssima comédia inspirada em canções de Richard Rodgers Lorenz Hart ("Meus dois Carinhos / Pal Jocy", 1957) e, nos anos 50/60, ainda apareceu em filmes importantes como "Heróis de Barro" (59, de Robert Rossen, ao lado de Gary Cooper), "Drama de Página Um" (1960, da peça de Clifford Oddets), em superproduções como "O Mundo do Circo" (64, de Henry Hathaway) e "O Ópio também é uma Flor" (66, de Terence Young). Seus últimos três filmes mostravam a decadência física: "A Trilha de Salina" (71, de Georges Lautner), "The Naked Zoo" (1971, de William Grefe, nunca exibido no Brasil) e o melancólico western "A Ira Divina" (1972, ao lado de Robert Mitchum). "Grace: As Vidas Secretas da Princesa" - Uma tendência na área das biografias são as desmistificações (ou sensacionalismo) em torno de grandes nomes. Albert Goldman fez isto com Elvis Presley e John Lennon. Kitty tentou com Sinatra e até os filhos de Joan Crawford e Bing Crosby ofereceram retratos cruéis sobre seus pais. James Spada, há menos de dois anos, focou suas antenas sobre a atriz-pureza, a imagem do sonho Hollywoodiano: Grace Kelly. Identificada como a dama do cinema americano dos anos 50, tendo vivido o sonho do casamento com o príncipe Rainer, de Mônaco - até sua trágica morte em 14 de setembro de 1982, num acidente automobilístico. Spada entrevistou parentes, colegas dos tempos de Hollywood, examinou documentos e acabou falando de uma Grace Kelly mais humana - com emoções e reações que a tiram da imagem etérea e a colocam como uma mulher que absolutamente não chegou virgem ao casamento com Rainer, e que viveu suas paixões. Uma mulher que evoluiu de socialite da Filadélfia, sobrinha do dramaturgo George Kelly, à atriz de alguns dos melhores filmes dos anos 50: "Matar ou Morrer", "Disque M para Matar", "A Janela Indiscreta", "Ladrão de Casaca" - (estes de Hitchcook) e "Amar é Sofrer" - que lhe valeu um Oscar de melhor atriz em 1954. LEGENDA FOTO 1 - Nunca houve uma mulher como Rita "Gilda" Hayworth, hoje biografada. LEGENDA FOTO 2 - Grace Kelly: biografia demolidora.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
7
25/12/1988

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