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Aramis

O BRDE edita (mas esconde) a música de nossos autores

Em 1986, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul decidiu investir em um brinde cultural e financiou um disco chamado "Revolução", montado com fonogramas de peças eruditas de autores estrangeiros, num exemplo de desperdício de recursos - pois o álbum, além de ter uma precária distribuição não trazia nenhum encarte, explicando os motivos das escolhas dos temas. Lamentável, quando se pensa que há tantos bons projetos musicais que buscam financiamentos e não conseguem. No final do ano passado, a diretoria do BRDE voltou a produzir um disco - também igualmente de uma circulação discutível, pois não se soube do mesmo enviado a veículos de comunicação, emissoras, etc. Felizmente, desta vez o projeto teve pelo menos uma característica brasileira: com o título de "O Sul Erudito", o disco reuniu composições brasileiras de autores gaúchos - Bruno Kiefer (Baden-Baden, RFA, 9/4/1923, mas que veio aos 11 anos para Porto Alegre) e Armando Albuquerque/ Porto Alegre, 26/6/1901), catarinense Edino Krieger (Brusque, 17/3/1928) e paranaenses - Henrique Morozowicz (Curitiba, 1936) e José Penalva (paulista de Campinas, 53 anos, mas radicado em Curitiba desde 1949). Com direção artística de Flávio Oliveira, o projeto executado pelo Conselho de Desenvolvimento Cultural/ RS - integrado por Myrna Bier Appel, Helvia Miotto Jucem e Clarice Aquistapace - poderia ter sido melhor aproveitado: concertos nas capitais do Sul para apresentação do disco e melhor distribuição do mesmo. As gravações das peças foram feitas ao vivo no salão Mourisco da Biblioteca Pública e no auditório da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. As peças selecionadas foram : "Notas Sombrias", com o violinista Marcelo Guerchefeld e três "Canções do Vento" de Bruno Kiefer (com poemas de Ribeiro Couto, Carlos Nejar e Fernando Pessoa), interpretados pelo barítono Eládio Pérez Gonzáles e Berenice Menegalli ao piano; "Crespúsculo no Mar", de Armando Albuquerque, com Dirce Knijnik e Hubertus Hoffmann (piano). De Henrique Morozowicz foi escolhida sua "Sonata 1987", com o autor ao piano e a curitibana Maria Luiza Brandão no violino; do padre José Peñalva, a "Versão Mutilada" (sobre trechos do "Cântico dos Cânticos"), com o barítino Eládio Pérez González, acompanhado por Berenice Menegalli ao piano. Do catarinense Edino Krieger, há mais de 30 anos radicado no Rio e que há 8 dirige o Instituto de Música da Funarte, a sua "Seresta", com o casal Sygmunt e Lina Kubala no violoncelo e piano, respectivamente. Mesmo considerando a falta de melhor promoção na difusão deste produto cultural, deve-se louvar o BRDE por aplicar recursos em projetos culturais. Só que não custaria dar um melhor tratamento promocional, pois mesmo em Curitiba, os próprios autores ali gravados - Henrique e o padre Peñalva - praticamente não tiveram condições de fazer o disco chegar às mãos dos interessados. E imagine-se quantos "clientes" e "amigos" da diretoria do BRDE, insensíveis à música erudita, receberam o disco e acabaram jogando-o no lixo? LEGENDA FOTO - Henrique: gravação sulina.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/07/1988

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