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Aramis

O canto desesperado consciente de Gonzaguinha

Há pouco mais de um ano, quando Luiz Gonzaga Jr. Fez [três shows no Paiol poucos foram aplaudir o seu espetáculo. Na Guanabara, São Paulo e outras cidades foi a mesma coisa. Mas o artista não ficou decepcionado e nem considerou como fracasso o reduzido [número] de espectadores. Cantou suas músicas e algumas de outros compositores, incluindo uma (re)valorização de um clássico sertanejo, "Boneca Cobiçada" (Palmeira/Biá), dialogou com o público, trocou idéias. Luiz Gonzaga Jr. Ao contrário de seu ilustre pai que é capaz de lotar qualquer ginásio ou praça que se apresente (a 29 de março de 1972 levou 6 mil espectadores na concha acústica da Praça Afonso Botelho, quando ali cantou sob auspícios de Rubens Teig, das Lojas Universal), desenvolve um trabalho de menor comunicação, embora profundamente consciente, vigoroso, [incômodo] talvez. Em seu segundo lp (Odeon, SMOFB 3832, agosto/74), o Gonzaginha apresenta um trabalho mais aberto do que o de seu primeiro lp, que só fez em 73, após quase uma dezena de compactos e de ter vencido em vários festivais universitários da canção. Mas esta abertura não implicou em nenhuma concessão, pois continua a ser um letrista e [intérprete] preocupado com a massificação da comunicação, do que é exemplo "Uma família qualquer" ([talvez] a faixa mais dolorida do lp) onde ao final diz: A família Silva É mais uma família a serviço da graça e do humor Da cultura e do descanso Do telespectador. "Pois é, seu Zé", sucesso na interpretação de Cláudia também é uma violenta crítica [à] televisão, com imagens como "Ando tão mal que ando dando nó em pingo d'água"/Só mato a sede quando choro um pouco a minha Mágoa/Mas a platéia ainda aplaude e ainda pede bis/A platéia só deseja ser feliz/. Todas as letras de Gonzaguinha são longas, exigem uma análise pormenorizada, para o que é [válido] a folha que acompanha o lp, com o texto de cada uma, pois ele está na categoria de compositores de [substância], que não busca o sucesso fácil, não faz o comercial concessão ao público. E isto torna o seu trabalho de maior [importância]. É impressionante sentir a [consciência] crítica, a formação literária de cada verso de Gonzaguinha, que em todo o disco só gravou uma música de seu pai, por [coincidência] aquela que nós achamos a obra-prima do velho artista, e que há 3 anos, Maria [Bethania], relançou, na mais sentida interpretação: Assum Preto (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira), e onde Gilson no piano elétrico e Ricardo na flauta, completam o ambiente trágico da sina do Assum Preto, de olhos furados para canta "de dô", e que é tão triste quanto o cantor porque "também roupa o meu amô, ai/quera a luz, ai dos óio meu." Depois de "É preciso", "Piada infeliz", "Meu Coração é um pandeiro", "Uma família qualquer", "Pois é seu Zé", "Rabiscos n'areia", "Amanhã ou depois" e "Galope", todas músicas inéditas, Gonzaguinha encerra este magnífico e importante lp com uma música apropriadamente chamada de "desesperadamente": " Desesperadamente alegres no derradeiro sorriso Boa contorcida no esforço vão pelo sorriso aberto Desesperadamente calmos no derradeiro gesto."
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
4
15/04/1974

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